Quinta-feira, 1 de Outubro de 2009

5 anos de espera no Algarve

 

Chamo-me Ana e sou do Algarve, onde dizem que a adopção é muito mais rápida…
Depois de 2 abortos espontâneos, provocados por fibromiomas no útero e ao fim de muitos anos a sofrer, perdi o útero numa cirurgia. Antes da cirurgia decidimos seguir o espinhoso caminho da adopção.
 
Em finais de 2004, tinha eu 37 anos e o meu marido 29, ficamos com o nosso processo concluído, na altura ficou estabelecido que dávamos preferência a uma criança até 3 anos, caucasiana, sem problemas de saúde e do sexo feminino.
Passado pouco tempo, alteramos o critério do sexo, que seria irrelevante!
 
Neste espaço de tempo, tive alturas em que liguei várias vezes para a equipa de adopção e enviei cartas, sem ter sido dadas quaisquer respostas e tive um período de 2 anos em que não tivemos qualquer contacto com a mesma equipa.
 
Quando telefonamos, o leque de respostas é pouco variado:
“- Não temos tido crianças com esses critérios!” ou “- As características da vossa família não correspondem às necessidades das crianças que têm aparecido!”
 
Em Maio deste ano, alteramos o critério da idade, passou a ser até 5 anos, até à data continuamos à espera que o telefone toque, para entrega de criança.

Quase todos os dias tenho conhecimento de casais mais novos que têm adoptado aqui no Algarve e pelo país fora, crianças com as características pretendidas por nós e sinto-me tratado como cidadã de 2ª, discriminada pela minha idade, se assim é, porque é que não dizem logo nas entrevistas, antes do processo estar concluído, que nunca nos irão entregar uma criança com essas características?
 
Seria muito mais honesto para com estes casais que já sofreram tanto na vida!
 
Ana Dias
 
publicado por Mara_Liza às 12:51
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Quinta-feira, 3 de Setembro de 2009

As marcas que não se vêem

Ele pode não ter muita consciência do seu passado, talvez o leve autismo diagnosticado e a sua não consciência do tempo não lhe permita muito, talvez o seu discurso ainda por vez meio incoerente apesar dos seus quase 10 anos não permita que se expresse mais vezes sobre o tema de uma forma perceptível, mas o certo é que as marcas estão lá, aparecem em forma de flashes, frases ditas no meio de conversas que nada têm a ver e que rapidamente se dissipam com a distracção por qualquer movimento que haja a seu redor.
 
Com a mão junto ao coração ele disse:
G. – Os meus pais velhos arranjaram outro filho…
Eu –Quem te disse isso?
G. – Eu sinto isso cá dentro do meu peito…
 
Seguiu-se uns segundos de silêncio, talvez porque eu não esperasse que ele sentisse isso, talvez porque eu saiba que é a mais pura das verdades o seu sentimento…
 
Eu – G. tu és único, insubstituível e mesmo que haja outro filho, este não veio ocupar o teu lugar porque tu és um menino muito, muito especial.
 
Posso não conseguir apagar todas as suas marcas mas vou com certeza ampará-lo e ajudá-lo a viver com elas sem que isso lhe cause mais sofrimento.
sinto-me: Mãe
publicado por Mara_Liza às 17:53
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Terça-feira, 17 de Março de 2009

3 meses depois

 

Para quem não conhece a minha história, inicialmente o nosso processo de adopção continha várias restrições, sendo uma delas o limite de idade de 5 anos.
 
Como não era candidata singular todas as decisões estavam sujeitas a duas opiniões, por vezes diferentes. A primeira decisão resultou de um consenso inicial.
 
A partir daí tudo foi um crescimento gradual, o tempo passava, as crianças que tínhamos usado para “comparação” por causa das idades também foram crescendo, o nosso desejo de ser novamente pais também.
 
Talvez pelo facto de já ter passado pela gravidez de barriga (como eu costumo dizer) nunca senti necessidade de passar por todas as fases de crescimento de uma criança. Qualquer uma das fases me satisfazia, eu gostava de todas, todas eram especiais.
 
Depois havia aquela constante insatisfação pela minha decisão. Um sentimento talvez de frustração por saber que podia ir mais longe, que 5 anos de idade não eram o meu limite.
 
Procurei testemunhos de quem adoptou crianças mais velhinhas porque tinha medo da adaptação. Achava que devia ser bem pior que no caso de uma criança pequenina. Aquelas histórias de que vinham com vícios, etc colocavam-nos um pouco de pé atrás.
Depois havia o facto de eu não passar pelo inicio da fase escolar, pelo limpar do rabiosque, pelo assoar do nariz, pelas noites em que ele poderia correr para a minha cama e ficar agarradinho aos papás... aquelas coisas que eu achava que nos fazem amá-los.
 
Falei, discuti, argumentei, expus factos de que ia tendo conhecimento. Batalhei durante dias/semanas e confrontei a minha cara-metade com testemunhos até chegarmos a um novo consenso. Alteramos a candidatura para o limite de 7 anos de idade.
 
O G. entrou na nossa vida de uma forma menos usual, mas é certo que quando me falaram inicialmente dele existiu logo um “click”. Um misto de sensações porque estamos a ouvir uma pessoa a falar daquele que poderá ser o nosso filho!! A idade passou a não ter importância. O suposto filho que eu tanto queria tinha agora um nome.
 
A adaptação… Esse nome que eu tinha tanto receio, não houve. O G. entrou na nossa vida e foi como se ele lá estivesse estado sempre.
A N. de apenas 3 anos recebeu este irmão grande de braços abertos e a relação entre eles é intensa. A N. não o sentiu como uma ameaça, não houve ciúmes e o G. protege-a e mima-a imenso.
 
Apesar da idade eu levanto-me à mesma durante a noite quando os pesadelos e os medos dele resolvem aparecer, não perdi nada significativo da vida escolar e tenho-o a correr para a minha cama aos fins de semana com toda a naturalidade.
 
Hoje, não tenho duvidas que um processo de adopção é um processo de crescimento gradual, em que a cada testemunho, a cada relato, a cada conversa em grupo nós vamos crescendo, vamos alargando as possibilidades no nosso coração dentro dos limites de cada um de nós. E aqui nesta parte cada um tem o seu limite próprio.
 
Considerem este testemunho como um incentivo ao vosso crescimento pessoal.
 
O G. tem 9 anos e ainda é uma criança.
 
Mara
publicado por Mara_Liza às 17:32
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Segunda-feira, 7 de Julho de 2008

Sentimentos

 

(Imagem retirada da net)

 

 

Cumplicidade.
Alegria.
Entendimento.
Pureza.
Amor.

É este sentimento que quero na relação pais/filho quando chegar a nossa vez.


Estaria novamente a sonhar alto? Ou será isso que todos desejamos?


Não há um dia que não pense em ti, meu filho. Sim, porque sem saber se já nasceste já sinto que pertences a esta familia, que me pertences... e isto, não num sentido possessivo, mas sentimental que só quem vai adoptar ou já o fez consegue compreender.
 

Mãe do Coração

Esta criança esteve escondida no teu pensamento,
noite após noite, por anos a fio,
guardada na tua retina sem que nunca a tivesses visto.

Esta criança bendita, que foi escolhida por Deus e por ti,
para compartilhar de tua vida, nunca sofrerá,
ficará triste ou chorará por desamor ou abandono,
pois existe alguém especial, um anjo,
que o destino colocou em seu caminho
para lhe suprir as carências, lhe amar, dar carinho.
Ela foi abençoada.

Não foi gerada por ti,
não foi esperada por nove meses,
não veio de dentro de tuas entranhas,
mas veio de algo muito maior:
um amor enorme que tinhas para compartilhar
com ela e com o mundo.

Não adotastes simplesmente; ele é teu filho,
filho do imenso carinho que tens para dar,
da tua capacidade de doação,
da abnegação,
do desejo sofrido e ao mesmo tempo esperançoso que tiveste
de um dia cuidar e de ouvir alguém
te chamando de “mãe”.

Será um filho de noites em claro,
de preocupações,
de alegrias,
de dias de chuva,
de dias de sol.
Será filho de tristezas,
de sonhos, de esperanças
e de dedicação,
pois tens por ele o mesmo carinho que terias
por um filho do teu sangue.

Esta criança veio de onde quer que seja,
predestinada para ti.
Apenas nasceu de outra mulher,
pois nada acontece por acaso,
mas o destino dela eram os teus braços e teu desvelo.

Ela foi gerada dentro do teu coração
porque, provavelmente, merecia uma mãe tão especial quanto tu !!!

 

P.s.1 Poema "Mãe do Coração" retirado da net e publicado em Eu quero adoptar a 12/Junho

P.s.2 Post publicado em Eu quero adoptar a 4/Julho

 

Mara Liza

 

publicado por Mara_Liza às 09:21
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Segunda-feira, 23 de Junho de 2008

Uma ansiosa espera!

Nasceu a N. da minha barriga, agora irá nascer um mano de outra barriga, mas que crescerá nos nossos corações. Filho… A tua família espera por ti!!

 
 
A ansiedade mora connosco. A partir do momento em que a decisão de não termos mais filhos biológicos mas sim adoptados entrou na nossa vida vivemos numa constante mistura de sentimentos.
Da ansiedade de reunir os papéis, das entrevistas com psicólogas e assistentes sociais, da visita domiciliária até certificado em como fomos dados como casal adoptante.
 
O “mano” é presença constante nas nossas conversas daí surge a ansiedade…
 
Em nós, que em cada parque infantil ficamos a olhar para esta ou aquela criança a pensar se será assim o nosso filho… Com que idade virá? Será que já nasceu? Mil e uma questão nos passam pela cabeça…
 
Por vezes tenho receio de criar muita ansiedade na N. com a chegada de um mano, se por um lado as suas observações são prova que ela também quer que o mano chegue depressa, por outro parece que a estou a "enganar" porque afinal ainda falta outra vida dela para ele chegar...

Do nada ela sai-se com estas observações:

Um dia a brincar no quintal:

N. - O mano depois vem... e diz "só um bocadinho" depois a mamã deixa o mano ir ao quintal!
Eu - Pois deixa, a mãe deixa...
N. - O mano não tem fato de treino...
Eu - Depois a mãe compra...
N. - O mano não tem, depois mãe compra, depois mano tem!

Preocupa-a o facto de o mano não ter nada lá em casa...Ao inicio era porque o mano não tinha mochila....


Um dia na rua após passar por cão deitado à porta de uma casa:
 
N. – Mamã… eu não quero um cão, quero um mano!
 
Ficamos sem palavras e sorrimos um para o outro, de facto o papá também pensa o mesmo!!
 
Por diversas ocasiões:
 
N. - O mano tá demorado....

Pois, esta como é culpa minha eu fico sem resposta...Passo a vida a dizer que ainda demora.
 
Independentemente de tudo queremos ser felizes e demore o tempo que demorar esperaremos por um filho/mano e afastaremos da nossa vida todos aqueles que tratarem de diferente modo os nossos filhos.
 

“O segredo do amor, eu agora sabia: muito mais que o que gera, mãe e pai é quem cria.” 

(retirado algures na net)

 

 

 

 

 
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publicado por Mara_Liza às 10:35
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