Conversa do meu filho de 4 anos:
- Mãe, o que é o dia 13 de Junho?
- É o dia do Stº António.
- Quem é o Stº António?
- É um santo que tem fama de ser casamenteiro, o que significa que ajuda a arranjar namorados ou namoradas. A mãe deitou uma moeda numa fonte desse santo e depois começou a namorar o teu pai... (risos)
- E eu também posso deitar uma moeda e pedir um desejo?
- Oh filho, não me parece que precises de pedir mais uma namorada, porque já tens 3 e elas já te devem dar que fazer...
- Mas como é que eu posso pedir um desejo?
- Olha, podes pedir um desejo a uma estrela. A mãe estava no Algarve e viu uma estrela cadente, pediu um filhote e depois apareceste tu... (parece que tudo o que mais desejei pedi a 3º, tipo milagre, não parece?)
- Mas mãe, agora não há estrelas, só à noite...
- Então logo à noite vamos à janela, procuramos a estrela mais brilhante e tu pedes um desejo. Mas que queres tu assim tanto e que é assim tão importante para ti, para pedir um desejo???? Posso saber????
- Queria pedir um mano...
- Um mano????
- Sim, um mano para brincar comigo, mas também pode ser uma mana.
- E sabes que se tiveres um mano tens de deixa-lo brincar com os teus brinquedos...
- Eu deixo, mãe, eu deixo!
- ...e tem de ver discos de bonecos e às vezes escolhe ele e outras vezes escolhes tu...
- (pausa) está bem, pode ser... (com ar pouco convencido)
- ... e a mãe tem de dar miminhos e atenção aos 2...
- Eu sei que tu consegues, mamã, tu és capaz de dar miminhos aos 2...
- E se fosse um irmão ou uma irmã mais crescidos, que não fossem bebés? Mas mais novos que tu, claro.
- E como pode ser isso, mamã?
- Sabes, existem meninos que não tem pai nem mãe. Podemos ir buscar um desses meninos e ele ou ela eram o teu mano ou a tua mana e eu podia ser a mamã deles e o teu pai o papá deles.
- E há meninos assim, sem pai nem mãe?
- Olha para mim, eu não tenho mamã nem papá, eles já morreram e foram para o Jesus.
- Mas tu és crescida...
- Isso não quer dizer nada, não é preciso ser-se crescido...
- E onde estão esses meninos?
- Então numa casa muito grande, à espera que uma mamã e um papá os vá buscar, gostavas de ir buscar lá um mano ou uma mana?
- Eu ia gostar muito, será que pode ser já no dia 13?
Eu perante esta conversa fiquei à beira das lágrimas. Nunca ele me tinha dito tão claramente que queria um mano, aliás muitas das vezes dizia que queria antes um gato ou um cão... Como lhe posso explicar que não lhe posso fazer a vontade de ter um mano? Que ele vai ser o único filho biológico que eu vou ter? Mas a esperança no filho do coração não acaba nunca!
Nesse dia à noite, procuramos a estrela mais brilhante no céu e de mãos dadas, dissemos os 2:
- Estrela, estrelinha, a mais linda a brilhar, faz com que o meu desejo, se venha a realizar
E o meu filhote, num sussurro, disse:
- Quero manos!
No dia 3 de Dezembro de 2007, pelas 14 horas e 30 minutos, recebi um telefonema de um nº que não identifiquei e quando atendi percebi que era da Segurança Social, da parte das Adopções. O meu coração ficou logo aos pulos para saber o que ia acontercer.
A senhora do outro lado do telefone, por sinal muito simpática, disse-me que tinha para nos propor uma situação de 2 irmãos, uma menina de 4 anos e um menino de 5. Estas idades saiam do intervalo de idades que nós tinhamos colocado no impresso de candidatura, mas logo na altura as assistentes sociais tinha dado a entender que era dificil darem-nos um bebé pequenino, devido à nossa idade.
Pedi um tempo para falar com o meu marido e estava mesmo a imaginar já tudo, mais 2 filhotes na minha vida,. que fantástico ia ser! Mas o meu marido é bem mais realista do que eu, disse que nesta altura do campeonato, em que estamos prestes a mudar de casa, ia ser dificil incluir mais 2 crianças na nossa vida, com todos os encargos que dai viriam, incluindo roupa (o JD é mais pequeno) e escola (será que conseguiamos coloca-los na mesma escola do Dinis a meio do ano ou iamos ter de andar a correr de um lado para o outro?). Ele tinha razão, tinha toda a razão, eu fiquei logo super entusiamada mas agora não era a altura ideal, com tantas despesas e mudanças que iam acontecer na nossa vida.
Telefonei para a assistente social e disse que não. Expliquei as razões, a mudança de casa, que tinhamos de pensar no nosso filho também. Ela ficou surprendida, não sabia que eu tinha um filho e disse que se soubesse não me tinha proposto estas 2 crianças, pois uma das regras é que o filho bilológico deve ser sempre o mais velho, para não desquilibrar o agregado familiar. Eu já tinha comunicado esta alteração, mas acho que se esqueceram de colocar no meu processo....
Perguntei se pelo facto de ter recusado 2 crianças iria se colocada de parte ou ia para o fim da fila de novo e ela disse que não, ficaria mais limitada a escolha por as crianças terem de ser mais novas que o Dinis, mas mais nada. Fiquei mais aliviada e convicta de que se tivesse aceitado a situação, ao saberem do meu menino, não me iriam entregar as 2 crianças. Mas não consigo deixar de pensar nelas, espero que venham a ter uns pais com tanto amor para lhes dar como o meu marido e eu teriamos para eles. Senti-me quase mãe de novo, entusiasmada e feliz.
Mas não posso impedir que as lágrimas me venham aos olhos quando penso nas crianças que não conheci mas das quais fui quase, quase mãe...
Tenho esperança que o dia em que o telefone toque novamente não demore muito, se não posso ter outro filho biológico, então que venha um do coração, que terá tanto amor à espera dele, que ele ou ela nem consegue imaginar. Filho, filha, estamos aqui à tua espera, não demores muito, está bem?
Sempre sonhei com uma casa cheia de risos e vozes de crianças. Casei com 26 anos e tanto eu comoo meu marido pensamos logo em aumentar a familia.
Masos filhos tão desejados não chegavam e a infertilidade atravessou-se no nosso caminho. Fiz vários tratamentospara tentar ter um filho biológico e um deles quase me deu a resposta aos meus pedidos. Fiquei gravida mas sofri um aborto espontâneo às 7 semanas.
A adopção já tinha sido falada entre mim e o meu marido, mas depois da perda do bebé tão desejado, resolvemos passar dos pensamentos às acções einscrevemo-nos na adopção.
Estavamos em 2002 e nessa altura o simples processo de selecção era muito demorado, pelo que depois das entrevistas com assistentes sociais, psicologas e visitas domiciliárias, fomos dados como aptos para adoptar em Janeiro de 2004.
Durante os primeiros tempos, estava sempre à espera que o telefone tocasse. Quando chegava a casa, ia logo ver o atendedor de chamadas, para ver se tinha novidades. Mas nada...
Em Maio de 2004 e após mais um tratamento fiquei gravida e desta vez correu tudo muitobem,o meu filho nasceu em Fevereiro de 2005. Tornei-me a pessoa mais feliz do mundo, ser mãe é algo que me completou, que me fez sentir realizada.
Mas a casa cheia de crianças ainda não existia e eu e o meu marido resolvemos que por termos um filho biológico não era razão para não termos um ou mais adoptados (porque dissemos que não nos importavamos que nos entregassem 2 irmãos).
O telefone já tocou uma vez e fui quase mãe pela 2ª vez, mas isso é outra história, que vos contarei noutro dia.
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