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A história das listas nacionais de adopção, tem dado muito que falar desde a sua constituição…Por um lado, os candidatos ouvem das suas equipas de adopção que não as utilizam, mas apenas utilizam as listas distritais, depois existe o poder politico, que jura a pés juntos que as listas nacionais funcionam (ver aqui) e que são umas das responsáveis pelo aumento das adopções em Portugal.
Mas deixo aqui sobre o assunto um testemunho encontrados no fórum da www.apfertelidade.org
RESPOSTA DA SS AO PEDIDO DE INFORMAÇÃO SOBRE O nº NA LISTA NACIONAL.
Encontram-se registados na Lista de Candidatos à Adopção Nacional Residentes em Portugal (CANRP) com o nº xxxxxxxxxxxx, criado em 17/04/2006 e no estado de "aguarda proposta".
" Relativamente à informação solicitada sobre o "lugar que ocupa" na CANRP, informamos que não é possível a este serviço dar uma resposta concreta, uma vez que a base de dados para a adopção, não foi concebida para a elaboração de um "ranking" dos candidatos à adopção em lista de espera, antes tem a finalidade prevista no artº 11º-B do DI nº 185/93, 22 de Maio, ou seja:
a)Identificar o candidato com as condições mais adequadas ao perfil da criança.
b) Identificar as crianças em situação de adaptabilidade.
c)Garantir uma maior equidade e transparência no processo de confiança do adoptado ao candidato a adoptante
d) Aumentar as possibilidades de adopção da criança, introduzindo maior celeridade nesse procedimento".
Patricia
Chamo-me Susana, somos um casal infértil jà hà 19 anos. Inscrevemo-nos na adopção em Março de 2004 para uma criança até 1 ano sem preferência de sexo, caucasiana, e sem problemas. Disseram-nos logo que era muto complicado, porque eu na altura tinha 34 anos e o meu marido 42 respectivamente.
Mesmo assim, passados 6 mêses o nosso processo estava concluido e estavamos aprovados para adoptar uma criança.
Desde essa altura e até 2008 a única palavra que tiveram conosco foi simplesmente uma carta que recebemos em 2006 a perguntarem se ainda estavamos interessados em mantermos o processo, obviamente que a resposta à carta foi afirmativa.
Em 2008 decidimos deslocarmo-nos à Segurança Social de Lisboa (minha área) para saber como estava a decorrer o nosso processo. Se quando me inscrevi a lista de espera estava em 4 a 5 anos, o que nos foi dito em 2008 é que as listas de espera estavam em 7 anos e que tinhamos que esperar, perguntei se podiamos alongar a idade da criança, foi-nos dito que não valia a pena, que quem espera 5 anos também espera mais 2.
Esperar...esperar...esperar...como se diz a um casal que espera 5 anos por um filho do coração para continuar a esperar?
Em Maio fiz uma carta ao Director da Segurança Social a pedir resposta em relação ao nosso processo. A resposta foi a mesma...7 anos de espera para uma criança no distrito de Lisboa.
Estou a pensar fazer um mail, mas sinceramente não sei se vale a pena.
Neste momento tenho 39 anos e o meu marido 48. Muito provavelmente outros casais já passaram à nossa frente porque são mais jovens, mas quando nos inscrevemos também eramos jovens...
Passaram 5 anos e meio, não sei quantos mais terão que passar...não sei se quando fizer os 7 anos de espera a lista não sobe para os 10...não sei...só sei que desejamos muito um filho, temos um amor imenso para dar, e sei que está uma criança algures à espera do nosso amor, mas sem saber muito bem porque é que nos nos privam dessa oportunidade.
Susana Pina
A Susana é a autora do Blog Sonho ter um Filho
Olá Amigos,
Porque o Mundo que temos hoje depende em muito de todos nós e da coragem e força que alguns de nós tem para arregaçar as mangas e defender certas causas, venho primeiro que tudo partilhar a existência de uma nova associação – Associação Meninos do Mundo, criada no fim de 2008.
O lema desta Associação é :
O que quer esta associação é que todas as crianças tenham o direito a uma família e para isso ajudam na Adopção Internacional.
Neste momento a Associação Meninos do Mundo, com o objectivo de obter fundos para a construção de um Centro de Apoio para crianças na ilha de Santo Antão em Cabo Verde, lançou a Campanha “De mãos dadas pelo Mundo”.
Esta Campanha consiste na venda de T-Shirts cujos fundos angariados reverterão para a construção da infraestrutura acima mencionada.
As T-Shirts em causa, cujo custo é de €10, serão produzidas nos tamanhos abaixo indicados sendo que, em anexo, junto uma fotografia das mesmas.
Referência Tamanho (*) Idade Criança
1 138 cm / 28 cm 2/3 anos
2 41 cm / 32 cm 3/4 anos
3 46 cm / 35 cm 5/6 anos
4-5 50 cm / 41 cm 7/8 anos
6-8 54 cm / 43 cm 9/10 anos
10-12 60 cm / 46 cm 12/14 anos
(*) Altura / Largura
Tamanho Adulto
Small , Medium , Large , XL
Para mais informações acerca da Campanha “De mãos dadas pelo Mundo” bem como do mencionado Centro de Apoio, poderão consultar o site em http://www.meninosdomundo.org/.
Considerando a proximidade do Dia Mundial da Criança, aqui fica esta mensagem para o caso de estarem interessados em adquirir as T-Shirts, pedindo ainda a vossa colaboração no sentido de divulgarem esta Campanha pelo maior número de pessoas possível.
"Dia Mundial da Criança - Testemunho de uma familia diferente
Desde sempre tive o desejo de adoptar uma criança. Sempre abominei a ideia de crianças a serem maltratadas, sem um lar, sem comida, sem carinho de qualquer espécie… enfim… sem AMOR.
Cedo me tentei informar de como fazê-lo… Bati a algumas portas, mas rapidamente percebi a triste realidade de que para adoptar sozinha teria de esperar pelos 30 anos.
Pouco depois de fazer 30 anos inscrevi-me numa lista de espera de adopção, na SS da minha área de residência. Nesta altura, pela primeira vez tive duvidas. Eu ia aceitar uma criança diferente… Será que eu era capaz? Desisti do processo…
Uns anos mais tarde, e depois de ter a certeza absoluta de que conseguiria ter um filho diferente, no dia 7 de Outubro de 2005, enviei a minha candidatura para a SS da área da minha residência.
O que é que eu pedia? Eu pedia uma criança até 3 anos, não interessava se menino ou menina, não importava etnia. Podia ter problemas, desde que não fosse deficiente profundo, não andasse em cadeira de rodas (moro num terceiro andar sem elevador) e não fosse
autista… no meu processo disse explicitamente que aceitava uma criança com Trissomia 21.
Em quatro meses fui considerada candidata individual apta e em menos de um ano apresentaram-me o processo do meu Tesourinho.
Do processo constava toda a história do Bruno: nasceu em 2003, tem cardiopatia (foi operado ao coração com 2 meses – meu pobre bebé), é portador de Trissomia 21 e na avaliação de desenvolvimento, realizada aos 31 meses, tinha apenas 19 meses de idade mental.
O processo não tinha fotos… o que eu dava para ver uma foto deste menino… juntar uma cara a tudo o que tinha lido…
As assistentes sociais perguntaram-me se eu queria ver fotos do menino. Eu disse que sim… se já me tinha apaixonado pela história dele, neste momento, interiormente, decidi que ele ia ser o meu filhote. No entanto, pedi um tempo para pensar em todo o processo do
menino e também para ver as reacções da família e amigos relativamente ao facto de o menino ter Trissomia 21.
As reacções da família não podiam ter sido piores… Foi talvez a semana mais difícil da minha vida… Com o apoio apenas de uma pessoa (que é hoje a Madrinha do meu menino).
Face a estas reacções pedi autorização para ver o menino antes de tomar a minha decisão definitiva. A autorização foi concedida e a visita agendada para o dia 03 de Outubro. Pedi à minha amiga que fosse comigo, para eu me sentir mais apoiada. Ela acedeu (obrigada Sandrinha)… A minha Mãe também fez questão de me acompanhar e eu não me opus…
Este foi talvez o meu maior erro… Fez e disse de tudo para que eu não quisesse o menino. Chegou finalmente a hora de conhecer o Bruno… Ele era tão lindo!!!
Tinha Trissomia 21, é verdade… Isso tornava-o especial… Adorei aquele menino…
No dia seguinte liguei para a SS a confirmar que este ia ser o meu FILHO. E pedi autorização para estar com ele no dia dos 3 aninhos dele (as visitas oficiais só começavam no dia 09 de Outubro).
No dia 6 fui convidada de honra da Ajuda de Berço para assistir à festinha de aniversário do meu filhote. Não me vou esquecer nunca do olhar desconfiado daquele menino para mim… O que é que esta estranha está aqui a fazer? Porque é que ela não para de olhar para mim? Porque é que ela me tira fotos? O que é que ela trás na mão? Uma prenda? Para mim? Imagino o que terá passado na cabecinha dele… As visitas duraram apenas três dias!!!
E ainda há quem diga que eles são diferentes… Nada disso… O meu menino (com Trissomia 21) apenas precisa do mesmo que todos os outros meninos: UM COLO, AMOR, CARINHO, MIMO, REGRAS, enfim… uma FAMILIA.
Era isto que eu me proponha a dar-lhe… E numa quinta-feira, no quarto dia de visitas, o Bruno veio para a sua casa.
Agora ele já não era só um menino com Trissomia 21. Era um menino com Trissomia 21 com uma família. Com uma família que o adora… Que o escolheu diferente dos outros por saber que embora diferente, o Tesourinho vai conseguir alcançar tudo o que quiser.
Por ter a certeza que ele vai conseguir ir longe, e com isto apenas quero dizer o mais longe que ele algum dia conseguir chegar. Vou adorá-lo sempre… independentemente de tudo…
Devo dizer-vos que, aos três anos de idade o Bruno ainda andava muito pouco, não sabia dar um beijo, mal dizia uma ou duas palavras que se entendessem, usava fraldas de dia e de noite, não demonstrava interesse por quase nada…
Hoje, com quatro anos e meio e há ano e meio com Mãe e Madrinha constantemente presentes e a ser constantemente estimulado, o Bruno dá os melhores beijinhos do mundo, corre, dá pontapés numa bola a correr, pula, dança, canta, já diz algumas palavras que qualquer comum mortal entende, à maneira dele, mas já começa a fazer frases (as preferidas dele são "bom dia Mamã / Madrinha"; "quero batatas e pão" e "quero pão com manteiga"), não usa fralda durante o dia desde Setembro do ano passado, já demonstra preferências por alguns desenhos animados, já pede alguns brinquedos na loja, já tem dois amigos preferidos (o Leandro e o Pedro), já pega num lápis sem ser obrigado e faz círculos, …
Claro que passei por todos os preconceitos que passa qualquer pessoa que tem um filho com Trissomia 21. A mim chegaram-me a dizer (alguém que tem um filho com Trissomia 21): "Nós não os queríamos ter e você vai buscar um… Porquê?"
Claro que já tive muitos problemas com escolas… Inclusive a escola onde o Bruno esteve no ano lectivo passado chegou a dizer à SS que eu era demasiado exigente com o menino e que o estimulava em demasia (elas tinham o menino numa sala com crianças de dois anos… claro que ele tinha de trabalhar em casa… o modelo dele eram crianças de 2 anos
e ele tinha 3…)
Nos dias 12 e 14 de Maio deste, o Bruno fez a avaliação (anual) de desenvolvimento. Fiquei tão orgulhosa do meu menino…Tal como diz a Mãe da Sara, para os nossos meninos, "o céu é o limite".
Maria João Pereira, mãe do Bruno"
http://otesourinho.blogspot.
Aqui a vai a entrevista que me foi feita por uma estudante de Comunicação social da Universidade de Coimbra:
Sabe porque razão foi para a adopção?
Fui para Adopção porque passei por um abandono e rejeição por parte da minha progenitora.
Com quatro anos sabia o que se passava, com todo o processo, mudança de casa e tudo o resto?
A forma como uma criança aos 4 anos vê e percebe a vida é um pouco menos simplista do que se possa pensar. Recordo-me de um dia em que ia de mão dada com a minha ama ao chegar à escola, olha para uma das meninas com que costumava brincar durante o dia que vinha de mão dada com a avó. E lembro-me de pensar porque não tinha eu uma avó e muito menos uma mãe. Tinha a noção que estava ali porque não tinha família, sentia-me triste com isso mas não percebia claramente os condicionalismos de tal vivência.
Quando lhe contaram que era adoptada?
Permita-me a (im)pertinência de a corrigir. Eu não era adoptada. Eu tinha sido adoptada. Hoje, eu Fui adoptada. Os tempos verbais e os conceitos fazem grande diferença no modo como vemos e catalogamos as coisas. O termo adoptado, é um momento, depois desse momento vem todo um processo, mais ou menos longo depende das particularidades de cada um.
Eu sempre soube que tinha uma vivência distinta. Talvez nos primeiros tempos tudo surgisse de forma meio enevoada e desconstruida ao nível da minha consciência, mas foi algo que tinha presente. Os meus pais sempre tiveram a inteligência de o abordar de forma clara e sem qualquer tipo de inibições. Não houve, por si só, uma revelação ou o dia D. Foi um processo de questionamento liberal sobre os Porquês? os Comos? e os Quandos?. Um processo adaptado à minha realidade etária.
Qual foi a sua reacção?
Não houve uma reacção, existiu sim uma crescimento pessoal que culminou na aceitação da rejeição como um fenómeno de responsabilidade não partilhada. Esse processo de maturação passou por fases de revolta, frustração, raiva, falta de amor próprio. Momentos esses necessários e plenos de normalidade. Foram-se intercruzando com os típicos momentos de desenvolvimento, com as minhas características pessoais e com as normas societais que regem o meu dia-a-dia. Não foi um momento de descoberta, foi um processo de descoberta e de busca interior. Intenso, por vezes perturbador mas muito enriquecedor e que dita a pessoa que gosto de ser hoje.
Por ser de origem africana alguma vez se sentiu discriminada?
Em nenhum momento senti alguma discriminação por ser de origem africana. Sublinho que os meus pais são os tipicos caucasianos aportuguesados e que há vinte anos eram pioneiros. em todo esta realidade. A discriminação vai acontecendo todos os dias em que me dizem " e os teus verdadeiros pais? Não os queres conhecer". Está implícita naquilo que socialmente está normatizado para o que é, de facto, uma familia e especialmente para aquilo que não é. Hoje em dia começa a ser até bem visto a tipica familia benetton, o problema é quando se fala de crianças das crianças ditas pretas retintas. Arrepia-me a espinha quando oiço dizer " Ai como eu adorava ter um filhinho chinesinho"... é a familia como o espelho da consciência estética societal. Uma criança é uma criança em qualquer parte do mundo. Amarelo, branco, vermelho, assim-assim ou preto retinto.
Conhece a sua família biológica? Ou gostaria de conhecer por curiosidade? Porquê?
Nunca tive qualquer contacto com a minha familia biológica. Com a excepção do meu irmão, com quem partilho o tal principio de consanguinidade. O desejo de conhecer a minha familia biologica centrou-se apenas nos meus irmãos e não por uma questão de identificação mas sim de um sentimento de co-responsabilidade perante o desfasamento entre o que eles mereciam ter e as oportunidades das quais eu usufruia. Sentia-me simultaneamente responsavel e culpada pelo que não lhes acontecera e vivia a debater-me com esse sentimento misto de impotência. Foi algo que consegui resolver internamente quando me consegui libertar do contracenso de acreditar no valor pleno dos laços de amor e no valor imposto pela superioridade genética defendida pela sociedade em que habito.
Adoptaria um dia uma criança?
Eu desejo com todo o coração ser mãe. Como me assumo defensora dos laços de amor e tenho os braços abertos para quem neles procurar colo e um simples " amo-te de coração" é claro que pretendo um dia recorrer à adopção. Espero que nesse dia à espera não seja tão longa como hoje em dia.
Como psicóloga acha que o meio envolvente e o modo como é criada uma criança pode "apagar" os vestígios dos maus tratos passados, se for o caso?
O contexto é uma fonte de dor mas é também uma fonte de cicatrização. O principio é o de que nada há para apagar. Tudo faz parte de nós, porque somos individuos inteiros, e o tempo é um processo continuo que não deve ser refractado em presente, passado e futuro. Somos unos, e nesse unidade devemos compreender, integrar e viver em paz como o que Somos. A educação é uma forma de amor e o amor que se encontra após o temporal da rejeição e do abandono no seio de uma familia intencional e conscientemente vocacionada para o amor são fundamentais. Eu não tenho a pretensão de apagar seja o que for na minha história porque ela faz demim a pessoa em que me transformei hoje e faz-me transbordar de amor de cada vez que olha para familias que passaram como eu por este processo e que são como um espelho demim e da minha familia. Também elas não têm a pretensão de apagar nada. Porque não há nada para apagar, tudo há para amar.
Como pode o amor disciplinar uma criança?
O amor disciplina na sua incondicionalidade. Na aceitação das intempéries, das virtudes e das particularidades de cada um. Disciplina na aceitação da imperfeição. E ama-se assim. É assim que estes pais amam todos os dias. Incondicionalmente. Nos momentos mais devastadores, nos momentos de maior ternura. É assim que se disciplina. Com amor. E estes pais, estas familias estão especialmente vocacionadas para a cura através do amor. Porque é ele a sua maior ferramenta. Porque tudo o que fazem, as decisões, os momentos de espera e de aflição, as gravidezes que se prolongam durante anos, os processos de avaliação a que se sujeitam só o fazem porque têm amor para disciplinar, para crescerem e ajudarem a crescer.
Qual o momento adequado para contar a uma criança que é adoptada?
Desde sempre. A camuflagem devirtua a verdade e a vivência que cada um faz dela. Negativiza, cria gaps de comunicação. E mais uma vez chamo a atenção para a utilização do tempo verbal. O processo de adopção termina quando se atinge um estado de vinculação. Estas crianças são filhas no coração desde sempre. Antes de ser já eram. O tabus, as meias-verdades envenenam a relação. Retiram-lhe a base de segurança que devem ostentar. Claro que deverá sempre existir um cuidado quanto à forma como se vai gerindo e respondendo às questões, devendo existir um ajustamento à particularidade da criança em causa. À idade, ao momento de maturação, às suas fragilidades. A informação deve ser indo gerida com cuidado mas sempre, sempre com verdade.
Como é que um adoptante deve encarar todo o processo?
Com persistência, com resiliência. E esse principio de resiliência aprende-a todos os dias com estas crianças, que são o maior exemplo de resiliência que a sociedade conhece. É um processo adaptado à realidade cada um e às particularidades de cada familia. O amor trabalha-se. O amor vive-se dia-a-dia. Nem sempre se vive um amor à primeira vista. Não romantizemos as coisas. E nada nisso há de errado. O amor constrói-se na vivência partilhada. Por isso vivam com paciência, com paz de espírito e com amor. Munam-se de informação, criem uma boa rede de apoio social e combatam o isolamento.
Concorda que o período de acolhimento é a fase mais importante de todo o processo? Porquê?
Todas as fases do processo têm a sua relevância. E todas elas devem ser bem conseguidas porque só aumentam a probabilidade de obtenção de um processo de adopção de sucesso. E o que sucede é que se continuam a ter bases de apoio deficitárias e a passarem-se muitas vezes por processos ansiosos e de alguma escuridão. Isso também dita o processo de acolhimento. O processo de acolhimento não pode ser visto como determinista. Os passos dados por ambos os lados - os adultos e a criança - são ainda artificiais no seu cuidado e no estudo da natureza do outro. Não considero que hajam momentos mais importantes que outros, tudo faz parte do processo, embora seja esta fase talvez a de maior proximidade e mais preditiva ao nível da concretização da adopção. Mas há que ter cuidado aquando da análise deste periodo e não cair em reducionismos limitadores.
SU
Publicado originalmente no blog: Wake up Little Susie
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Em Setúbal o tempo não está a ser cumprido e no resto do país ?
A minha própria experiencia, leva-me a afirmar que em Setúbal o tempo de 6 meses estipulado por lei para se avaliar os candidatos à adopção não está a ser cumprido.
E no resto do País como estamos?
Deixe aqui o seu testemunho!
Hoje é dia em que se cumpre um sonho antigo.
Hoje é dia em que a minha família vai ficar completa.
Hoje é dia de alegria e felicidade.
Hoje é dia do G. vir morar connosco.
O amor que eu sinto por este menino é muito, muito grande.
Não consigo escrever muito mais hoje.
O meu filho vem morar connosco!!!
Mara
P.S o sonho antigo...descrito em: http://nosadoptamos.blogs.sapo.pt/1023.h
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Imagine que um dia é acometido de um forte e incontrolável desejo de ser pai ou mãe em Portugal, por processos que nada têm a ver com os biológicos. Nada mais perigoso. Esse ímpeto, normalmente entendido como um sinal de generosidade e afectividade, é no nosso país convertido numa força maligna que se vira contra a vida dos sujeitos donde parte, os quais rapidamente se transformam num número de ordem numa lista secreta e macabra que parece ter por fim retirar anos de existência a um conjunto de seres que dela depende. O número do ano em que tomou essa decisão é ele mesmo negro. Pode ser 2001, 1998 e até 1996. Sim, há mais de onze anos que potenciais candidatos a exercerem a sua paternidade aguardam ainda pelo facto extraordinário de se tornarem pais, que no nosso país é quase um fenómeno sobrenatural. Para que este aconteça, os profissionais envolvidos no processo aconselham os candidatos a terem muita fé e crença, como se estes dependessem dos poderes especiais de alguma entidade divina. Embora muitos deles não percam o seu fervor religioso, todos os potenciais candidatos perdem algo muito importante e real: anos de vida. Numa inexplicável espera, desperdiçam-se anos de afecto, partilha e convivência que provocam danos físicos e psíquicos irreparáveis. Para não os provocar, necessário seria que tanto crianças como pais não fossem humanas. Só assim seria possível resistir a um processo de adopção que ainda não entendeu que o melhor método de o tornar eficaz é simplesmente não criar problemas onde eles não existem e confrontar-se com as gravidades que ignora. Algumas delas encontram-se nas estatísticas assustadoras que referem os milhares de crianças que resistem encarceradas nas várias instituições, à espera de adopção. Segundo fontes oficiais, apenas 305 crianças portuguesas das 15 mil a viver em instituições estão aptas para serem adoptadas. Em 2006, 1.933 candidatos a pais adoptivos tinham já sido avaliados pelos serviços da Segurança Social e estavam em condições de adoptar, contudo mais de 400 continua ainda em lista de espera desde 2003. No entanto, estes dados não são suficientes. Há sempre aqueles que não acreditam em estatísticas, ou se as reconhecem, assumem que afinal quem tem parte da culpa são exactamente os candidatos a pais que se recusam a adoptar crianças com mais de três anos de idade, pois nas histórias de terror há sempre reversões de papéis em que muitas vítimas se transformam em vilões. A verdade é que tal não pareceria uma opção malévola, se o sistema tivesse a seu tempo resolvido, com a celeridade devida, todos os processos, impedindo que qualquer criança ficasse nas instituições de acolhimento para além dos três anos de idade.
A esta evidência de erro processual juntam-se outras, como é o caso da resposta à questão nº 32 do formulário do questionário individual à adopção, que requer resposta à seguinte pergunta: “Quando pensa na adopção idealiza uma criança com que idade, sexo e etnia?”. Se o candidato for totalmente sincero para com os seus ideais, arrisca-se a permanecer em lista de espera eternamente, como alguém que joga num jogo de sorte e nunca vê contemplado o número em que apostou. Se tiver idealizado uma menina até 4 anos e mais tarde surgir um rapaz de 5, ninguém o contactará, pois o técnico responsável passará para o candidato seguinte, alegando que essa criança não fazia parte do seu projecto de vida, e como tal não lhe seria adequada. E assim se arrastam infinitamente muitas candidaturas a pais que dependem de um processo rígido e formatado para parecer objectivo e rigoroso, mas que acaba por ser profundamente cruel e obtuso nos seus métodos, sendo totalmente desprovido de flexibilidade mental, inteligência emocional e sentido de urgência que as situações exigem. Tanto quanto sei, a existência de filhos de pais biológicos nunca dependeu deste tipo de questões, pois se o dependesse depressa baixariam drasticamente as taxas de natalidade. Este facto deveria ser mais considerado no sistema de adopção, sobretudo quando se detém excessivamente nesse conceito de “ideal” aplicando-o também à selecção de pais para as crianças, pois essa mesma fixação numa utopia, desactualizada e desajustada da realidade, é responsável por se continuar a preferir casais a candidatos singulares, ignorando completamente certos estudos sérios sobre a matérias (1) que, atentos às reais disfuncionalidades das famílias tradicionais, vêm comprovar o sucesso da adopção por esta espécie de candidatos detentores de uma maior resistência e confiança em enfrentar dificuldades, sendo igualmente possuidores de uma qualidade da componente afectiva preservada pela serenidade do clima familiar que proporcionam, o que permitiu afirmar a Eduardo de Sá, em “ A Família por dentro e por fora”, que “uma família onde só a mãe ou só o pai desempenham uma função educativa pode ser, e é-o em muitas circunstâncias, uma família melhor que muitas ditas tradicionais.”(p.13 Xis, 2003). Tudo isto para dizer que, se existe uma lista ordenada de candidaturas, essa ordenação deveria ser respeitada independentemente das características dos candidatos e de algumas das suas preferências de maior pormenor, as quais só deveriam servir para traçar um perfil dos seus desejos, útil em certos casos, mas não para vinculação definitiva a uma opção que poderá nunca concretizar-se na prática, pois como sabemos a realidade nem sempre corresponde aos nossos sonhos e não será por isso que alguém se tornará num mau pai ou mãe, já que neste, como noutros aspectos, os pais adoptivos não são menos humanos do que os pais biológicos, sendo bom não esquecer que ambos pertencem à mesma espécie.
Deste facto se esquecem muitas vezes os técnicos responsáveis, eles próprios também sujeitos a um inoperante mecanismo burocrático que os impede muitas vezes de se lembrarem da sua humanidade. Com imensos casos para darem resposta, detêm em seu poder uma lista ordenada de candidaturas que os próprios candidatos desconhecem ignorando a sua posição e evolução da mesma, assim como os critérios de selecção a que obedecem. Presos em difíceis decisões em que imperam critérios subjectivos e estereotipados, que os fazem preferir casais a candidatos singulares, indivíduos do sexo feminino aos do sexo masculino, candidatos mais jovens a outros mais velhos, etc, certos profissionais responsáveis pela adopção, não assumem, na maior parte das vezes, esta responsabilidade, atribuindo aos tribunais a razão da lentidão dos processos e às instituições de acolhimento o motivo de certas preferências de selecção. Se questionarmos o outro lado, dir-nos-ão exactamente o inverso e assim se mantêm ad eternum muitos candidatos, cuja única culpa que sentem possuírem é a de necessitarem candidatar-se a tão absurdo e injusto impasse. Para minorar este compasso de espera, é-lhes agora sugerido alguns momentos de paciente e pedagógica leitura, pois será lançado, até ao final do ano, um manual de formação para quem queira adoptar uma criança. Com todo o devido respeito pela intenção de esclarecimento e futura utilidade desta obra, lembro que nenhum pai ou mãe biológicos são obrigados a ler um livro de instruções para assumirem a sua paternidade, podendo-se até concordar que em muitos casos tal devesse ser obrigatório, devendo todos os casais receber no acto matrimonial uma lista bibliográfica de leituras extensivas. Mas a verdadeira razão de ser desta obra prende-se não só com o desconhecimento do lado negro processual do sistema de adopção, mas essencialmente com a sua ineficácia. Sendo eficaz, o sistema não necessitaria de uma publicação que deverá alertar os candidatos para alguns dos seus erros mais comuns, não se assumindo que esses erros são eles próprios decorrentes de processos mal orientados e da falta de verificação e fiscalização na aplicação de novas leis e medidas. Como exemplo, poderá dar-se a renitência à utilização de uma rede nacional de dados (concebida em 2003), mas a que a maior parte das delegações da Segurança Social pouco recorrem, por afirmarem provocar trocas de crianças de zonas onde as técnicas melhor as conhecem para poderem proceder a esse acompanhamento. Assim, um menino que esteja numa instituição de acolhimento na Guarda, não pode ser adoptado por um candidato de Azambuja, porque os seus dados biográficos são demasiadamente preciosos para serem enviados por correio e as informações sobre o seu comportamento demasiado secretas para serem transmitidas via fax, telefone, correio electrónico ou vídeo-conferência. E mais uma vez se verifica que o excesso de zelo e o medo de acusações, por falta de rigor ou competência, conduz a um efeito ainda mais negativo que a falta dessas mesmas qualidades éticas e profissionais.
Até que todo o sistema se regule de acordo com novas decisões que foram legisladas, mas que dificilmente têm sido postas em prática, as escolhas dos próprios candidatos serão também usadas como um álibi, que justifica a incapacidade de regulação de processos cujos efeitos perversos parecem ter escapado totalmente ao controlo dos profissionais envolvidos, qual monstro incapaz de obedecer ao seu próprio criador. Até se atingir uma gestão mais eficaz do sistema, que se acredita desejada por todos os responsáveis, ter-se-á de conviver ainda com mentalidades fechadas, lentidão judicial, falta de dinamismo dos serviços, leis que não zelam pela sua aplicação, e outros demais obstáculos que se têm transformado em instrumentos de tortura destinados a impedir a felicidade de muitas crianças e de seus possíveis pais, que dificilmente vêm essa possibilidade realizar-se numa fase da vida em que ainda mantenham todas as suas capacidades físicas e psíquicas, que possuíam na sua data de candidatura. É que para se ser candidato a pai em Portugal, melhor seria não pertencer à espécie humana. As crianças também teriam vantagem em serem de outro mundo, como nos filmes de John Carpenter. Todas teriam cabelo branco, não envelheceriam e seriam de uma perversidade tão genuína que as tornaria imunes a qualquer tipo de maldade que sobre elas recaísse. Só este elevado grau de inumanidade poderá resistir a um sistema profundamente inumano, onde a vontade e a exigência de mudança não tem sido suficientemente forte para impedir que a maior parte dos seres nele envolvidos não continuem a viver uma história de perigo e perseguição por forças difíceis de nomear, como muito desse mal que a autora de Harry Potter viu personificado em Valdemor, e cuja presença é demasiado real e não imaginada, para muitas crianças presas num sistema gótico de adopção, embora todas elas tenham direito a acreditar que a vida não está somente repleta de factos e seres inomináveis. Os candidatos a pais também gostariam de acreditar nisso, mas para tal será necessário combater a magia negra na qual se encontram presos, de uma forma mais eficaz que certas leis, aparentemente tão mágicas como varinhas de condão, mas que, se não contarem com a inteligência, sensibilidade, coragem, sentido de responsabilidade e bom senso, apenas contribuirão para os manter petrificados como mudas estátuas que o tempo se encarregará de desgastar.
Maria Antónia Lima
Professora Universitária
(Universidade de Évora)
1 - Ver Sá, E.; Cunha, M. J. (1996) Abandono e Adopção – O Nascimento da Família, Coimbra, Almedina.
Há algo que sempre causa grande ansiedade quando se fala de adopção: a relação emocional da criança que FOI adoptada com aquilo a - muitas vezes fantasiada - familia biológica. Parece-me até que que é uma fonte de ansiedade generalizada a todos os que ponderam avançar para este processo, ou que já s embrenharam nesta aventura de ser pais. Portanto e porque considero importante diversificar a partilha das experiências e vivências do outro lado do espelho - da criança - hoje insurge-se-me palrar sobr este tema.
Susana
Publicado originalmente no blog http://wakeuplittlesusy.blogs.sapo.pt/
(Susana..e que tal dares um nome ao blog?) :-)
Está a decorrer o 1º Congresso internacional sobre a adopção…e este evento deu origem a um conjunto de noticias sobre o estado da adopção em Portugal nos vários meios de comunicação….E tantas poucas verdades se contam…
Vejamos a noticia que saiu no publico e que podem ler na integra aqui
“O Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social garantiu hoje que as Listas Nacionais de Adopção, em vigor desde Junho de 2006, tornam processo mais rápido.”
COMO ?
- Se são as próprias técnicas que admitem que não usam a lista. Que entregam as “suas crianças” aos “seus candidatos”.
- Conhecem alguma técnica das equipas de adopção que afirme que usa a lista nacional como ferramenta de trabalho?
- Se existem crianças que o seu projecto de vida foi alterado e tal alteração não foi reflectida na lista nacional.
- Se aos candidato não lhes é dado a conhecer o seu numero de registo na lista nacional, nem o conteúdo do seu registo.
“Apesar das Listas Nacionais não serem uma fórmula milagrosa, o ministro Vieira da Silva defende que permitem reforçar as possibilidades de se encontrar candidatos adequados para todas as crianças, e promovem a rapidez das adopções.”
- Então como é que existem crianças que estão há espera um ano ou mais, quando existem candidatos aprovados que estão dispostos a receber estas crianças ?
- Mas se na lista não consta a etnia da criança e este é um elemento que afasta muito candidatos…Como é que através da lista conseguimos saber se aquela criança A, satisfaz os requisitos dos candidatos B. Mais uma hipocrisia! Ou aceitamos que os candidatos façam restrições à raça/etnia da crianças que querem como filho e colocamos essa informação na base de dados, ou se viola a nossa constituição colocar essa informação numa base de dados, então também viola a nossa constituição permitir que os candidatos façam essa distinção.
“Segundo o ministro, as listas nacionais de adopção revelam que a grande maioria dos candidatos (2176 de um total de 2227) pretendem crianças até aos três anos de idade e apenas 407 crianças adoptáveis se encontram nesta faixa etária.”
- Bem, alguém não sabe ler os números! O que acontece é que existem 2227 candidatos que aceitam crianças até aos 3 anos. O que é bastante diferente de aceitarem só até aos 3 anos. O que acontece é que existem 51 candidatos que apenas aceitam crianças acima dos 3 anos!
“Por outro lado, referiu, apenas 152 candidatos não se importariam de adoptar crianças com pequenos problemas de saúde, embora existam 292 menores com estas características”
- Mas então se existem 152 candidatos que as aceitam…porque continuam 292 crianças por adoptar e não estão já adoptadas?
Porque o processo de avaliação está a chegar ao fim, e porque tenho lido certos posts e comentários que me desinquietam, vou expressar a minha opinião, pública e abertamente acerca da famosa questão da idade das crianças.
Não tenho por hábito envolver-me em discussões de certos assuntos online, especialmente quando percebo que são um tanto ou quanto polémicas, porque há por ai muito boa gente que como está a comentar sem dar a cara diz o que lhe apetece sem pensar que quem está do outro lado pode estar a falar a sério de um assunto sensível.
Eu penso que opiniões são exactamente isso, meras opiniões, pessoais, divergentes, mas se queremos que as oiçam e percebam, também devemos saber ouvir e respeitar as outras, antes de atirar pedras sem tentar perceber o outro lado. Não quero ser mal interpretada, pois por vezes o simples facto de ser um comentário escrito, pode também levar a falsas e diferentes interpretações, consoante quem lê, mas vou tentar ser o mais clara e sincera possivel.
Ora porque hei-de eu, nós, e muitos outros casais que decidem nobremente adoptar uma criança, ter que justificar ou ser intitulados de egoístas, quando decidimos adoptar uma criança até 3 anos?
Não sou hipócrita, penso que o simples facto de decidir adoptar é um acto de amor e as decisões que cada um faz quanto à criança “desejada” só dizem respeito ao casal em questão, e se assim o decidem é porque com toda a certeza, falaram e pensaram devidamente no assunto, nas consequências das várias opções e em todos ou quase todos os detalhes do processo. Não tenho que me explicar nem às minhas decisões, mas estou cansada de ver críticas em muitos comentários por ai espalhados, e vejo que há alguma falta de compreensão, por isso gostaria de explicar um pouco do meu lado.
Falo por mim, por nós casal, que incapacitados de gerar um filho biológico, vemos na adopção a nossa única alternativa. Devo ser recriminada por desejar uma criança mais nova para poder acompanhar o máximo possível do crescimento dela?
Obviamente que isto não significa que as crianças mais velhas não mereçam ou não nos dêem o mesmo amor que as outras, porém existem outros casais com características diferentes e objectivos diferentes que muitas vezes até já tem filhos e escolhem crianças com idades acima destas. Devo dizer que as assistentes sociais ou psicólogas tiveram um papel fundamental e foram deveras esclarecedoras, porque nos explicaram exactamente isso, tudo tem a ver com expectativas, e é importante perceber quais são as expectativas do casal, e garantir que estas vão de encontro ao melhor interesse da criança. Nós enquanto casal, ficamos a saber que estamos entre os mais novos, senão os mais novos do distrito. A maior parte dos casais inscritos estão na faixa dos 35 aos 45 anos. E que, quando o casal já tem filhos, muitas vezes já não sente necessidade de experienciar os primeiros passos da criança e desejam crianças mais velhinhas. Mas que no nosso caso e dos casais na nossa faixa etária, que ainda não tem filhos, normalmente são atribuídas crianças mais novas. O facto da maior parte dos casais terem preferência por crianças mais novas, deve-se também ao facto da infertilidade ser a causa número 1 da decisão de inicio do processo de adopção, estes casais que se sentem mutilados pela infertilidade já sofreram que baste e também tem direito de sonhar, vendo na adopção muitas vezes a única “solução”.
O mesmo digo em relação à adopção de crianças de outra raça (que por acaso não colocamos qualquer restrição nesse sentido), mas no entanto fomos aconselhados pelas responsáveis do processo a repensar e ponderar de modo a ter a certeza acerca do assunto. Foram-nos expostas várias questões e situações que surgem com a adopção de uma criança de outra raça, e que apesar de para nós não ser problema, outros casais podem não lidar tão bem com isso. E não podemos tomar uma decisão importante, como é a vida de uma criança de ânimo leve sem pensar nos desafios do futuro. Um casal que não se sinta preparado para isso não é necessariamente racista, e não deixa de ser nobre a decisão de adoptar, só por essa escolha.
Provavelmente já falei demais, não quero parecer revoltada nem chateada com nada nem ninguém, porém penso que é importante falar destas escolhas e decisões, porque se pode existir uma minoria de pessoas que insensivelmente vêem a adopção como moda ou como uma escolha de prateleira, há outras como eu que vêem nisso um projecto para a vida, que como tal deve ser ponderado ao pormenor.
E já que o destino me incapacitou de gerar um filho, porque não hei-de encontrar o meu sonho noutro caminho?
Post da Ana, publicado inicialmente no blog Sonhando Acordada
PS:Ana, desculpa, mas o SAPO nãp gostou das imagens que tinhas no post e tive de improvisar.
Uma das questões que me colocam muitas vezes, e que já vi colocada por alguém que já tinha sido aprovado para adopção, é a questão da entrega da criança. A maioria das pessoas acha que um processo de adopção é muito demorado devido às burocracias, na verdade actualmente a maioria dos processos fica concluído dentro do prazo legal de seis meses. Como já disse aqui, o que faz demorar os processos de adopção é o facto de haver muito mais candidatos para adoptar que crianças em condição de ser adoptadas.
Existem em Portugal uma serie de mitos relacionados com a adopção, sinto isso cada vez que falo com alguém sobre o assunto, cada vez que recebo um mail de alguém e mesmo de muitos dos comentários que me deixam aqui ou no nos adoptamos, o mais incrível é que mesmo muitas das pessoas que passam pelo processo de avaliação continuam a acreditar nesses mitos.... e a alimentá-los.
Hoje foi finalmente o dia da primeira entrevista, na altura achamos um pouco estranho que em Julho marcassem a entrevista para Outubro, agora não parece assim tão estranho, desta vez tinham feito mesmo o trabalho de casa, a psicóloga é a mesma do primeiro processo e lembrasse muito bem de nós. Para nosso espanto despacharam hoje todo o processo, as 3 ou 4 entrevistas habituais, ficaram resumidas a esta, duas horas de conversa franca e agradável encerraram o assunto. Teremos que esperar que chegue o bendito certificado de aprovação, mas segundo elas já estamos na lista....resta portanto esperar que algures apareça a nossa menina.
Acordo bem cedo, mas gosto de ficar ali na cama a olhar para aquele espaço cheio de pessoas, e vazio de memórias... "Será que é hoje?" Não sei quem me ensinou esta frase, esta pergunta, mas sei-a de cor, repito-a todas as manhãs. A verdade é que não sei ainda acredito que o "hoje" pode chegar. "Será?"
Vivo nesta casa há 11 anos, no total dos meus 12. Tenho os colegas, as pessoas que cuidam de mim, a minha escola, mas... Falta-me algumas coisas. Queria um quarto só meu com coisas compradas para mim... Queria alguém se preocupasse realmente comigo, com as minhas notas e que parasse com a sua labuta só para me ouvir contar o que se passou no meu dia. Queria uma festa de anos, com bolo e presentes, com amigos, e quem sabe até com um palhaço? Queria poder jantar à mesa onde se contavam as novidades, historias e ensinamentos. Queria que me ajudassem a fazer os trabalhos da escola, que me ensinassem a andar de bicicleta, a construir pequenas coisas e a jogar à bola... Queria aprender o significado de preocupação, e de carinho. Queria saber o significado da palavra família, e o poder de um abraço. Queria tanto uma historia contada ao deitar, um abraço e um beijo de boa noite...
Sonho acordado com tudo isto, vejo-me a correr, a brincar e a sorrir num jardim grande de um casa bonita. Mas cada vez que apresentam o meu processo a um casal vem o comentário, "Ele não, que é grande demais, queremos uma criança pequenina..." Nunca a ouvi é verdade, mas imagino que acontece. Os meninos pequeninos vão entrando e saindo, e eu vou ficando vendo aquele transito. Já pensei que ser um bom menino ajudaria, mas fui percebendo que não influencia, sou apenas grande demais... Agora vou ficando aqui até que um dia decidam o meu futuro.
Cátia Azenha
Texto de ficção publicado inicialmente no blog Ticho
Imagem retirada da internet
Poucas vezes me recordo do que sonho. Esta noite no entanto, foi diferente.
“Esta noite sonhei com o meu filho. Sonhei que tinha recebido aquela tão aguardada chamada da Segurança Social, e que nos tinha sido proposto um menino de 4 anos. Aceitámos logo, e nesse mesmo dia poderíamos ir buscá-lo ao centro de acolhimento onde ele estava.
Chegámos a casa e contámos à F. e ao A. Ficaram radiantes... Arrumámos o quarto para os rapazes, pusemos lá uma cama nova, passámos na loja para comprar uma cadeira nova para o carro, numa outra comprámos um carrinho de brincar, que embrulhámos com um grande laço azul. Os 4 fomos então buscar o nosso novo mano.
Lá tudo foi muito rápido. O nosso “mano” aguardava-nos sentado num sofá. Sorriu com um sorriso do tamanho do mundo e chamou-me imediatamente de “Mãe”. Abraçámo-nos e viemos todos para casa. Ele nada quis trazer de lá. Queria vir para a casa nova sem nada que lhe recordasse o passado. Lembro-me de pensar que era uma ideia muito avançada para os seus tenros 4 anos.
À saída, vários meninos ficaram com ar choroso a olhar-nos do portão... Fiquei devastada. Apeteceu-me trazê-los todos para casa. Mas não podia...”
Acordei a chorar convulsivamente.
Este sonho foi em tudo diferente dos outros que costumo ter, principalmente pelos pormenores que recordo tão bem.
Acordei com o som do meu próprio choro, as lágrimas a escorrer pela cara, estava angustiada, triste, com tantas e tantas saudades daquele que ainda nem conheço. Nem sei explicar ao certo porque chorava. Ainda só tenho 2 meses de espera, e sei que este é um tempo de incertezas. Pode durar mais uns dias, uns meses, uns anos. Mas no meio desta incerteza, o que me faz doer muito mais o espírito, a alma, o coração de mãe, é o saber que o meu filho ou a minha filha já nasceu, já está por aí, poderá ser uma daquelas crianças de lágrimas nos olhos que eu vi ao portão, observando-me suplicantes. Ansiosas por uma família.
Não sei se tem olhos ou cabelos castanhos ou pretos. Se será menino ou menina. Alto ou baixo. Tímido ou reguila. Não sei se me vai adoptar logo no primeiro olhar ou se nos iremos conquistar pouco a pouco. Não sei se gosta mais de bifes com batatas fritas ou salsichas com esparguete.
Sei que o amo já muito, e que já choro por ele. Sei que já gerimos o espaço em casa a contar com a sua chegada. Sei que o carro novo foi comprado porque este modelo tem mais espaço para as 3 cadeiras no banco de trás. Sei que não sei entender como amo tanto alguém que não conheço...
É esta a dor da espera. É esta a ansiedade que os pais grávidos de coração têm de gerir. A gravidez que não se vê, que não se consegue medir.
Sofia
Imagem retirada de Ticho
Os risos ecoavam ainda pelos corredores largos, afastando-se. Nunca soube muito bem por ordem naquela correria desenfreada, nos atropelos à saída. Confesso mesmo, que em muitos dias, me apetecia simplesmente sair a correr com eles, esquecer tudo, e voltar a ter direito a brincar. Reconquistar os meus minutos de recreio!
Depois de todos terem saído, reparei na Sofia, ficara sentada, carita escondida pela cabeleira. Caminhei para ela, ouvindo apenas o som seco do tacão a bater na madeira velha do soalho e o frenesim distante que chegava da rua, para lá das velhas portas em arco.
“Posso sentar-me contigo?” – Perguntei com um sorriso, tentando adivinhar o motivo da sua tristeza. Limitou-se a acenar com a cabeça.
“Não queres brincar com os teus amiguinhos hoje?”
“Não! Já sou muito crescida!”
O seu tom era realmente o de um adulto triste, aprisionado no seu corpo e voz infantil. Avistei-lhe uma lágrima a despontar nos belos olhos negros. Senti o coração apertar-se face ao sofrimento daquela criança que aprendera com o tempo a amar.
“Sabes uma coisa Sofia, eu sou ainda mais crescida que tu e está a apetecer-me ir lá fora aos baloiços. Queres ir comigo?”
Fitou-me de frente, com os olhos arregalados de espanto.
“As duas? No baloiço?”
Sorri-lhe como resposta.
“Não!” - Disse peremptória e novamente cabisbaixa. – “Eu ontem ouvi que já sou grande demais...”
“Ouviste? Quem te disse?”
“Não foi a mim... Eu é que ouvi... Afinal já não vou ter uma mãe nova... Já sou muito grande...”
Apeteceu-me sair aos berros com quem o tivesse dito, mas em vez disso forcei um sorriso e tentei confortá-la.
“Pois eu não te acho muito crescida, acho que és uma menina linda e que quando tiveres uma mamã nova, ela será muito feliz contigo, terá muita sorte por te ter!”
“Achas?!”
“Tenho a certeza!”
O seu rosto abriu um sorriso rasgado e os bracitos magros atracaram-se no meu pescoço. Não lhe vi o rosto quando ela me fez a pergunta mais doce que algum dia escutei e eu tomei a decisão que me fez mais feliz.
“Isso quer dizer que gostavas de ser minha mãe?”
(Texto de ficção escrito por: Marta)
Imagem de Ná Nunes, retirada de aqui:
http://www.flickr.com/photos/98614529@N00/234528130/
Um casal meu vizinho, com idades aproximadas de 45 anos, têm uma filha de 12 anos, cujo parto não correu muito bem e a mãe ficou impedida de ter mais filhos, mas também nunca se tinham importado muito sobre esse facto, para eles o mais importante é que a filha tinha saúde e era muito amada.
Imagem retirada da internet
Sempre sonhei com a adopção, mas pensava nisso como um projecto para mais tarde. A Infertilidade bateu-nos à porta e foi assim que no dia 20 de Maio de 2008 que tivemos a primeira entrevista na segurança social, para dar início ao processo de adopção! A Educadora que nos entrevistou foi muito simpática mas também muito fria e crua, disse que os processos podem ser muito longos, mas podem também ser muito rápidos. Que são crianças que requerem atenção especial pelo que já passaram e que é raro crianças para adopção com menos de 1 ano, pela morosidade dos processos. Ficou muito admirada por sermos muito novos, especialmente o meu marido, diz que somos um caso raro (Eu tenho 28 e ele 26). Mas disse que isso é uma vantagem, pois preferem entregar as crianças mais novas a casais mais novos.
Ela teve também algum receio que não tivéssemos pensado bem no assunto, por sermos muito novos, e falou na possibilidade de ter um filho biológico e se isso alteraria a minha vontade e disponibilidade para adoptar. Não vejo nisso um problema, penso que as relações entre irmãos são sempre positivas e uma coisa não invalida a outra. Acabou por ser uma conversa agradável de esclarecimento da realidade da adopção. Saímos de lá hilariantes, com um sorriso contagiante, como duas crianças.
Surpreende-nos bastante a reacção das pessoas, que até aqui tem reagido muito bem mesmo. Pensei que houvessem alguns mais reticentes que outros, mas nem por isso.
Aguardamos por um filho que espera por nós assim como esperamos por ele. Ainda não o conhecemos, mas ele tem já um lugar especial nos nossos corações. Temos a espera em comum, uma espera que não é fácil, mas mais cedo ou mais tarde iremos de encontro a ele.
Ana Filipa H.
Porto
26/Jul/08
Objectivo:
Partilha de
experiências
Destinatários:
Candidatos
já selecionados
e pais adoptivos
Local: R. Ciríaco Cardoso, 186 Porto
Para ver mapa clique aqui
Horário : das 15:30 ás 18:00
Para se inscrever clique aqui.
Para + informações clique aqui
Imagem retirada da intrnet
Imagem retirada da internet
Estou teórica e oficialmente a 26 dias do prazo legal para dar por terminada a primeira fase do meu processo de adopção. Já fizemos as entrevistas, já recebemos a visita domiciliária, e pelas “restrições” que colocámos na adopção, todos nos dizem que o nosso processo não deverá ser muito longo. Assim o esperamos.
Porquê adoptar? É curiosa esta pergunta. Sempre tive este sonho, mas nunca o contei a ninguém. O meu marido a mesma coisa. Depois de 2 filhos biológicos, e com o sonho de termos no mínimo 3, surgiu esta opção, para nós natural, que se está a tornar dia a dia cada vez mais uma realidade.
Quando começámos a contar à família, aos amigos mais chegados, NUNCA ninguém nos perguntou isso. Têm feito as mais variadas perguntas: então e quando vem, queres menino ou menina, idade, a escola, a arrumação dos quartos dos miúdos, etc etc, mas ninguém me perguntou o porquê.
Daí que ache curioso…
No entanto, e porque entendo que essa opção possa causar estranheza a algumas pessoas, vou explicar um pouquinho as nossas razões, para nós mais do que óbvias e “inexplicáveis”.
Tenho apenas um irmão, mas em compensação tenho 8 primos direitos, e sempre fomos criados juntos, sempre juntávamos a família toda nos aniversários, Natal, Páscoa, etc. Agora, com quase todos casados e pais de filhos, continuamos a fazer isso, com maior ou menor regularidade. Estou pois, muito habituada a ter a casa sempre cheia de crianças, de família. Estamos juntos nos bons e nos maus momentos. Somos muitos, e gostamos de nos reunir e saber que contamos uns com os outros.
A história do Z. é quase a oposta. Filho único, pouco habituado a conviver com os poucos primos que tem. Por isso, hoje com 44 anos sente a falta de outro apoio, agora que começa a caber-nos a tarefa de retribuir aos nossos pais todo o apoio que nos deram no crescimento. Ao conhecer a minha família, sempre disse que gostava de proporcionar aos filhos este convívio.
A nossa história enquanto casal sempre teve como ponto assente os filhos. Sempre quisemos ter pelo menos 3, mais se for possível. Nasceu a F., nasceu o A.. Começámos a falar do seguinte. Começámos a falar da adopção. Começou a ser óbvio que esse era o caminho a seguir. Já passámos pela felicidade de 2 gravidezes. Porque não agora sermos família para uma criança que está por aí, numa instituição, sem pai nem mãe, sem família para lhe dar amor e carinho? Assim foi tomada a nossa opção.
Não pedimos nenhum bebé. Achamos que essa oportunidade pode ser dada a casais que não possam ter filhos biológicos. Optámos por uma criança até aos 6/7 anos, para poder ser o “irmão do meio”, ou o mais novo. Achamos que assim é uma opção justa para todas as pessoas envolvidas nestes processos.
Já só anseio por o/a ver, a correr no quintal. Anseio por ouvir as suas gargalhadas na piscina, anseio pelas brigas deles todos no banco de trás do carro.
Adoptar porquê? Naaaaaaaaa
Eu pergunto: Adoptar, porque não?
Sofia
Ser Criança
Eu ainda sou uma criança!
Ser criança é ser simples, puro e límpido.
Ser criança é ser como a água cristalina que corre em todas as fontes.
Ser criança é ter a paz.
Ser criança é plantar neste chão duro da nossa existência as flores cujo perfume inebriasse todos os Homens para que o ódio e guerra dessem lugar à paz e ao amor. Ser criança é sentir a claridade da luz indefesa para além das trevas da escuridão.
Ser criança é sentir a beleza do amor para além de todos condicionalismos.
Ser criança é sentir o cheiro das flores muito para além dos seus espinhos.
Ser criança é fazer brotar um largo sorriso no mais sisudo dos Homens.
Ser criança é sonhar. Sonhar poder um dia comandar Homens para os deixar incapazes de construir máquinas que matam outros Homens.
Ser criança não é tão fácil, como todos dizem, mas é bom de ser criança
Ser criança é preservar todos os valores humanos, desde a espontaneidade até à sinceridade, desde a simplicidade até à complexidade.
Ser criança é descobrir coisas novas da vida, é sonhar, é imaginar, é acreditar num mundo melhor.
Ser criança é fazer amizades a todo o momento, é zangar-se e fazer as pazes no segundo seguinte.
Ser criança é acreditar, é confiar, é afastar hipocrisias e pintar o mundo todo com as cores da esperança.
Ser criança é ser diferente do adulto.
Ser criança é saber inventar todas estas coisas.
Quem me dera ser criança, para poder … enfim perdoar...
Armando Tavares
Imagem retirada da internet
A grande maioria dos candidatos a adopção escolhe crianças até quatro ou cinco anos.
Sabemos, pelos dados da Segurança Social, que um número significativo de crianças encaminhadas para adopção tem mais de seis anos, isto para já não falar das que estão institucionalizadas e que não se sabe qual será o seu projecto de vida.
É legitimo que quem deseja adoptar idealize um bebé, ou uma criança o mais pequena possível, e imaginar ir construindo a sua estrutura e acompanhar o seu crescimento e desenvolvimento.
Mas já será um pouco mais estranho que esses candidatos aceitem esperar, às vezes durante anos, pelo seu desejado pequenino, sabendo que algumas centenas de outras crianças desesperam nas instituições, cheias de ansiedade e com todo o amor para entregar a uns braços que as acolham para sempre.
Também não podemos simplesmente pensar que isto acontece por uma atitude puramente egoísta dos candidatos à adopção, pelo que pessoalmente concluo que, com excepção de alguns casos mais “patológicos” em que existe uma necessidade psicológica de encarar apenas o bebé como única hipótese (normalmente quando a decisão de adoptar é consequência de infertilidade), na maior parte dos casos essa opção será motivada por receios infundados ou ideias preconcebidas resultantes de falta de informação.
É evidente que a abordagem inicial de uma criança mais crescida será obviamente diferente, mas isso não significa que seja mais ou menos problemática. Quando institucionalizadas, estão muito mais conscientes da sua situação e desejam muito mais encontrar uns braços que as possam acolher. Podem em muitos casos apresentar um quadro muito mais estável do que uma outra com poucos meses, separada dos progenitores e que ainda não tem capacidade de entendimento do que se passa à sua volta.
Adoptar uma criança mais velha pode à partida parecer um pouco estranho, mas talvez seja útil parar um pouco para meditar sobre esse assunto.
Antonio3000@sapo.pt
Imagem retirada da internet
A minha experiência como mãe adoptiva desde há 7 anos, leva-me a crer que uma das grandes questões com que mães, pais e filhos adoptivos têm que aprender a lidar é o facto de não terem estado juntos desde sempre. Têm que aprender a lidar com um passado, passado esse, de que por vezes quase nada se sabe ou apenas se sabe que foi triste e doloroso. Em qualquer das circunstâncias, bom ou mau, conhecido ou desconhecido, esse passado existe e toma por vezes uma grande importância na vida da criança e dos seus pais. Quantas vezes dei por mim a lamentar, por não ter estado ao lado do meu filho desde o primeiro momento, quanta vezes dei por mim a desejar que não tivesse havido “senhora” nenhuma que o tivesse carregado na barriga…mas sim eu própria…quantas vezes, dei por mim a desejar que o fantasma da outra senhora…que paira dentro da cabecinha do meu filho e que por vezes toma forma de vitima e outras de vilã simplesmente se esfumasse…. Mas também sei, que o passado não se apaga com uma borracha…que a dor e as dúvidas que o meu filho sente têm que ser superadas por ele próprio ao longo do seu crescimento. E que a mim mãe, compete-me estar ao seu lado, para o confortar, esclarecer-lhe as dúvidas quando possível e ama-lo incondicionalmente. Mas amar…é também aceitar o passado e aceitar que não estivemos lá sempre …Mas, estamos agora no seu presente e poderemos estar no seu futuro.
Aqui fica um bocadinho da conversa que o meu filho teve comigo aos 4 anos de idade e que ilustra essa dor….
- Mãe, vou deixar de comer.
- Mas porquê, meu filho?
- Para morrer.
- Mas porque queres tu morrer?
- Para poder nascer de novo e desta vez nascer da tua barriga.
Patrícia Macedo
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