Esta semana li esta lista de 10 coisas a dizer e não dizer sobre a adoção. Estava a ler e pensei nas vezes que ouvi algumas destas coisas e o quão desagradavel pode ser. Claro que as pessoas não querem ser desagradáveis, acho que apenas nunca pensaram nisso e muitas das vezes nunca conheceram pessoas que tiveram filhos por via da adoção. Também em conversa aqui há uns dias com outros pais, me apercebi da importância das palavras e de como se diz as coisas. A verdade é que eu também não tinha pensado muito nisso até me acontecer.
Deixo aqui alguns exemplos que me lembro e que tenho ouvido:
1. Esta é que é a tua filha adotada?
O ser adoptada não é uma caracteristica, mas sim a forma como chegaram às suas familias. Uma filha foi adoptada ou (aprendi eu recentemente), chegou por via da adoção, e não é adoptada. Eu tenho 2 filhas, uma por via biologica, uma por via da adoção. Como costuma dizer o Jorge, não há filhos biológicos e filhos adotados, há filhos!
2. Qual delas é mesmo tua filha?
Lembramos-nos sempre de mil e uma piadas que se podem responder. Mas contenho-me sempre. Elas são mesmo as duas minhas filhas!
3. Conheceste a mãe verdadeira?
Nós somos mesmo os pais verdadeiros! Pode dizer-se mãe/pai biológico ou progenitor/a.
4. Ela teve imensa sorte!
Esta ouve-se imenso, sobretudo nos primeiros tempos. Eu respondo sempre que nós é que tivemos muita sorte. E é isso que sinto, e qualquer pessoa que conhece a K. vê que é mesmo assim :). E a verdade é que, como já escrevi, eu tive imensa sorte duas vezes!!!
Por outro lado, ouve-se poucas vezes "Parabéns!" ou "Felicidades!", e outras coisas boas que se dizem quando alguém tem um filho.
5. Voces são mesmo boas pessoas...
Qualquer pessoa que me conhece sabe que boazinha é mesmo um adjectivo que NÃO se aplica a mim (embora o mesmo não se possa dizer sobre o Pappi)... Para mim a adoção foi e é um processo totalmente egoísta, que vem ao encontro do meu(nosso) desejo e vontade de criar uma familia. Revejo-me imenso no inicio deste texto do Jorge (outra vez). Claro que também é um ato de amor, e é preciso estarmos preparados para amar um "estranho" e tornar-nos mães/pais dele, mas isso também é verdade com o nascimento, acontece é de outra maneira.
6. A história de cada criança a ela pertence, e por isso o ideal é não fazer perguntas sobre ela. Eu percebo que as pessoas queiram saber, mas o ideal é esperar pela informação que os pais querem ou acham que devem dar, em cada momento, a cada pessoa. Eu fartei-me de ouvir isto durante as formações que tive, mas só depois de ter a K. me apercebi da real importância disto.
Naturalmente que a adoção tem desafios especificos com os quais tenho que lidar, mas assim é a maternidade, e cada filho traz os seus desafios.
Escrevo este post para que nos deixe pensar na importância das palavras que usamos uns com os outros, e por sentir que se fala muito pouco sobre adoção, ou quando se fala é sempre pelos piores motivos.
Dicas de como enriquecer esta lista aceitam-se!
Retirado de Miradouro
Eu sou contra a adoção. Sou contra qualquer tipo de adoção. Sou contra os pais morrerem enquanto as crianças são pequenas. Na verdade sou contra os pais morrerem e ponto final. Sou contra as famílias de acolhimento. Sou contra as instituições de acolhimento de crianças. Sou contra a retirada das crianças da família biológica. Até sou contra as crianças sem pais, seja por morte ou abandono.
Carla Macedo
Retirado Do Blog Vou Ter Um bebé na Australia
Imagem minha do Momentos e Olhares
Há coisas que me irritam, coisas para as que não tenho paciência.... tenho por norma tentar não falar daquilo que não sei, se alguma coisa me interessa vou ao Google e procuro, por principio não discuto o que não domino e claro, quando acho que tenho razão, não me calo e defendo o meu ponto de vista até à exaustão... a dos outros, que eu tenho que ficar sempre com a última palavra.
Uma das coisas que me irrita profundamente é ler uma e outra vez o seguinte: "Eu gostava muito de adoptar, mas os processos são tão complicados e burocráticos" A sério, fico mesmo irritado, houve uma altura em que deixava sempre um comentário, já fosse num blogue ou num site qualquer... cheguei a escrever mails a jornalistas a explicar como é um processo de adopção e como é simples.... sim, simples...
Na verdade um processo de avaliação não tem nada de burocrático ou de complicado, são duas entrevistas com assistentes sociais e psicólogas, e uma visita domiciliária... querem coisa mais simples que isto?... agora também há a formação, são 3 ou 4 sessões a ouvir falar do processo e de casos de adopção. Se a segurança social cumprir os prazos e não usar desculpas esfarrapadas, isto não demora mais que seis meses.. simples e sem burocracias nenhumas.
Na realidade as pessoas confundem a avaliação com a espera pela criança.. o mais complicado de tudo isto é saber gerir a espera... há quem após ser avaliado espere semanas, há quem espere meses, há quem espere anos... mas de novo isto não tem nada a ver com burocracias.. isto só tem a ver com as expectativas e desejos de cada um...
Há quem não tenha grandes desejos e expectativas e tenha as crianças à sua espera... sim, porque como vimos há uns dias neste post, há crianças à espera...são mais de quinhentas... e há quem consiga descrever o filho que quer com tal luxo de detalhes que este nunca aparece... e passam os anos e as pessoas estão à espera.... e claro, há que deitar a culpa a alguém... as ditas complicações e burocracias...
Todos lemos aquela carta daquela criança e temos muita pena dela... mas apesar de que o post foi divulgado por tudo o que é site de adopção deste país.. no fim contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que se mostraram interessadas ... e algumas ainda nem eram candidatos.
O verdadeiro problema é que em há em Portugal muitos mais candidatos à adopção que crianças para adoptar... e a segurança social não faz milagres ... nem pode ir comprar crianças branquinhas e perfeitinhas para as entregar a quem espera... não, eles tem que esperar que elas nasçam e sejam abandonadas ou retiradas à família... e felizmente isso não acontece muito...
Por favor, quer mesmo adoptar? Informe-se, pergunte, mas não deite a culpa para coisas que não existem.... e tente não ser muito exigente, porque uma criança é sempre uma criança e nós é que temos que a conquistar e aprender a amar.
Por certo, o processo de adopção é aquele que corre no tribunal após recebermos a criança e que serve para dizer que para todos os efeitos legais e morais, passamos a ser pais dela.
Jorge Soares
Do Blog O que é o Jantar?
A Meninos do Mundo irá dar início a um ciclo de conferências na área da protecção à infância, com incidência especial na adopção.
A primeira conferência realizar-se-á no dia 26 de Outubro (sexta-feira), às 21h, no Colégio Atlântico, em Pinhal dos Frades, Concelho de Seixal.
Esta primeira conferência contará com a presença do Dr. António José Fialho, Juiz do Tribunal de Família e Menores do Barreiro e terá como tema: Eu quero ter um filho! Eu quero adoptar!
As conferências serão mensais!
Retirado do Facebook da Associação Meninos do Mundo
Imagem de aqui
"Gostaria de obter informações sobre dar o meu bebé para adopção.
Mas estive a ler e as coisas levam muito tempo a ser tratadas, não quero mesmo que o bebé esteja numa instituição.
Gostava de encontrar uma família e ser eu a escolher."
Esta vez foi por mail, mas também já foi nos comentários deste blog ou no Nós adoptamos, já é a terceira ou quarta vez... e eu fico sempre de rastos, porque de uma forma ou outra eu sinto nas palavras destas futuras mães o desespero de quem está a tomar uma decisão que as marcará para a vida, a elas e ao filho que levam no ventre.
Apesar de que conheço muita gente que está há muito tempo à espera para adoptar e que receberiam estas crianças de braços abertos e com todo o amor do mundo, a minha resposta é sempre a mesma:
Em Portugal legalmente não há nenhuma forma de que uma mãe entregue o seu bebé para adopção directamente a quem o vai adoptar.
A única forma de se entregar um filho para adopção é manifestando essa vontade antes ou no momento do parto, e isto deve ser expresso de forma clara e por escrito. Quando assim acontece, o bebé é levado no momento do nascimento e a mãe não o volta a ver.
Como há um prazo de seis semanas em que a mãe pode voltar atrás, o bebé é encaminhado para um centro de emergência infantil, findo este prazo o processo é entregue ao tribunal de família e segue os tramites normais até que é decretada a adopção.
Muitas vezes o juiz que recebe o processo quer tirar todas as duvidas e exige que a mãe vá ao tribunal dizer em viva voz que mantém a sua decisão... por vezes passam-se anos até que conseguem encontrar a mãe ou até que desistem...entretanto a criança que já podia estar com uma família, continua institucionalizada....
Repito, legalmente e sem esquemas pelo meio que depois levam a casos como o da Esmeralda e o da Miúda Russa, esta é a única forma legal de entregar um bebé para adopção.
Post do O que é o jantar?
Update: Para as pessoas que continuam a cá chegar via google ou de outra forma qualquer, por aquilo que sei, esta pessoa decidiu ficar com o bebe e esta criança não está para adopção. Além disso, tal como eu digo no post, mesmo que ela tivesse decidio entregar o seu filho para adopção, em Portugal a criança teria que ser entregue à segurança social, nunca directamente a alguém
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Há uns tempos num workshop sobre adopção em que estavam elementos de alguns centros de acolhimento, alguém veio falar comigo sobre uma criança de 11 anos que já tinha sido rejeitada e para a que a segurança social não encontrava candidatos. Entre os muitos candidatos que eu conhecia não haveria alguém disposto a aceitar esta criança?... Por acaso havia, até mais que um... candidatos aprovados pela segurança social e que estavam à espera há anos, vá lá saber-se porque a segurança social não os tinha encontrado. Mais estranho ainda é que mal apareceram os candidatos, a segurança social do distrito onde estava a criança arranjou logo outros do mesmo distrito... vá lá a gente perceber porque não o tinham feito antes.
Não era a primeira, nem foi a ultima vez que vi situações destas, raramente aparecem candidatos para crianças maiores de seis anos e muitas vezes a forma de os encontrar é esta... ir perguntando se alguém conhece candidatos que os aceitem... às vezes eles aparecem e lá se encontra a maneira de convencer a segurança social a permitir a adopção, coisa que nem sempre é fácil, porque as suas crianças são para os seus candidatos.. mesmo que estes não existam.
Outra forma é arranjar uma família amiga para a criança, alguém que o visite, que de vez em quando o leve a passar um fim de semana, com o tempo as pessoas afeiçoam-se à criança e terminam por optar pela adopção, pessoas que nem eram candidatos mas que dada a situação da criança são mais ou menos avaliados à pressão e terminam por adoptar. É só mais uma forma de encontrar uma família para crianças que de outra forma nunca a teriam.
A julgar por algumas coisas que li, terá sido isto que aconteceu com o Carlos, a criança da reportagem da TVI de que falei no post de há três dias e que foi devolvida, li em mais que um sitio comentários de uma ou várias pessoas que diziam que o casal conhecia a criança desde antes.
Apesar de ter passado por dois processos de adopção e de em ambos ter estado bastante tempo à espera, não consigo ser contra este tipo de procedimentos, se há coisa que sempre critiquei é a inércia que existe em muitos dos centros de acolhimento, inércia que no fim se traduz em que as crianças passem a vida institucionalizadas sem que ninguém perceba porquê. É de louvar quando as instituições se preocupam e tentam encontrar uma solução mesmo para aquelas crianças que a própria segurança social já abandonou à sua sorte.
É claro que este tipo de situações leva a que as crianças sejam entregues a pessoas que nem sempre foram avaliadas convenientemente, e nem sempre a suposta boa vontade é suficiente para quebrar barreiras. Muita gente vai para a adopção acreditando que está a ajudar as pobres criancinhas e esquecem-se que estas são seres humanos que muitas vezes já passaram por coisas terríveis e quando se deparam com crianças que tem vontade e vida própria não fazem a menor ideia de como enfrentar a situação.
Adoptar não é ajudar uma criancinha abandonada, adoptar é ter um filho, com todas as alegrias e tristezas que tem qualquer outro filho e alguns desafios extra com os que vamos aprendendo a viver todos os dias. Adoptar não pode nem deve ser uma questão de bom coração e boa vontade, adoptar não é um acto de caridade, quem adopta tem que começar por entender uma coisa, não há filhos biológicos e adoptivos, só há filhos.
Este post saiu um pouco ao lado do que era a minha ideia incial... mas pronto, é o que há.
Post do O que é o Jantar?
Jorge Soares
Imagem de aqui
"Ele é muito dócil mas há outra face, ele não queria saber da escola!"
Juro que me vieram as lágrimas aos olhos, como é possível?..estou para aqui a tentar verbalizar o que me vai por dentro e não consigo, como é que é possível?, como é que esta senhora tem a lata de vir dizer uma coisas destas para a televisão? Mudava de roupa todos os dias..e isso é defeito?, teve 3 negativas num período... e isso é motivo para se abandonar uma criança ao fim de cinco meses e meio do período de pré-adopção?
Supostamente a imbecil, desculpem mas hoje não vou estar com meias palavras e não me ocorre nenhuma outra forma de me referir a ela, tem dois filhos biológicos, será que eram ambos perfeitos?, tiveram sempre boas notas, nunca se portaram mal, nunca fizeram uma asneira? Nunca os devolveu porquê? Porquê escolheu uma criança que já tinha sido abandonada antes, que viveu uma grande parte da sua vida na expectativa de encontrar uma família, para a voltar a abandonar e a fazer sofrer?
Gostava sinceramente de falar com as assistentes sociais que fizeram a avaliação do processo, gostava de saber como foi avaliada esta senhora, porque entregam uma criança a alguém que está à espera que esta seja perfeita. Não faço ideia da história de vida da criança, mas não é difícil de entender que não terá tido uma vida fácil, como pode alguém estar à espera que ela seja perfeita?..existem as crianças perfeitas?
Eu sempre disse que adoptar é um acto de egoísmo, ninguém adopta por querer ajudar as criancinhas, todos adoptamos porque queremos ter filhos, mas um filho não se escolhe, e não se escolhe quando é biológico como não se escolhe quando é adoptado, um filho é uma davida que se recebe de braços abertos e se aprende a amar, com virtudes e defeitos.
Entretanto alguém deixou o seguinte comentário na noticia da TVI:
"Esta criança no dia em que deixou a instituição para ir com esta família irradiava alegria, felicidade, e sempre o ouvi dizer que queria ser adoptado. Sou voluntária nesta instituição e esta criança já tinha laços com esta família antes de lhe ser entregue."
Ainda por cima eles já conheciam a criança desde antes, coisa que não acontece na maioria dos casos, como é que há gente tão anormal que consegue destruir assim os sonhos de uma criança?
O mais grave é que estas coisas passam impunes, como dizia a Susana há pouco no Facebook, se alguém abandona um filho biológico é recriminado e criminalizado, esta gente abandona as crianças desta forma e não só não é responsabilizado, como continua na lista de adopção e há quem lhes entregue outras crianças.
Vídeo com a noticia da TVI aqui
Post do meu blog: O que é o Jantar?
Jorge Soares
É certo que quem espera sempre alcança, há coisas que demoram, mas como diz o ditado, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Há muito que uma das principais reivindicações dos candidatos à adopção era que as famosas listas nacionais de candidatos e de crianças, passassem a ser utilizadas pela segurança social em lugar das listas distritais que criavam enormes assimetrias e permitiam por exemplo, que o tempo de espera em Lisboa seja de menos de dois anos e em Oeiras de mais de 7.
Numa das formações a candidatos foi dito que havia ordens para que a partir de Janeiro estas listas sejam mesmo utilizadas... já não era sem tempo, principalmente porque a Idália Moniz há mais de 3 anos que jurava a pés juntos que elas eram utilizadas, chegando inclusivamente a chamar mentiroso a quem afirmava o contrário.
É claro que isto deixa algumas questões no ar, quem vai verificar e fiscalizar?, quem como eu ouvia as assistentes sociais falar dos seus candidatos e das suas crianças, sabe que haverá sempre resistência, haverá muita gente por aí a pensar: Estão a mexer no meu queijo. Hoje alguém me contava um desabafo de uma das assistentes sociais numa das acções de formações a candidatos:
"isto pode não ser o melhor para as crianças (alegando que aumenta o risco de não se encontrar o casal mais adequado em virtude da equipa dos candidatos e da criança não ser a mesma), mas foi decidido assim porque os adultos que são votantes assim o conseguiram."
De novo vou utilizar as palavras da Sandra aqui:
"Sinceramente, não querendo parecer muito 'vaidosa' acho que as nossas criticas e denúncias (do grupo e das várias associações de que fazemos parte), na Assembleia da República, nos diversos Congressos e Conferências sobre adopção nos últimos 2/3 anos, nos meios de comunicação social, os workshops que fomos realizando no âmbito da Missão criança,....tiveram pelo menos uma pontinha de peso e influência nestas novas 'directivas' para actuação relativamente à Base de dados Nacional.
Não sei até que ponto, as coisas não continuariam na mesma, se não tivéssemos em tantas, tantas ocasiões (e muitas, publicamente) denunciado, reclamado e criticado tanto como fizemos.."
Deu-se um pequeno passo no sentido da igualdade de condições a nível nacional, esperemos que seja um passo real e que não existam mais pessoas a terem que mudar de casa de um distrito para outro para perseguir o seu sonho de ser pais..e esperemos que depois deste, muitos mais se sigam, e que sejam passos de gigante para que não existam mais crianças a viverem toda a sua infância e juventude em centros de acolhimento.
Eu por minha parte prometo que continuarei a minha luta, já seja aqui no blog, já seja com a minha participação activa nas associações Meninos do Mundo e Missão Criança
Jorge Soares
Psto do O que é o jantar?
Na sexta passada ia escrever sobre as crianças recém nascidas que no mês passado, em plena época natalícia, foram abandonadas na rua, não pretendia falar das motivações dessas mães que deixaram os seus filhos ao abandono dentro de sacos plásticos... a minha ideia era falar sobre o futuro dessas crianças, o tempo que passam nas instituições, a forma como se perde tanto tempo precioso na vida de um recém nascido... já não me lembro bem porquê, mas depois de ter o post começado, desisti...
Ontem recebi no meu mail o seguinte:
"desculpe estar a mandar-lhe mail, mas estive a ler um pouco do site e continha la o seu email, estou gravida , infelizmente nao tenho condiçoes pra criar esta criança pois estou desempregada cheia d dividas solteira e com um filho de ... anos , por quem sou capaz de fazer tudo, apesar de ainda ser apenas um embrião ja amo muito o bebé que esta dentro de mim , e por esse amor sei que o quiser ter tenho de o entregar para adopção , mas não queria que o meu futuro bebé tivesse de ficar nem um dia numa instituição até que todo o processo se resolva, não á nada na lei que permita a mãe e os pais adoptivos chegarem a um acordo pra que quando a criança nasce ir logo para um bom lar?"
Sabem a quantidade de pessoas que eu conheço e que receberia esta criança de braços abertos?, pessoas aprovadas para a adopção e com todas as condições para fazerem uma criança feliz? Já aqui falei dos motivos pelos que não há bebés para adoptar, foi neste post, a minha resposta para esta mãe foi mais ou menos a seguinte:
Infelizmente não, legalmente em Portugal não é possivel que uma criança possa ser entregue directamente a alguém que a queira adoptar. Terá sempre que passar por um periodo de acolhimento numa instituição. Para além disso haverá sempre uma investigação por parte do tribunal, mesmo deixando o seu filho no hospital, terá que ir ao tribunal declarar que o entrega para adopção e será averiguado se ninguém da sua família alargada quer ficar com a criança.
Hoje recebi o seguinte mail:
Muito obrigado pela sua resposta, neste momento estamos mesmo numa situação muito dificil e o pai do futuro bebé apesar de ser o pai do meu filho não quer nem ouvir falar em seguir com a gravidez, portanto se eu tomar a decisão de o ter ia ter de desaparecer da minha residencia até o bebé nascer,é pena que a lei seja assim compreendo que tenham de proteger abusos e maus tratoa mas tambem penso que cada situação é diferente,sei que se tirar este bebé não vou ficar bem ..... entao pensei na adopção como uma boa solução, mas estive a ler muitos fóruns e uma criança so sai da instituição por volta as vezes dos 6 anos de idade,não quero que um filho meu fique num sitio desses a pensar que alguem o abandonou por não gostar dele,mas tambem não quero que ele me pergunte porque é que não tem leite pra beber, talvez a solução seja mesmo por termo à gravidez mas acho que é um crime, especialmente quando à tantos pais que sei que lhe podiam dar tudo.
Não é fácil que algo na vida me deixe sem palavras, sem reacção.... bom, esta mãe conseguiu, deixar-me sem palavras, sem reacção, sem nada..e a pensar como pode ser injusto este mundo em que vivemos.
Post do blog O que é o jantar?
Jorge Soares
Imagem de aqui
Há uns tempos dois episódios com filhos de amigos do mundo da adopção tinham trazido à baila o assunto, era algo em que queria pegar, mas é muito complicado, até porque a maioria das pessoas que eu conheço e que adoptou, tem filhos pequenos e está longe de chegar a essa etapa.
Hoje um comentário no nós adoptamos acordou-me definitivamente para o assunto, foi deixado por alguém que assinou Marta e diz o seguinte:
"ola, sou adoptada e gostava de conhecer os meus paie biologicos, como e que eu faço"
O A. e a M. adoptaram crianças mais velhas, o A. era daqueles que dizia que quando o filho chegasse à idade adulta e caso ele quisesse, o ajudaria a encontrar a sua família biológica, sei que eram palavras que lhe saiam do coração, mas mesmo assim acho que ele não estava preparado quando o filho já adolescente e após um período complicado em casa e na escola, se virou para ele e lhe disse que queria ir procurar a família.
No caso da M. aconteceu mesmo e aquele filho que ela tinha adoptado já quase adolescente, deixou a família que o amava e foi em busca daquela outra parte da sua vida de onde em tempos tinha sido resgatado.
A maioria das crianças que sabe que foi adoptada tem fases por volta dos 4 ou 5 anos em que quando é castigada ou contrariada diz que vai sair de casa e vai procurar a sua outra família, cá em casa aconteceu mais que uma vez, é a fase do interiorizar a situação e do testar, esticar a corda a ver até onde vai a segurança dos pais. Não é fácil, mas crianças de 5 anos educam-se, elas aprendem que é algo que não as leva a lado nenhum e a coisa passa. Quando estamos a falar de adolescentes é mais complicado, porque por muito que o A. queira ajudar o filho, ele sabe os antecedentes, sabe o porquê de ele ter sido retirado à família biológica e no intimo tem terror do que se possa encontrar, que a vida das pessoas muda, mas nem sempre para melhor.
É dos livros que a maioria das pessoas adoptadas mais tarde ou mais cedo que saber de onde vem, o Yo Soy adoptado é um livro que conta as historias de vida de 11 pessoas que foram adoptadas, das 11 só uma não quis saber do seu passado, as restantes quiseram e a maioria foi mesmo à procura desse passado, quem encontrou descobriu que era só isso, passado, não eram dali e para além da curiosidade, não queriam ser, mas só descansaram quando souberam.
Eu sou um acérrimo defensor que não se deve mentir às crianças adoptadas, faz parte da vida delas e devem aprender a viver com isso, mas depois de ouvir o A. e a M, as suas angústias e medos, fiquei com sérias dúvidas sobre como e quando deveremos libertar da nossa asa os nossos filhos para que procurem esse outro ninho de onde saíram. Porque o mundo lá fora é duro e até cruel e uma coisa é deixar que alguém encontre as suas origens e o seu caminho, outra muito diferente é deixar que os nossos filhos voltem a um mundo de onde tiveram que ser arrancados muitas vezes a ferros.
Marta, se por acaso alguma vez leres isto, a minha resposta para ti é fala com os teus pais, as pessoas que te adoptaram e te deram o seu amor, são quem em primeiro lugar te podem dar essas respostas e ajudar-te na tua procura.
Post do O que é o jantar?
Jorge Soares
Amanhã, 26 de Novembro, pelas 19 horas, será feita a apresentação do livro Meninos do Mundo – Adopção Internacional. A sessão de lançamento terá lugar no Hotel Roma (Sala Roma), em Lisboa, e contará com a presença do Dr. Carlos Jesus, que irá fazer a apresentação da obra, e do Dr. Laborinho Lúcio, autor do prefácio. Estarão, igualmente, presentes a Dra. Fernanda Salvaterra, a Dra. Mariana Negrão, ambas psicólogas, e a Dra. Sandra Cunha, socióloga, que colaboraram na obra com textos em que reflectem a sua experiência na área da adopção.
Espera-se, ainda, a presença de muitos dos que, com o seu testemunho, colaboraram com a Associação Meninos do Mundo para que o livro que agora se lança contemple as várias vertentes da realidade da adopção: adopção nacional e internacional, adopção por casal e adopção singular, a visão de quem foi adoptado, entre outras.
O livro é composto por um conjunto de textos escritos por pessoas que passaram pela adoção internacional com explicações de todos os processos vividos em países como Cabo Verde, Rússia, S.Tomé e Príncipe, Moçambique, Brasil, Índia, Bulgária, Lituânia, Tailândia e Macau e por depoimentos de crianças que dão assim a voz de quem um dia foi adotado.
A Associação Meninos do Mundo é uma organização não-governamental que tem como objetivos promover o conhecimento da adopção internacional em Portugal e no estrangeiro e desenvolver actividades de consciencialização da sociedade civil em relação à adoção internacional no país.
Quem estiver interessado pode encomendar o livro e assim contribuir para a associação e a causa da adopção internacional, basta enviar um email para: meninosdomundo@gmail.com
Porque uma criança é uma criança em qualquer parte do mundo!
Jorge Soares
Público: PJ detém filho adoptivo da médica que foi assassinada em Coimbra
Expresso: Homicídio da médica: Suspeito é filho adoptivo
Ionline: Filho adoptivo da médica de Coimbra confessa homicídio
DN: PJ Prende filho adoptivo de médica assassinada
A Bola: Coimbra: PJ detém filho adoptivo que matou mãe
Correio da Manhã:Filho adoptivo de médica assassinada preso pela PJ
Diario Digital: Filho adoptivo terá encenado assalto depois de degolar a mãe
Alguém me explica a relevância da palavra adoptivo para a notícia? o facto de o filho ser adoptivo tem alguma importância para o caso? há muitos filhos que matam os pais, alguma vez leram "Filho biológico matou os pais" numa manchete de um jornal? ou no titulo de uma notícia?
O que podemos concluir de tudo isto é que a sociedade portuguesa continua a olhar para as crianças adoptadas de lado, são os coitadinhos que tiveram a sorte de encontrar umas almas caridosas que os aceitaram.. é verdade, eu ouço muitas vezes isso. É o estigma da adopção e é algo muito grave, porque há incluso candidatos a pais adoptivos que pensam assim. Uma vez ouvi uma historia de um casal que na viagem em que ia conhecer o seu futuro filho se viraram para a assistente social e perguntaram:
- Mas ele não vai herdar como os outros pois não?
Se isto não é estigma e discriminação é o quê?
Eu tenho três filhos, dá-se o caso de dois serem adoptados, ambos sabem que são adoptados e cá em casa tentamos que o facto seja levado com a maior naturalidade possível, mas é evidente que para mim são os três meus filhos e a adopção é algo que não existe para além do facto de eles terem a cor da pele diferente da minha e da irmã. Porque de facto, para a lei e a partir do momento em que é decretada a adopção plena, não há absolutamente diferença nenhuma entre um filho biológico e um adoptado. Se olharmos para os documentos dos meus três filhos o que vemos na parte da filiação é exactamente o mesmo, seja no Bilhete de identidade, no passaporte, nas certidões de nascimento, qualquer documento, a filiação de um filho adoptivo é exactamente a mesma que a de um biológico.. porque para a lei não há filhos adoptivos e biológicos... porque na verdade não há, só há filhos. E nenhum dos meus filhos me tem que agradecer nada, eu é que tenho que lhes agradecer o facto de fazerem da minha vida o que é, com tudo o que tem de bom e de mau.
E as pessoas não sabem o que me irrita a conversa dos coitadinhos que tiveram muita sorte e da excelente pessoa que eu sou por os ter adoptado... assim como me irritou profundamente ver os títulos das notícias e a palavra adoptivo a bold nos textos. Os jornalistas deveriam ter vergonha, todos deveríamos ter vergonha de vivermos numa sociedade que é capaz de fazer estas distinções.
Não há filhos adoptivos e biológicos, nem filhos e filhos do coração, só há filhos.
Update: Editorial do jornal Destak sobre este assunto escrito por Isabel Stilwell: Filho “adoptivo”, o adjectivo assassino (Obrigado Cláudia)
Post Publicado no O que é o jantar?
Jorge Soares
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Confesso, eu não gosto da Idália Moniz, é muito difícil para mim gostar de pessoas que só olham para os números que lhes aparecem à frente, para o que está escrito e que se negam a acreditar que exista uma realidade para além das letras e dos números.
Tudo começou com a lista nacional de adopção, uma coisa que apareceu com a alteração da lei em 2003 e que hoje, 7 anos depois, continua a ser ignorada pelos centros distritais da segurança social que continuam a falar dos seus candidatos e das suas crianças.. e isto foi reconhecido por mais que um responsável de centros distritais em Outubro passado no Encontro nacional de adopção que se realizou em Lisboa. Durante anos, as assistentes sociais diziam aos candidatos, a mim disseram-me em 2008, que não existia uma lista nacional, ou que esta não é utilizada, e a senhora insistia em que esta existia e era utilizada...
Ontem foi entregue na assembleia da república o relatório sobre a situação das crianças em acolhimento, hoje ouvi mais que uma vez as declarações da senhora secretária de estado às televisões e confesso, deixou-me irritado... ela e a imprensa. O relatório falava das crianças em acolhimento, mas para não variar, os títulos das noticias focavam a adopção... e os candidatos que só querem as crianças perfeitas..e as crianças que ninguém quer..e as crianças que são devolvidas...
Curiosamente, não vi ninguém perguntar porque é que há quase 300 crianças sem projecto de vida definidos, crianças estas que vivem no Limbo, porque é que das quase 10000 crianças entregues ao estado só 2776 podem ser adoptados, o que acontecerá às restantes?. Ninguém pergunta quem fiscaliza as instituições?, quem fiscaliza os tribunais?, quem avalia as equipas de adopção? Porque é que há crianças que entram com meses para as instituições e só seguem para adopção quando já estão numa idade em que será muito difícil serem adoptadas?
Depois temos as 500 crianças que supostamente ninguém quer, porque tem mais de 3 anos, porque não são brancas, porque tem doenças... Vamos lá ver, é verdade que há muitíssimos candidatos que só querem crianças brancas e menores de 3 anos, mas também é verdade que nós não colocávamos restrições de raça, queríamos uma criança até à idade escolar e aceitávamos doenças que não fossem impeditivas do desenvolvimento... estavamos há espera há mais de ano e meio e as ultimas estimativas eram de quase 5 anos de espera.... então, e essas 500 crianças que ninguém quer? não havia nenhuma com menos de 7 anos, que não fosse branca e com algumas doenças?
Eu conheço muitíssimos candidatos à adopção, a R. e o P. são uns desses candidatos, eles aceitam irmãos.. a ultima estimativa era que tinham mais de 50 pessoas só no seu distrito à sua frente, que também aceitavam irmãos... mais de 5 anos de espera... então, entre essas 500 crianças não há irmãos?... podia continuar... tenho mais exemplos....
Das duas uma, ou esse número é um disparate para deitar a culpa aos candidatos, ou então, a informação sobre a existência dessas crianças à espera não circula e os candidatos de um distrito não são válidos para as crianças dos outros..e cada distrito vai acumulando as suas crianças até que aparece, no mesmo distrito, um candidato que as leve. Só isso explica que em lugar dos poucos meses de que falou a Senhora secretária de estado, a mim as assistentes sociais da segurança social de Setúbal, me falassem de anos, quase 5 anos.
É verdade que há muita gente que só aceita crianças até 3 anos, e brancas, e perfeitinhas... não concordo, já discuti várias vezes com pessoas destas. A minha opinião é que não se deveria poder escolher a idade, ou a raça... mas respeito quem tem uma opinião diferente... e a verdade, é que quem não coloca estas restrições tem que esperar na mesma... e ninguém resolve a vida das 7000 crianças que nunca irão para adopção.... vá-se lá saber porquê.
Noticias sobre este tema:
TVI 24: Há mais de 500 crianças que ninguém quer adoptar
Público : Oitenta por cento dos candidatos querem um filho adoptivo branco
Público: Há cada vez mais adolescentes internados nas instituições
Ionline : Há 574 crianças que ninguém quer adoptar
Post publicado inicialmente no O que é o Jantar
Jorge Soares
"Porque é que alguém que mora em Oeiras, se mora do lado da rua que pertence ao conselho de Oeiras tem que esperar em média 7 anos para que lhe seja atribuída uma criança, mas se viver do lado da rua que está no concelho de Lisboa tem que esperar só um ou dois anos para uma criança com as mesmas características?"
Esta pergunta foi feita já ao final do dia por um dos assistentes sociais que faz parte das equipas de adopção de Lisboa e que na passada Segunda feira estava, tal como eu, a participar no Encontro nacional de Adopção que aconteceu em Lisboa.
É uma pergunta pertinente, estou inscrito como candidato à adopção vai fazer um ano e meio, desde então já soube de pelo menos dois casais que se inscreveram depois de mim e que receberam uma criança com as características que nós colocamos, ambos os casos em Lisboa. Como se explica isto?
Quem assistiu ao encontro na segunda feira consegue perceber, a verdade é que cada serviço de adopção trabalha para si e nas costas dos restantes. Existe um manual de procedimentos que supostamente é seguido, mas que depois cada um adapta à sua maneira e da forma que entende. E isto é válido para todo o processo, desde a forma como se avalia até à forma como se atribuem as crianças.
É claro que isto cria enormes assimetrias, se em Lisboa há muitas crianças, há distritos onde há muito poucas, e os candidatos desses distritos tem que esperar muitos anos, mesmo quando no distrito ao lado há crianças para as que supostamente não há pais.
Evidentemente a pergunta com que inicio o post ficou sem resposta, a verdade é que cada serviço de adopção olha para o seu quintal, as suas crianças, os seus candidatos e é incapaz de fazer um esforço por olhar para o lado, para ver se no quintal do lado há uns pais para aquela criança que está à espera há anos, ou uma criança para aqueles pais que desesperam há anos.
A sensação com que fiquei ao fim do dia na passada segunda feira, é que por muita vontade que se tenha, por muitas ideias, por muitos sonhos, a segurança social é uma montanha enorme, há muita gente, muitos quintais, e por muito que se olhe para os problemas, não há na montanha quem tenha vontade de a mover.
Dizem que a fé move montanhas, infelizmente neste caso não me parece que exista fé que faça mudar o que quer que seja.. a segurança social, as muitas equipas de adopção são uma montanha grande demais e nem toda a fé do mundo irá mudar esta montanha.
Jorge Soares
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