Muito bom dia a todos:
Este blog nasceu da vontade de um grupo já considerável de pessoas que pretendem mudar o modo como o resto das pessoas com quem convivem e com quem provavelmente nunca se irão cruzar vêm e actuam perante a adopção. É uma luta que há muito deixou de ser pessoal, que deixou de estar ao favor da protecção de apenas das suas famílias: aqui inspira-se o desejo de defesa dos direitos da criança e da família. Porque é disso mesmo que se trata. Não apenas de um grupo de pessoas que está a tentar melhorar o seu percurso individual.
Há já algum tempo que tinha ficado de deixar aqui as minhas palavras. A maior parte das pessoas que neste momento aqui vêm são pessoas que, por alguma razão, já estão inseridas no mundo da adopção. Mas eu espero que muitas mais venham também a compartilhar de todas as palavras que por aqui irão surgindo. Tenho a certeza que sairão daqui mais ricas, mesmo que só haja uma pequenina onda de mudança.
Eu FUI adoptada. Pretérito perfeito. Fui porque neste momento NÃO sou adoptada. Estou tão plena na minha família como qualquer outra pessoa. Fui adoptada já com quase 4 anos. E sabem que mais? Há algo que me chateia bastante: quando me vêm com aquela conversa de que as crianças que foram adoptadas são crianças difíceis, que são uma “carga de problemas” eu pergunto-me já não terão elas sido capadas de oportunidades o suficiente?? Estas crianças são muitas vezes mais fortes, mais resilientes do que se possa pensar. Vivem à espera de uma oportunidade de serem felizes. Quem somos nós para lhes colocarmos ainda por cima o peso de uma responsabilidade que não é delas? Têm um rótulo escrito na testa? São menos inteligentes, menos bonitas, menos merecedoras de uma família? Não esperam muito de nós. Às vezes é o que sinto à volta, nos comentários, nos suspiros calados. Talvez venhamos a ser delinquentes, prostitutas, com baixo Q.I e graves falhas de personalidade. Ou talvez não. Sinceramente temos a mesma probabilidade de errar que qualquer outra criança, de qualquer outro adulto. E não pensem que estou aqui a desvalorizar a história pessoal de cada uma dessas crianças que por uma razão ou outra, de uma forma ou de outra foram deixadas para trás. Esquecidas. Física e psicologicamente violentadas. Não. Nunca. Há uma importante parte de nós que nasce daquilo que vivemos. Mas também há toda a possibilidade de crescimento pelo amor. O amor como disciplinador, o amor como o beijo de boa noite e o aconchegar da roupa, o amor como o dizer infinitas vezes que se ama apesar de todas as infinitas vezes em que estão menos bem, ou até mesmo malJ.
É o amor como factor protector. Dêem-lhes o que elas merecem. Oportunidades. Oportunidades de serem melhores pessoas. Dêem-se a vós mesmos a capacidade de acreditar que a vossa capacidade de amar é um principio de um processo de crescimento para ambos.
Susana
PS:imagem retirada da Internet