Quarta-feira, 6 de Agosto de 2014

Adopção. João tinha uma mãe mas foi devolvido assim que a irmã nasceu

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Infelizmente não tenho tempo para me debruçar sobre o artigo que copio abaixo e as várias incorrecções que nele constam... será no futuro no futuro, para já só um comentário:

 

Depois da adopção decretada não há devolução possível, o que fizeram com esta criança tem um nome, chama-se abandono, e é um abandono com a cumplicidade da segurança social e de um juiz, o que me deixa com os cabelos em pé e com uma vontade enorme de insultar muita gente.

 

Jorge Soares

 

 

Depois de retirado à família biológica em 2004, João esperou cinco anos até ser adoptado. A mãe que quis ficar com aquela criança – portadora de VIH – devolveu-a ao Estado há um ano.

 

Ao fim de um ano, João ainda pede para ligar à mãe, mas quase sempre a chamada acaba no voicemail: “Deve estar a trabalhar”. Tem 11 anos e imagina todos os dias o momento em que voltará para casa. Custa-lhe estar de novo numa instituição. A mãe adoptiva devolveu-o ao Estado no último ano. Diz que tinha em casa uma criança violenta. Mas na cabeça de João a culpa da separação é do excesso trabalho.

 

Usa a desculpa para justificar todas as falhas: quando o carro não para à porta sábado de manhã, para a visita prometida; quando quer dizer aos adultos da “nova casa” que, apesar do seu metro e trinta e dos seus 32 quilos, há quem o defenda; e até quando passa mais de um mês sem a ouvir. Vive convencido – porque desconhece a decisão do Ministério Público de entregar a sua guarda à instituição – que um dia a mãe que lhe dava o xarope e os quase vinte comprimidos que lhe controlam o VIH o virá buscar de vez.

 

Há noites em que não consegue disfarçar e a raiva entra a custo no pequeno quarto da vivenda dos arredores de Lisboa onde foi colocado. “Muda tão rapidamente, a cara dele passa de uma expressão zangada para um olhar de ódio tão profundo. Vem de dentro”, conta Lídia, uma das responsáveis da instituição. Mas João volta ao normal com a mesma ligeireza e nunca nos últimos meses o ódio – misturado com saudade – se tornou violento: “Tem as suas guerras, mas não podemos dizer que seja agressivo, bem pelo contrário”.

 

João não sabe ao certo os porquês desta história de adultos que é a sua vida e nem tão pouco se lembra de como se adaptou à instituição onde esteve quando foi retirado à família biológica, em 2004. Mas com um ano e meio e sem a referência da mãe ideal presente terá sido mais fácil.

 

O fim dos problemas Em 2009 uma voluntária de um casa de acolhimento de crianças decidiu iniciar um longo processo de adopção singular de uma criança com seis anos que ainda mantinha algum contacto com a sua família. Até aí, os mais próximos visitavam-no com pouca regularidade, devido às dificuldades económicas e aos problemas sociais. A saída da instituição fez a criança esquecer por completo a família biológica. Para trás ficaram os problemas de alcoolismo, as discussões constantes e as condições precárias em que chegou a viver. Ficou também – pensou ele durante anos – fechada a sete chaves a experiência de não ter mãe e de ser apenas mais um entre muitos meninos.

 

A tia, como lhe chamava na casa de acolhimento, passou a ser a nova mãe e com isso João ganhou uma avó e toda uma família com condições económicas e uma vida desafogada. Uma realidade muito diferente daquela que tinha vivido até então, porque “era uma criança que tinha crescido sem afecto”, explica fonte que conhece o caso.

 

Mas poucos anos depois de João entrar para a família, houve dois novos elementos que chegaram de rompante lá a casa. A mãe começou um namoro e logo de seguida nasce uma menina dessa relação. A “mana”, agora com dois anos, ainda faz os olhos castanhos de João ganharem outra vida quando o vai visitar à instituição.

 

O momento de felicidade para a família coincide com o regresso dos problemas à vida de João. Na altura com 9 anos, deixa de ser o centro das atenções e passa a ser o menino violento. Primeiro porque, segundo a descrição que serviu de base ao seu regresso à instituição, terá maltratado o cão da avó e depois porque, numa outra situação, terá tentado sufocar a irmã mais nova. O Ministério Público não teve dúvidas em aceitar o requerimento da mãe adoptiva e voltou a por João à guarda do Estado.

 

Quinta vida O regresso ao passado começou da pior maneira. João acabara de entrar para o 2.º ciclo e pela frente deixara de ter apenas uma professora. Eram muitos, tantos quantas as disciplinas. A pressão de voltar a ficar sem família fê-lo baixar os braços e acabou por ter as negativas suficientes para chumbar. “Esse foi um dos reflexos de que não tem tido tempo para se construir como pessoa”, diz Josefa uma das educadoras que nos últimos tempos se cruzou com a criança.

 

Na instituição de acolhimento temporário para onde foi logo encaminhado, a mãe adoptiva – que dificilmente perderá o estatuto legal – tinha várias barreiras para o contactar. Os telefonemas não podiam ser feitos a qualquer hora e as visitas tinham de ser previamente marcadas.

 

O que levou esta criança, porém, a cair nas mãos da Segurança Social não era um problema temporário e rapidamente surgiu a necessidade de transferi-la para um centro de acolhimento com outras características. Novamente, João é obrigado a mudar de escola, de amigos, de brinquedos. De vida: pela quinta vez em 10 anos.

 

Há já vários meses que chegou à vivenda onde hoje vive com rapazes e raparigas dos 10 aos 18 anos. E ainda está a tentar estabelecer amizades. João observa muito antes de falar, de dar um primeiro passo. “É reservado, às vezes parece que está apático mas está assimilar tudo antes de responder, de reagir”, explica Lídia. A sua racionalidade nem sempre é bem entendida pelos colegas, que como a maioria das crianças, reagem às emoções sem pensar duas vezes.

 

Nas aulas, estes últimos meses de estabilização pessoal já se notam. João teve apenas duas negativas e por isso conseguiu sem grandes dificuldades passar para o 6.º ano. A relação com a mãe, contudo continua a perturba-lo. Às vezes – sobretudo quando se aproxima a data de uma visita – basta ser obrigado a fazer os trabalhos de casa ou a tomar um banho para explodir: “Em minha casa…”.


Ao fim de vários meses com a guarda desta criança, os responsáveis pela instituição têm muitas dúvidas de que João seja o menino violento que punha em risco a segurança de animais ou da irmã, como está descrito na fundamentação da sua reinstitucionalização. Joaquim está aliás convencido de que o principal motivo “é a ausência de afecto para com o João por parte família adoptante”. E assegura que, “tendo em conta o comportamento actual”, a descrição feita no pedido de reinstitucionalização foi “empolada”.

 

“Será que alguma vez maltratou o cão da avó?”, questiona a advogada Rita Sassetti, adiantando que o Ministério Público tem obrigação de verificar as descrições dadas neste tipo de requerimento com toda atenção até porque num tribunal de família, o procurador tem de defender o interesse da criança. A jurista considera ainda que “anormal seria se não sentisse raiva”.

 

Um álbum vazio João acorda sempre cedo – por obrigação –, salta do beliche, desce as escadas e vai à cozinha onde toma um xarope e os oitos comprimidos ao pequeno-almoço. Desde muito novo tem noção de que não pode falhar e de que também não podem falhar com ele. Mas, nem por isso, a cozinha é lugar de obrigações. Longe disso. É a melhor divisão da nova casa.

 

E nem é que o seu corpo franzino – que aparenta ter oito anos – seja de muito alimento, mas sempre foi “maluco por doces”. Vinga-se naquilo que mais gosta, apesar de quase nunca ter fome. “Também, com a quantidade de medicamentos que toma para o VIH…”, soltam os que acompanham o seu caso.

 

Estes adultos que agora têm nas mãos o futuro de João dão-lhe, como aos restantes, uma pequena semanada, mas ele nunca investe esse dinheiro em brinquedos como os outros. “Prefere sempre comprar guloseimas”, conta Lídia.

 

Muito pouco do que agora tem é dado pela mãe. Até a roupa é quase toda oferecida pela instituição, porque a maioria da que trouxe da sua casa já não lhe serve e as poucas vezes que vai de visita o roupeiro não é renovado. Para os seus amigos mais próximos a vida dele é normal. Tão normal quanto as deles, que nem sabem o que é ter uma família. Mas para João a sua vida é diferente e oscila entre a felicidade do que já viveu e a ausência da pessoa de que mais gosta. “Tenho tantas saudades”, solta de vez em quando.

 

E é uma ausência tão grande que nem nunca teve direito a uma fotografia para expor na nova casa. “Essa falta do passado e de referências presentes causa-lhe raiva e, aí sim, ele acaba por ter um comportamento mais violento: rasga as fotografias que os colegas têm da família ou corta fios das colunas quando alguns ouvem música”, diz a educadora que desde o início soube travar aos excessos de João.

 

“Corre o dia todo atrás de mim, mas sabe que não pode fazer disparates quando eu estou, o que mostra que os comportamentos agressivos dele podem ser controlados se os adultos souberem lidar com ele. O João apenas nos quer testar, como qualquer criança”. Com os da sua idade, tudo é diferente: consegue por vezes “manipulá-los” e fazer com que fiquem de castigo por problemas que ele arranja.

 

A doença Ter VIH não tem qualquer problema: a vida de João é quase igual à de todos os outros. Joga à bola, várias horas por dia, perde-se na Playstation e também já foi apanhado pela febre das pulseiras de elástico. É por baixo da pala do boné que usa sempre – esse sim ainda vem de casa – que esconde muitas vezes um olhar de preocupações, de dúvidas. A criança que pede a todo o momento atenção aos funcionários com quem se dá melhor, pouco fala sobre as outras vidas ou sobre os raros encontros com a mãe. Tenta, enquanto consegue, guardar tudo.

 

O que tem de evitar – mais que os outros – são as lutas ou as acrobacias mais arriscadas. João tem noção de que ninguém pode tocar no seu sangue, sobretudo agora que está numa instituição onde é o único com VIH. Mas às vezes acontece. Pára imediatamente, vai chamar um adulto e lembra-o logo a regra básica: “Não te esqueças de por as luvas!”

 

Desde sempre que ouviu esta frase e há dias em que sugere mesmo que deve ser ele a por o penso para que evitar qualquer risco. Os colegas entendem. Mesmo os adversários de luta.

 

A doença de João está controlada e nunca foi difícil aos colegas perceber que o sangue dele é especial. Na última formação que foi dada para aprender a lidar com o VIH, João foi o mais curioso. Ele que sabe como ninguém os cuidados que precisa ter no dia-a-dia, não parou de fazer perguntas. Interrompia a cada momento para aprender um pouco mais sobre si.

 

A falta de preparação da actual da casa de acolhimento de João para lidar com crianças portadoras desta doença foi mais um dos obstáculos que teve de enfrentar quando lá chegou. Mas depressa lhes ensinou o básico.

 

Ainda assim, para que possa ter uma vida igual à dos seus amigos, João precisa de um acompanhamento médico constante. Pelo menos uma vez por mês tem de ir ao médico para verificar se a medicação está adequada ou se é preciso fazer algum ajuste. A mãe comprometeu-se a pagar essa despesa e tem cumprido sempre. Faz questão que o “filho” seja visto pelo médico privado que sempre o acompanhou e recusa que João seja controlado por médicos do Serviço Nacional de Saúde.

 

A doença de João é mais uma dos cordões umbilicais que o mantém ligados à mãe. O facto de essa responsabilidade ser assumida é uma entrave a por fim a esta adopção. Para fontes ligadas ao processo da criança, a mãe quer continuar a manter este laço apesar de não a reconhecer como família: “Os miúdos têm famílias idealizadas, mas eles também têm de ser idealizados pelas famílias. Neste caso só existe a primeira parte…”

 

Jogo do toca e foge A mãe liga-lhe quase sempre à noite depois de as responsáveis da instituição saírem, tenta evitar o confronto. É nesta espécie de conversas escondidas que surgem as promessas e as expectativas que acabam quase sempre da mesma maneira: com o João a tomar os oito comprimidos e o xarope do jantar e a adormecer no seu beliche.

 

E mesmo nas poucas vezes que o vem buscar para umas pequenas férias volta a entregá-lo durante o fim-de-semana, quando só lá está um funcionário a tomar conta de todas as crianças. É por isso que actualmente é considerada uma mãe adoptiva social ausente: não tem a guarda, mas não abdica de alguns vínculos.

 

Ainda este Verão já o foi buscar para umas pequenas férias. Para João, aquela semana passou a correr, tão rápido que nem houve tempo para que ele entrasse nas fotos de família que foram tiradas. “Tiramos várias, mas eu não fiquei em nenhuma”, contou.

 

Só que, por cada momento que se alimenta a esperança de João, cria-se uma entrave ao seu desenvolvimento. “Pergunto-me quais as consequências psicológicas para esta criança”, atira Rita Sassetti, que trabalha o direito da família e acompanha processos de adopção. A jurista diz mesmo que os contornos desta história só trazem interrogações sobre a forma como se lida com a adopção: “Para todos os efeitos não se pode chamar mãe adoptiva a quem só paga uma consulta e vai de vez em quando buscar o filho à instituição para passear. E não percebo como é que o Ministério Público vai nestas conversas”.

 

Até aos 18 anos? Talvez… A grande questão que se coloca actualmente é: João pode ser novamente adoptado e tentar aos 11 anos reconstruir uma vida que lhe tem sido negada? Pode enfim chamar mãe a alguém para sempre? A resposta é simples: por enquanto não, porque para efeitos legais tem uma família adoptiva.

 

Segundo a instituição, o comportamento de João está a ser avaliado ao pormenor para que se possam tirar conclusões mais precisas sobre a instabilidade que a mãe adoptiva representa para a sua vida. A instituição admite mesmo por fim à questão, mas diz que ainda não é a altura para isso. “Pode haver um parecer, mas teria de haver fundamentação para pedir que esta adopção seja declarada sem efeito”, explicam, adiantado que para isso é preciso esperar mais algum tempo. Até lá, João apenas poderá ter uma família amiga que o acolha de vez em quando. É o que diz a lei.

 

Outra hipótese é esta espera ser tão longa que acabe com o processo de autonomia, quando João fizer 18 anos. Isto, porque se se optar por aguardar que João e a família reúnam as condições para que voltem a viver no mesmo espaço o mais provável é que daqui a sete anos esteja tudo na mesma. Aí a única alternativa é a instrução de um processo com vista à sua autonomização. Só que João já está farto de esperar. Quando pede alguma coisa e lhe dizem para aguardar uns minutos olha para o relógio e cobra: “Já passaram!”

 

Todos os nomes usados nesta reportagem são fictícios, à excepção do da advogada Rira Sassetti

 

in ionline, 26 julho 2014, através de famílias arco-iris

 

publicado por Jorge Soares às 01:47
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Segunda-feira, 7 de Janeiro de 2013

O que é um processo de adopção?

o que é um processo de adopção?

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Há coisas que me irritam, coisas para as que não tenho paciência.... tenho por norma tentar não falar daquilo que não sei, se alguma coisa me interessa vou ao Google e procuro, por principio não discuto o que não domino e claro, quando acho que tenho razão, não me calo e defendo o meu ponto de vista até à exaustão... a dos outros, que eu tenho que ficar sempre com a última palavra.

 

Uma das coisas que me irrita profundamente é ler uma e outra vez o seguinte: "Eu gostava muito de adoptar, mas os processos são tão complicados e burocráticos" A sério, fico mesmo irritado, houve uma altura em que deixava sempre um comentário, já fosse num blogue ou num site qualquer... cheguei a escrever mails a jornalistas a explicar como é um processo de adopção e como é simples.... sim, simples... 

 

Na verdade um processo de avaliação não tem nada de burocrático ou de complicado, são duas entrevistas com assistentes sociais e psicólogas, e uma visita domiciliária... querem coisa mais simples que isto?... agora também há a formação, são 3 ou 4 sessões a ouvir falar do processo e de casos de adopção. Se a segurança social cumprir os prazos e não usar desculpas esfarrapadas, isto não demora mais que seis meses.. simples e sem burocracias nenhumas.

 

Na realidade as pessoas confundem a avaliação com a espera pela criança.. o mais complicado de tudo isto é saber gerir a espera... há quem após ser avaliado espere semanas, há quem espere meses, há quem espere anos... mas de novo isto não tem nada a ver com burocracias.. isto só tem a ver com as expectativas e desejos de cada um...

 

Há quem não tenha grandes desejos e expectativas e tenha as crianças à sua espera... sim, porque como vimos há uns dias neste post, há crianças à espera...são mais de quinhentas... e há quem consiga descrever o filho que quer com tal luxo de detalhes que este nunca aparece... e passam os anos e as pessoas estão à espera.... e claro, há que deitar a culpa a alguém... as ditas complicações e burocracias...

 

Todos lemos aquela carta daquela criança e temos muita pena dela... mas apesar de que o post foi divulgado por tudo o que é site de adopção deste país.. no fim contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que se mostraram interessadas ... e algumas ainda nem eram candidatos.

 

O verdadeiro problema é que em há em Portugal muitos mais candidatos à adopção que crianças para adoptar... e a segurança social não faz milagres ... nem pode ir comprar crianças branquinhas e perfeitinhas para as entregar a quem espera... não, eles tem que esperar que elas nasçam e sejam abandonadas ou retiradas à família... e felizmente isso não acontece muito...

 

Por favor, quer mesmo adoptar?  Informe-se, pergunte, mas não deite a culpa para coisas que não existem.... e tente não ser muito exigente, porque uma criança é sempre uma criança e nós é que temos que a conquistar e aprender a amar.

 

Por certo, o processo de adopção é aquele que corre no tribunal após recebermos a criança e que serve para dizer que para todos os efeitos legais e morais, passamos a ser pais dela.

 

Jorge Soares

 

Do Blog O que é o Jantar?

publicado por Jorge Soares às 13:30
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Domingo, 25 de Novembro de 2012

Sobre a adopção internacional em Cabo Verde

Adopção internacional

 Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Tal como expliquei no outro dia no post "As vidas não se deixam a meio", estivemos em Cabo Verde para mais um passo do já longo processo de adopção da D.

 

Apesar dos vários posts que já aqui escrevi sobre o assunto ou talvez graças a eles, continuo a receber muitos mails e comentários aos posts com perguntas de quem olha para Cabo Verde como uma alternativa aos demorados processos nacionais. 

 

Já aqui falei sobre os processos de adopção neste país, foi neste post cuja leitura recomendo, mesmo a quem não está interessado em adoptar..

 

Como também já disse antes, Cabo Verde adoptou a convenção de Haia a 1 de Janeiro de 2010, o processo da  D. entrou em tribunal em Dezembro de 2009 e por aquilo que vou sabendo, terá sido ela  a última criança a vir para Portugal. Com a adopção da convenção de Haia as regras mudaram e é suposto que após a reorganização política, social e judicial, os processos fiquem muito parecidos com o que são por cá.

 

Como sei que há muita gente interessada, questionei o nosso advogado sobre este assunto e a resposta foi muito clara. Desde 2010 que não há adopção em Cabo Verde, as palavras dele foram que as autoridades políticas e judiciárias não são favoráveis à adopção internacional e portanto as coisas continuam mais ou menos como no inicio de 2010.

 

Sei que há muita gente que continua a enviar processos para Cabo Verde, na minha opinião estas pessoas deverão continuar a apostar na adopção nacional e noutros países, nos próximos tempos dificilmente serão adoptadas mais crianças em Cabo Verde.

 

Jorge Soares

 

Retirado do Blog O que é o Jantar?

publicado por Jorge Soares às 22:47
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Sábado, 25 de Fevereiro de 2012

Adopção, palavras de uma mãe, para reflectir

Adopção

 

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

O seguinte texto foi-me deixado num comentário ao Post Ainda as adopções falhadas e as crianças devolvidas  que copiei para o Nós Adoptamos. Apesar de olhar para o tema de forma diferente e até discordar de algumas das coisas, entendi copiar todo o texto já que representa a opinião de alguém que, imagino eu, passou ou está a passar por uma situação complicada, são palavras fortes, para ser lidas e reflectidas, com tempo voltarei ao assunto, por agora, deixo as palavras da Estrela.

 

Tenho estado a pesquisar sobre este caso e cheguei a isto: E pena haver tantos comentários de quem nunca adoptou, e para mais de quem não teve de passar anos em tratamentos de infertilidade até desembocar na adopção, não como a única resposta, mas com a esperança de que ao fim de tanto tempo tinha o direito de ser pai e mãe, construir uma família e ser feliz.

 

Mas como nada é perfeito, muito menos neste país, até os sinais de alerta dos novos pais, e dos novos filhos são ignorados por todas as técnicas do caso. A verdade é que nem todas as crianças, para não dizer quase todas... são abandonadas pela família, pelo contrário, mas são retiradas e nem sempre da forma mais correcta.

 

Depois, a Lei da adopção em Portugal é tão boa que foi alterada recentemente, e continua a ser insuficiente e pobre. As instituições que acolhem as crianças não lhes dão o apoio necessário, pelo menos a que tive oportunidade de conhecer, nem a nível alimentar, médico ou higiénico, quanto mais acompanhamento psicológico! Não as preparam para a possibilidade de virem a ser adoptadas, não lhe perguntam se o querem, não respeitam a sua vontade, mas a resposta que me deram é "são crianças, não sabem o que querem!" mesmo que queiram voltar para a instituição, o local onde sabem que a mãe prometeu ir buscá-los, e desesperam porque agora ela não sabe onde eles estão, mas estiveram lá 2 anos, e ela não foi...continuam há espera, até hoje, já se passaram anos, sofrem eles e nós pais também, nada podemos fazer.

 

Não aceitam a ajuda de nenhum técnico, ignoram a autoridade do adulto, usam-nos, rejeitam-nos, eles sim, desde o princípio rejeitaram-nos, até ao ponto de ir para um hospital por rejeitar a alimentação, por desistir de viver. E agora o que fazer? disseram que era a adaptação, que ao fim de 6 meses estaria tudo regularizado, ao fim desse tempo até um ano, e ao fim de 18 meses disseram que não tinham nada a ver com isso, estavam adoptados!

 

Os sonhos ficaram por isso mesmo, apenas a dor de não ter um filho que corra para nós à procura de um abraço, pergunto porquê e a respota não vem, ou tardiamente escuto "não sei".

 

As crianças deviam ser escutadas, olhadas com olhos de ver, nem todas querem uma casa onde há regras e figuras adultas, até porque as vítimas de abuso não têm isso escrito no processo, para não serem rejeitadas pelos candidatos. como se cura feridas que se desconhecem?

 

Quem ensina a quem vai pela primeira vez adoptar o que devia estar escrito, o que é que deviam mostrar e não está no processo? Eram estas perguntas que deviam fazer e pensar no sofrimento de quem toma estas decisões, na família alargada que os acolhe, ou não..."não havia lá mais pequenos?", "são tão grandes", "sabes lá se vão gostar de vocês!".

 

Quem vê crescer A BARRIGA, Dá mama, colo, ensina a falar, muda fraldas, dá biberão e recebe sorrisos, que É A ÚNICA MÃE, porque o pariu e o tem consigo nos braços não imagina a dor de todos os meses imaginar que está gravida enquanto decorre mais um tratamento de infertilidade, e depois adopta e é tratada como um alvo a abater.

 

São palavras fortes, eles não têm culpa não me escolheram, mas eu também não tive culpa, a não ser de ter a esperança de que viessem a gostar um pouco de nós em comparação com o que os amo. Agora podem indignar-se à vontade, principalmente porque escrevi muito!

 

Agradeço a vossa atenção, felizmente não conseguem ver as lágrimas. 

 

Estrela 

 

Post do O que é o Jantar?

Jorge Soares

publicado por Jorge Soares às 11:22
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Quarta-feira, 25 de Janeiro de 2012

Ainda as adopções falhadas e as crianças devolvidas

Adopção

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Há uns tempos num workshop sobre adopção em que estavam elementos de alguns centros de acolhimento, alguém veio falar comigo sobre uma criança de 11 anos que já tinha sido rejeitada e para a que  a segurança social não encontrava candidatos. Entre os muitos candidatos que eu conhecia não haveria alguém disposto a aceitar esta criança?... Por acaso havia, até mais que um... candidatos aprovados pela segurança social e que estavam à espera há anos, vá lá saber-se porque a segurança social não os tinha encontrado. Mais estranho ainda é que mal apareceram os candidatos, a segurança social do distrito onde estava a criança arranjou logo outros do mesmo distrito... vá lá a gente perceber porque não o tinham feito antes.

 

Não era a primeira, nem foi a ultima vez que vi situações destas, raramente aparecem candidatos para crianças maiores de seis anos e muitas vezes a forma de os encontrar é esta... ir perguntando se alguém conhece candidatos que os aceitem...  às vezes eles aparecem e lá se encontra a maneira de convencer a segurança social a permitir a adopção, coisa que nem sempre é fácil, porque as suas crianças são para os seus candidatos.. mesmo que estes não existam.

 

Outra forma é arranjar uma família amiga para a criança, alguém que o visite, que de vez em quando o leve a passar um fim de semana, com o tempo as pessoas afeiçoam-se à criança e terminam por optar pela adopção, pessoas que nem eram candidatos mas que dada a situação da criança são mais ou menos avaliados à pressão e terminam por adoptar. É só mais uma forma de encontrar uma família para crianças que de outra forma nunca a teriam.

 

A julgar por algumas coisas que li, terá sido isto que aconteceu com o Carlos, a criança da reportagem da TVI de que falei no post de há três dias e que foi devolvida, li em mais que um sitio comentários de uma ou várias pessoas que diziam que o casal conhecia a criança desde antes.

 

Apesar de ter passado por dois processos de adopção e de em ambos ter estado bastante tempo à espera, não consigo ser contra este tipo de procedimentos, se há coisa que sempre critiquei é a inércia que existe em muitos dos centros de acolhimento, inércia que no fim se traduz em que as crianças passem a vida institucionalizadas sem que ninguém perceba porquê. É de louvar quando as instituições se preocupam e tentam encontrar uma solução mesmo para aquelas crianças que a própria segurança social já abandonou à sua sorte.

 

É claro que este tipo de situações leva a que as crianças sejam entregues a pessoas que nem sempre foram avaliadas convenientemente, e nem sempre a suposta boa vontade é suficiente para quebrar barreiras. Muita gente vai para a adopção acreditando que está a ajudar as pobres criancinhas e esquecem-se que estas são seres humanos que muitas vezes já passaram por coisas terríveis e quando se deparam com crianças que tem vontade e vida própria não fazem a menor ideia de como enfrentar a situação.

 

Adoptar não é ajudar uma criancinha abandonada, adoptar é ter um filho, com todas as alegrias e tristezas que tem qualquer outro filho e alguns desafios extra com os que vamos aprendendo a viver todos os dias. Adoptar não pode nem deve ser uma questão de bom coração e boa vontade, adoptar não é um acto de caridade, quem adopta tem que começar por entender uma coisa, não há filhos biológicos e adoptivos, só há filhos.

 

Este post saiu um pouco ao lado do que era a minha ideia incial... mas pronto, é o que há.

 

Post do O que é o Jantar?

 

Jorge Soares

publicado por Jorge Soares às 00:09
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Sábado, 30 de Abril de 2011

Ainda a adopção em Cabo Verde

 

Adopção em Cabo Verde

 

 

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Já passou um ano, a D. é a cada dia que passa uma miúda mais alegre e bem disposta, esteja em casa ou na rua, ela canta e dança o tempo todo. Para além disso, durante um ano não teve uma única constipação e com três anos é  de longe a mais arrumada, obediente e educada dos três.. mesmo tendo os outros 10 anos.... para uma criança que mudou de mundo de um dia para o outro, não podia haver melhor adaptação.

 

Durante este último ano foram muitos os mails que recebi de pessoas interessadas emadoptar em Cabo Verde, já aqui falei sobre os processos de adopção neste país, foi neste post cuja leitura recomendo, mesmo a quem não está interessado na adopção.

 

Cabo Verde adoptou a convenção de Haia a 1 de Janeiro de 2010, o nosso processo entrou em tribunal a 29 de Dezembro e por aquilo que vou sabendo, terá sido a D. a última criança a vir para Portugal. Com a adopção da convenção de Haia as regras de adopção irão necessariamente mudar, sendo que em principio iriam ficar muito parecidas com as que estão em vigor por cá.

 

Evidentemente tudo isto implica uma enorme reorganização a nível burocrática e de estruturas, basta recordar que no país não existe uma rede de acolhimento de crianças. Neste momento ninguém sabe muito bem como irão ficar as coisas, sei que durante o último ano foram vários os processos de casais portugueses que foram enviados pela autoridade central da adopção para as autoridades de Cabo Verde, processos que estarão em espera. 

 

Por conversas que tive com pessoas de equipas de adopção nacionais, sei que a segurança social não está consciente desta nova realidade, aliás, na sua maioria pouco sabem sobre a forma como se processa a adopção internacional em qualquer dos países.

 

De tudo isto, o meu conselho a quem pretende ir para a adopção internacional é, para além de contactarem a associação Meninos do Mundo, que pensem noutras alternativas, quando uma porta se fecha outras se abrem, esta semana podíamos ler noSorriso sem cor um post sobre mais uma adopção na Guiné, e eu sei de  pelo menos duas adopções muito recentes em São Tomé. Este país tem a vantagem de que é de imediato decretada a adopção plena. Há ainda a hipótese de através da Bem Me Queres se adoptar na Bulgária, ainda que neste caso não seja um processo nada barato.

 

Do Blog O que é o Jantar

 

Jorge Soares

publicado por Jorge Soares às 13:03
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Quinta-feira, 17 de Fevereiro de 2011

Adopção, finalmente as famosas listas nacionais

Adopção, listas nacionais

 

É certo que quem espera sempre alcança, há coisas que demoram, mas como diz o ditado, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Há muito que uma das principais reivindicações dos candidatos à adopção era que as famosas listas nacionais de candidatos e de crianças, passassem a ser utilizadas pela segurança social em lugar das listas distritais que criavam enormes assimetrias e permitiam por exemplo, que o tempo de espera em Lisboa seja de menos de dois anos e  em Oeiras de mais de 7.

 

Numa das formações a candidatos foi dito que havia ordens para que a partir de Janeiro estas listas sejam mesmo utilizadas... já não era sem tempo, principalmente porque a Idália Moniz há mais de 3 anos que jurava a pés juntos que elas eram utilizadas, chegando inclusivamente a chamar mentiroso a quem afirmava o contrário.

 

É claro que isto deixa algumas questões no ar, quem vai verificar e fiscalizar?, quem como eu ouvia as assistentes sociais falar dos seus candidatos e das suas crianças, sabe que haverá sempre resistência, haverá muita gente por aí a pensar: Estão a mexer no meu queijo. Hoje alguém me contava um desabafo de uma das assistentes sociais numa das acções de formações a candidatos:

 

"isto pode não ser o melhor para as crianças (alegando que aumenta o risco de não se encontrar o casal mais adequado em virtude da equipa dos candidatos e da criança não ser a mesma), mas foi decidido assim porque os adultos que são votantes assim o conseguiram."

 

De novo vou utilizar as palavras da Sandra aqui:

 

"Sinceramente, não querendo parecer muito 'vaidosa' acho que as nossas criticas e denúncias (do grupo e das várias associações de que fazemos parte), na Assembleia da República, nos diversos Congressos e Conferências sobre adopção nos últimos 2/3 anos, nos meios de comunicação social, os workshops que fomos realizando no âmbito da Missão criança,....tiveram pelo menos uma pontinha de peso e influência nestas novas 'directivas' para actuação relativamente à Base de dados Nacional.

Não sei até que ponto, as coisas não continuariam na mesma, se não tivéssemos em tantas, tantas ocasiões (e muitas, publicamente) denunciado, reclamado e criticado tanto como fizemos.."

 

Deu-se um pequeno passo no sentido da igualdade de condições a nível nacional, esperemos que seja um passo real e que não existam mais pessoas a terem que mudar de casa de um distrito para outro para perseguir o seu sonho de ser pais..e esperemos que depois deste, muitos mais se sigam, e que sejam passos de gigante para que não existam mais crianças a viverem toda a sua infância e juventude em centros de acolhimento.

 

Eu por minha parte prometo que continuarei a minha luta, já seja aqui no blog, já seja com a minha participação activa nas associações Meninos do Mundo e Missão Criança

 

Jorge Soares

 

Psto do O que é o jantar?

publicado por Jorge Soares às 21:14
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Segunda-feira, 10 de Janeiro de 2011

Sou adoptada e gostava de conhecer os meus pais biológicos!!!!

adopção, pais angustiados

 

Imagem de aqui

 

Há uns tempos dois episódios com filhos de amigos do mundo da adopção tinham trazido à baila o assunto, era algo em que queria pegar, mas é muito complicado, até porque a maioria das pessoas que eu conheço e que adoptou, tem filhos pequenos e está longe de chegar a essa etapa.

 

Hoje um comentário no nós adoptamos acordou-me definitivamente para o assunto, foi deixado por alguém que assinou Marta e diz o seguinte:

"ola, sou adoptada e gostava de conhecer os meus paie biologicos, como e que eu faço"

 

O A. e a M. adoptaram crianças mais velhas, o A. era daqueles que dizia que quando o filho chegasse à idade adulta e caso ele quisesse, o ajudaria a encontrar a sua família biológica, sei que eram palavras que lhe saiam do coração, mas mesmo assim acho que ele não estava preparado quando o filho já adolescente e após um período complicado em casa e na escola, se virou para ele e lhe disse que queria ir procurar a família.

 

No caso da M. aconteceu mesmo e aquele filho que ela tinha adoptado já quase adolescente, deixou a família que o amava e foi em busca daquela outra parte da sua vida de onde em tempos tinha sido resgatado.

 

A maioria das crianças que sabe que foi adoptada tem fases por volta dos  4 ou 5 anos em que quando é castigada ou contrariada diz que vai sair de casa e vai procurar a sua outra família, cá em casa aconteceu mais que uma vez, é a fase do interiorizar a situação e do testar, esticar a corda a ver até onde vai a segurança dos pais. Não é fácil, mas crianças de 5 anos educam-se, elas aprendem que é algo que não as leva a lado nenhum e a coisa passa. Quando estamos a falar de adolescentes é mais complicado, porque por muito que o A. queira ajudar o filho, ele sabe os antecedentes, sabe o porquê de ele ter sido retirado à família biológica e no intimo tem terror do que se possa encontrar, que a vida das pessoas muda, mas nem sempre para melhor.

 

É dos livros que a maioria das pessoas adoptadas mais tarde ou mais cedo que saber de onde vem, o Yo Soy adoptado é um livro que conta as historias de vida de 11 pessoas que foram adoptadas, das 11 só uma não quis saber do seu passado, as restantes quiseram e a maioria foi mesmo à procura desse passado, quem encontrou descobriu que era só isso, passado, não eram dali e para além da curiosidade, não queriam ser, mas só descansaram quando souberam.

 

Eu sou um acérrimo defensor que não se deve mentir às crianças adoptadas, faz parte da vida delas e devem aprender a viver com isso, mas depois de ouvir o A. e a M, as suas angústias e medos, fiquei com sérias dúvidas sobre como e quando deveremos libertar da nossa asa os nossos filhos para que procurem esse outro ninho de onde saíram. Porque o mundo lá fora é duro e até cruel e uma coisa é deixar que alguém encontre as suas origens e o seu caminho, outra muito diferente é deixar que os nossos filhos voltem a um mundo de onde tiveram que ser arrancados muitas vezes  a ferros.

 

Marta, se por acaso alguma vez leres isto, a minha resposta para ti é fala com os teus pais, as pessoas que te adoptaram e te deram o seu amor, são quem em primeiro lugar te podem dar essas respostas e ajudar-te na tua procura.

 

Post do O que é o jantar?

 

Jorge Soares

publicado por Jorge Soares às 23:08
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Quinta-feira, 25 de Novembro de 2010

Livro, Meninos do Mundo - Adopção internacional

 

Amanhã, 26 de Novembro, pelas 19 horas, será feita a apresentação do livro Meninos do Mundo – Adopção Internacional. A sessão de lançamento terá lugar no Hotel Roma (Sala Roma), em Lisboa, e contará com a presença do Dr. Carlos Jesus, que irá fazer a apresentação da obra, e do Dr. Laborinho Lúcio, autor do prefácio. Estarão, igualmente, presentes a Dra. Fernanda Salvaterra, a Dra. Mariana Negrão, ambas psicólogas, e a Dra. Sandra Cunha, socióloga, que colaboraram na obra com textos em que reflectem a sua experiência na área da adopção. 

Espera-se, ainda, a presença de muitos dos que, com o seu testemunho, colaboraram com a Associação Meninos do Mundo para que o livro que agora se lança contemple as várias vertentes da realidade da adopção: adopção nacional e internacional, adopção por casal e adopção singular, a visão de quem foi adoptado, entre outras.

 

O livro é composto por um conjunto de textos escritos por pessoas que passaram pela adoção internacional com explicações de todos os processos vividos em países como Cabo Verde, Rússia, S.Tomé e Príncipe, Moçambique, Brasil, Índia, Bulgária, Lituânia, Tailândia e Macau e por depoimentos de crianças que dão assim a voz de quem um dia foi adotado.

 

A Associação Meninos do Mundo é uma organização não-governamental que tem como objetivos promover o conhecimento da adopção internacional em Portugal e no estrangeiro e desenvolver actividades de consciencialização da sociedade civil em relação à adoção internacional no país.

 

Quem estiver interessado pode encomendar o livro e assim contribuir para a associação e a causa da adopção internacional, basta enviar um email para: meninosdomundo@gmail.com

 

Porque uma criança é uma criança em qualquer parte do mundo!

 

Jorge Soares

publicado por Jorge Soares às 21:53
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Domingo, 26 de Setembro de 2010

Adopção: Candidatos rejeitados, o que fazer?

Adopção, candidatos rejeitados

 

O tema "Candidatos rejeitados" foi falado muitas vezes nas conversas sobre adopção, de entre o meu grupo de conhecidos, mesmo entre os mais de 200 inscritos no grupo Nós adoptamos, nunca se ouviu falar de candidatos à adopção rejeitados no processo de avaliação. A sensação com que ficávamos é que todo o mundo é aprovado, é claro que depois há aqueles candidatos que esperam anos e anos e nunca acontece nada, basta que nunca seja entregue uma criança para que a rejeição que não o foi no papel o seja de facto.

 

De há uns tempos para cá, começamos a ouvir falar de uma nova variante, os casos em que simplesmente as candidaturas não são aceites, pessoas com doenças crónicas, pessoas que vivem em união de facto há mais de 4 anos mas que decidiram casar-se entretanto, etc. Esta última situação  levou a que fosse entregue uma petição na assembleia da república pela Associação Meninos do Mundo para a revisão da lei.. petição que o PS chumbou.

 

Esta semana recebi o seguinte comentário:

 

"Sempre sonhei ser mãe. Depois de longos e penosos tratamentos para o conseguir pela via biológica, pensamos em adoptar. Depois de termos sido sujeitos a testes psicotécnicos e a uma visita domiciliária em que a assistente social nos revelou que reuníamos todas as condições sociais e económicas para ter filhos fomos a uma entrevista em que a psicóloga os disse que o nosso pedido havia sido indeferido, porque a adopção surgia nas nossas vidas pela impossibilidade de ter filhos pela via biológica. Ficamos estupefactos. Haviamos sido rejeitados. Não desejámos mais do que uma criança com 4, 5, 6 anos e proporcionar-lhe um projecto de vida. Estamos numa encruzilhada. quem recorrer??? Ajudem-nos por favor."

 

A segurança social não deixa de me surpreender, já tinha ouvido muitas coisas, mas isto é de bradar aos céus. Desde logo, eu diria que pelo menos 90% das pessoas que eu conheço e que já adoptaram ou que querem adoptar, fazem-no porque não consegue ter filhos biológicos, ora, se tivessem sido avaliados por estas senhoras,... tinham sido todos rejeitados... A verdade é que se este critério fosse utilizado por todas as equipas de adopção do país, haveria um décimo das adopções e não havia listas de espera em lado nenhum.. é claro que haveria muito mais crianças institucionalizadas e se calhar eu em lugar de 3, teria só um filho.

 

O que se pode fazer neste caso? em primeiro lugar, há que exigir que tudo isto seja colocado por escrito, tanto a aceitação como a rejeição dos candidatos só é válida após ter sido comunicada por escrito. O que eu faria no imediato, logo após a entrevista com a psicóloga, seria pedir uma reunião com o responsável distrital pelas equipas de adopção  e aparecia com um advogado. A presença de alguém que conhece as leis costuma fazer milagres nestes casos.

 

Se após esta reunião e a intervenção do advogado a decisão se mantiver, ela é passível  de recurso, recurso que é discutido em tribunal, duvido muito que dada a realidade da adopção em Portugal, algum tribunal pudesse dar razão a uma coisa destas.

 

A segurança Social joga muitas vezes com o sofrimento das pessoas, candidatos que já passaram por um penoso e muitas vezes longo percurso nos tratamentos para a infertilidade, e que são sujeitos a decisões destas, terminam por desistir, o ser humano tem um limite para o sofrimento. Mas é muito importante que estas coisas sejam tornadas públicas e denunciadas, os funcionários da segurança social não são deuses, não podem brincar assim com as vidas das pessoas.. sim, porque só podem estar a brincar, como é que a impossibilidade de ter filhos biológicos pode ser motivo para rejeitar uma candidatura?.. não pode!

 

Post do O que é o jantar?

 

Jorge Soares

 

publicado por Jorge Soares às 23:50
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Domingo, 19 de Setembro de 2010

O estigma da adopção em Portugal

Não há filhos biológicos e adoptivos, só há filhos

 

 

Público: PJ detém filho adoptivo da médica que foi assassinada em Coimbra

Expresso: Homicídio da médica: Suspeito é filho adoptivo

Ionline: Filho adoptivo da médica de Coimbra confessa homicídio

DN: PJ Prende filho adoptivo de médica assassinada

A Bola: Coimbra: PJ detém filho adoptivo que matou mãe

Correio da Manhã:Filho adoptivo de médica assassinada preso pela PJ

Diario Digital: Filho adoptivo terá encenado assalto depois de degolar a mãe

 

Alguém me explica a relevância da palavra adoptivo para a notícia? o facto de o filho ser adoptivo tem alguma importância para o caso? há muitos filhos que matam os pais, alguma vez leram "Filho biológico matou os pais" numa manchete de um jornal? ou no titulo de uma notícia?

 

O que podemos concluir de tudo isto é que a sociedade portuguesa continua a olhar para as crianças adoptadas de lado, são os coitadinhos que tiveram a sorte de encontrar umas almas caridosas que os aceitaram.. é verdade, eu ouço muitas vezes isso. É o estigma da adopção e é algo muito grave, porque há incluso candidatos a pais adoptivos que pensam assim. Uma vez ouvi uma historia de um casal que na viagem em que ia conhecer o seu futuro filho se viraram para a assistente social e perguntaram:

 

- Mas ele não vai herdar como os outros pois não?

 

Se isto não é estigma e discriminação é o quê?

 

Eu tenho três filhos, dá-se o caso de dois serem adoptados, ambos sabem que são adoptados e cá em casa tentamos que o facto seja levado com a maior naturalidade possível, mas é evidente que para mim são os três meus filhos e a adopção é algo que não existe para além do facto de eles terem a cor da pele diferente da minha e da irmã. Porque de facto, para a lei e a partir do momento em que é decretada a adopção plena, não há absolutamente diferença nenhuma entre um filho biológico e um adoptado.  Se olharmos para os documentos dos meus três filhos o que vemos na parte da filiação é exactamente o mesmo, seja no Bilhete de identidade, no passaporte, nas certidões de nascimento, qualquer documento, a filiação de um filho adoptivo é exactamente a mesma que a de um biológico.. porque para a lei não há filhos adoptivos e biológicos... porque na verdade não há, só há filhos. E nenhum dos meus filhos me tem que agradecer nada, eu é que tenho que lhes agradecer o facto de fazerem da minha vida o que é, com tudo o que tem de bom e de mau.

 

E as pessoas não sabem o que me irrita a conversa dos coitadinhos que tiveram muita sorte e da excelente pessoa que eu sou por os ter adoptado... assim como me irritou profundamente ver os títulos das notícias e a palavra adoptivo a bold nos textos. Os jornalistas deveriam ter vergonha, todos deveríamos ter vergonha de vivermos numa sociedade que é capaz de fazer estas distinções.

 

Não há filhos adoptivos e biológicos, nem filhos e filhos do coração, só há filhos.

 

Update: Editorial do jornal Destak sobre este assunto escrito por Isabel Stilwell: Filho “adoptivo”, o adjectivo assassino (Obrigado Cláudia)

 

Post Publicado no O que é o jantar?

 

Jorge Soares

 

publicado por Jorge Soares às 10:22
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Quinta-feira, 5 de Agosto de 2010

Adopção: Como (não) adoptar um bebé!!!!

Como (não) adoptar bebés

 

Imagem da internet

 

Este post é dedicado à Ana, que me deixou um comentário ao post de ontem e a todas as pessoas que chegam até este blog procurando informação sobre como adoptar bebés em Portugal... e eu sei que são muitas.

 

O Comentário da Ana dizia o seguinte:

 

Eu ando a procura de uma bebe de 4 meses para adoptar obrigada e urgente

 

Bom Ana, não sei o que queres dizer com é urgente, mas deixa-me dizer-te que na adopção nada é urgente... nada, nem para as crianças, nem para os candidatos...

 

Como em tudo na vida haverá excepções, mas adoptar um bebé de 4 meses é algo que quanto a mim, pela via legal não é possível,  vejamos porquê: Mesmo que no momento do nascimento a mãe assine um documento a dizer que entrega a criança para  adopção, por lei há um prazo de seis semanas para que a esta possa reconsiderar e decidir ficar com o seu filho. Ao fim de seis semanas é considerado abandono e o caso é encaminhado para o tribunal de família.

 

Chegado ao tribunal, o juiz inicia um processo de averiguação, na maioria dos casos este não considera válido o documento assinado pela mãe no hospital, para ser válido tem que ser assinado ante um notário. Há juízes que exigem ouvir a mãe pessoalmente o que na maioria dos casos é muito difícil pois as pessoas que deixaram os filhos no hospital não costumam deixar moradas reais.. entretanto o caso fica parado enquanto se averigua  onde está a família. Depois de ouvida a mãe  e no caso de que ela mantenha a decisão, é consultada a família alargada, mais tempo de espera...

 

Com tudo isto o tempo foi passando e quando finalmente se decide que a criança vai para adopção, já passaram muitos meses e o bebé já cresceu.. Por tudo isto eu diria que pela via legal, dificilmente alguma criança possa ser entregue aos candidatos a pais antes dos 8 ou 9 meses de idade.

 

Voltando ao pedido da Ana, se descontarmos as 6 semanas iniciais, para ser entregue com 4 meses, todo este processo legal deveria ser concluído em 6 semanas.. alguém acredita que isso seja possível? Para já não falar de que antes sequer de poder adoptar, é necessário passar pelo processo de selecção de candidatos.. pelo menos seis meses... lamento Ana, mas nas adopções não há urgências... ter um filho é algo que leva o seu tempo... e nas adopções é sempre mais de 9 meses.... infelizmente na maioria dos casos é muito mais de 9 meses.

 

É verdade que como diz a Cristina noutro comentário ao mesmo post, ultimamente temos ouvido falar da entrega de bebes de 3 e 4 meses aos candidatos... atendendo ao que disse acima, será que a segurança Social está a entregar estas crianças com os processos legais concluídos? E no caso de os processos não estarem concluídos será que os candidatos sabem o risco que correm ao receber uma criança nestas condições?

 

O N. foi-nos entregue com um ano de idade e com o projecto de vida definido pelo tribunal, mesmo assim, um ano depois no processo de adopção plena a juíza decidiu que queria ouvir a opinião do pai.. já ele tinha dois anos, ninguém imagina o que nós sofremos ao pensar que o senhor se poderia opor à adopção. É a isto que os candidatos se arriscam ao receberem crianças com 3 ou 4 meses.

 

É claro que há quem se arrisque a mais... há uns tempos li o seguinte neste  blog:

 

Eu como percebi que ela não estava a entender o motivo e percebeu certamente algo que não me agradou como se nós estivemos contra isso, disse-lhe na cara que o Prof. conceituado me propôs um bebé da MAC com dois dias!!!!!

 

Não era adoptar mas sim eu sair da MAC com um filho nos braços e registar como meu! Claro que o negámos de IMEDIATO!!!

 

Não é novidade nenhuma, todos já ouvimos falar disto, todos sabemos que estas coisas acontecem.. infelizmente há muita gente que se aproveita do desespero de quem quer ser pai e não consegue. São casos como este que depois levam a situações como a da Esmeralda ou o da menina russa... mas se calhar explicam algumas das "adopções" de bebés de que ouvimos falar.

 

Portanto, se chegou até aqui à procura de como adoptar bebés,..esqueça, isso não existe.

 

Jorge Soares

Publicado inicialmente no blog O que é o jantar?

publicado por Jorge Soares às 15:28
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Quarta-feira, 21 de Julho de 2010

Adopção - 2 anos depois

Adopção na Etiópia

 

Há uns tempo escrevi aquiaqui o percurso de um casal amigo, que reside na Suiça, na tentativa de conseguirem ter um filho.

Foram dez anos de muita luta, muito sofrimento, muitos esforços gorados e muita desilusão. Foram dez anos de esperança que  iam acalentando por cada novo tratamento que experimentavam...tudo em vão.

Um dia já sem forças e com danos de saúde física e emocional, resolveram partir para a adopção. Fizeram-no primeiro em Portugal, mas dado os enormes entraves que lhes eram colocados, passaram para a adopção internacional.

Através de amigos ficaram a saber que na Etiópia o processo de adopção estava muito facilitado, era célere e o sistema funcionava muito bem.

No dia 23  de Agosto de 2008 receberam a primeira foto da M. com três meses. Aceitaram-na de imediato.

Viajaram até á Etiópia, comoveram-se com a precariedade das condições dos orfanatos, mas também com o enorme carinho e cuidados com que eram tratadas todas as crianças, apesar da falta de meios humanos e materiais.

A 22 de Novembro a M. passou a ter uma família. Fez em Junho dois anos e veio há dias passar com os pais um mês a Portugal.

Fiquei espantada com a maneira como se tem desenvolvido...pula, canta, fala umas quantas coisas em português e já vai dizendo outras em alemão. A mãe resolveu pô-la na escolinha alemã dois dias por semana, porque, pensa ela, que uma boa integração num país estrangeiro passa pela aprendizagem da língua, apesar disso não abdica da filha durante o resto da semana, para poder assistir ao crescimento da sua bebé e ao mesmo tempo não perder nenhuma das suas pequenas conquistas.

Esta é a prova que sempre que se está no caminho certo vale a pena lutar sem desistir dos objectivos para que um dia os sonhos se tornem realidade.

Nem sempre estive desperta para os problemas que têm os pais que querem um filho, mas vivi de perto toda a história e a pouco e pouco através deste blog fui-me apercebendo das dificuldades por que passam as pessoas que se candidatam a uma adopção e todo o processo burocrático a que estão sujeitas.

Neste mundo conturbado é bom saber que ainda se encontram pessoas de coragem, com um enorme altruísmo e de entrega total a uma causa nem sempre fácil.

 

 

"A força não provém de uma capacidade física e sim de uma vontade indomável." (Mahatma Gandhi)

Manu

Retirado do Blog Cantinho da Manu
publicado por Jorge Soares às 00:46
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Terça-feira, 29 de Junho de 2010

Adopção: As crianças que ninguém quer... será que não quer mesmo????

Crianças

 

Há uns 2 ou 3 meses, a propósito de uma noticia que falava da existência de mais de 500 crianças no nosso país que ninguém quer adoptar, tive uma longa conversa com uma jornalista sobre os verdadeiros motivos que levam a que estas crianças fiquem encalhadas no sistema. Não vão voltar à família, o facto de ter sido decretado um projecto de vida que passa pela adopção normalmente significa que foram esgotadas todas as hipóteses de recuperação familiar. Por outro lado, não são adoptadas porque apesar dos milhares de candidatos que esperam um filho, não há quem consiga fazer o matching  com o candidato que as tire de um aparente limbo em que vivem.

 

Por norma o instituto da segurança social atira a culpa para os candidatos que só querem bebés, os candidatos que não querem bebés, eu por exemplo, atiram a culpa para a segurança social que só se preocupa com os seus candidatos e as suas crianças, sem se preocupar com o que acontece no distrito ao lado.

 

Uma das perguntas que me fez a jornalista foi, como é que isto funciona nos outros países? Na altura não lhe soube responder.. mas fiquei a pensar no assunto. Hoje alguém enviou por email este artigo da Isabel Stilwell no Destak onde podemos ler o seguinte:

 

"....é por isso que a Heart Gallery é uma ideia tão genial. A organização que se dá por este nome e defende que todas as crianças têm direito a uma família, percebeu a força de um bom retrato e conseguiu que 150 dos melhores fotógrafos norte-americanos aderissem à sua proposta: fotografar as crianças e os adolescentes que vivem em instituições ou em famílias de acolhimento, para um portfólio de crianças que precisam de pais a sério, e que pode ser visualizado em www.heartgalleryofamerica.org (vá também a www.time.com/time/photoessays/heartgallery/)"

 

Não é a primeira vez que ouço falar de algo assim, na Inglaterra há a semana da adopção, uma semana em que se chama a atenção para as crianças que estão para adoptar, fazem-se artigos nos meios de comunicação , reportagens na televisão em que se mostram as crianças, visitas aos centros de acolhimento, etc.

 

Como a maioria das pessoas que conheço, de inicio eu fiquei chocado, um filho não é algo que se escolha por catálogo ou porque se vê na televisão, mas a verdade é que está provado que durante essa semana muitas destas crianças são mesmo adoptadas porque alguém as viu e se apaixonou pelo seu sorriso. É uma forma de chamar a atenção para a adopção e de dar uma hipótese de vida a crianças que dificilmente as teriam de outra forma.

 

Como diz a Isabel Stilwell no artigo, é muito diferente ouvir falar de números, de que ainda por cima duvidamos, a ver rostos, crianças reais que existem mesmo. As experiências inglesa e americana mostram que as taxas de adopção aumentam significativamente e que são projectos de sucesso.

 

É claro que sei que Portugal não é os Estados Unidos, para o bem e para o mal estamos muito longe da mentalidade e das leis americanas, mas a verdade é que no nosso pais  o numero de crianças esquecidas aumenta todos os anos, e algo tem que ser feito. Por muito que a comunicação social repita até à exaustão que os candidatos só querem bebés, todos nós sabemos que isso não é verdade, há muitos candidatos que aceitam crianças mais velhas, que aceitam irmãos, que aceitam crianças com problemas de saúde... o que falta é a forma de juntar quem espera, a forma de juntar corações.

 

Passei algum tempo a olhar para as fotografias de sites como este: https://www.utdcfsadopt.org/heart_gallery.shtml, é verdade que quem vê caras não vê corações, é verdade que podemos pensar que escolher um filho por ali pode ser chocante.. mas se essa for a única forma de que estas crianças possam ter uma família, se for a forma de fazer com que a espera de tantas famílias seja menor .... será que não vale a pena? Será que é preferível que estas crianças  fiquem esquecidas para sempre nas instituições?

 

É claro que em Portugal não precisamos de ser tão radicais, não vamos colocar as fotografias das crianças na internet, mas que tal elaborarmos uma lista das crianças existentes, mesmo que sem fotografia, só com as suas características, que seja apresentada aos candidatos de modo a que estes possam pensar no assunto?

 

Todos ouvimos falar das 500 crianças... mas quando perguntamos, ninguém sabe como são, onde estão.. e elas continuam lá.. está na altura de fazermos algo para mudar isto... está mesmo.

 

Jorge Soares

 

PS:Post publicado inicialmente no O que é o Jantar?.

 

publicado por Jorge Soares às 23:52
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Sexta-feira, 16 de Abril de 2010

Adopção: Relatórios, números e os culpados do costume.

Adopção em Portugal

 

Imagem da Internet

 

Confesso, eu não gosto da Idália Moniz, é muito difícil para mim gostar de pessoas que só olham para os números que lhes aparecem à frente, para o que está escrito e que se negam a acreditar que exista uma realidade para além das letras e dos números.

 

Tudo começou com a lista nacional de adopção, uma coisa que apareceu com a alteração da lei em 2003 e que hoje, 7 anos depois, continua a ser ignorada pelos centros distritais da segurança social que continuam a falar dos seus candidatos e das suas crianças.. e isto foi reconhecido por mais que um responsável de centros distritais em Outubro passado no Encontro nacional de adopção que se realizou em Lisboa. Durante anos, as assistentes sociais diziam aos candidatos, a mim disseram-me em 2008, que não existia uma lista nacional, ou que esta não é utilizada, e a senhora insistia em que esta existia e era utilizada...

 

Ontem foi entregue na assembleia da república o relatório sobre a situação das crianças em acolhimento, hoje ouvi mais que uma vez as declarações da senhora secretária de estado às televisões e confesso, deixou-me irritado... ela e a imprensa. O relatório falava das crianças em acolhimento, mas para não variar,  os títulos das noticias focavam a adopção... e os candidatos que só querem as crianças perfeitas..e as crianças que ninguém quer..e as crianças que são devolvidas...

 

Curiosamente, não vi ninguém perguntar porque é que há quase 300 crianças sem projecto de vida definidos, crianças estas que vivem no Limbo, porque é que das quase 10000 crianças entregues ao estado só  2776 podem ser adoptados, o que acontecerá às restantes?. Ninguém pergunta quem fiscaliza as instituições?, quem fiscaliza os tribunais?,  quem avalia as equipas de adopção? Porque é que há crianças que entram com meses para as instituições e só seguem para adopção quando já estão numa idade em que  será muito difícil serem adoptadas?

 

Depois temos as 500 crianças que supostamente ninguém quer, porque tem mais de 3 anos, porque não são brancas, porque tem doenças...  Vamos lá ver,  é verdade que há muitíssimos candidatos que só querem crianças brancas e menores de 3 anos, mas também é verdade que nós não colocávamos restrições de raça, queríamos uma criança até à idade escolar e aceitávamos doenças que não fossem impeditivas do desenvolvimento...  estavamos há espera há mais de ano e meio e as ultimas estimativas eram de quase 5 anos de espera.... então, e essas 500 crianças que ninguém quer? não havia nenhuma com menos de 7 anos, que não fosse branca e com algumas doenças?

 

Eu conheço muitíssimos candidatos à adopção, a R. e o P. são uns desses candidatos, eles aceitam irmãos.. a ultima estimativa era que tinham mais de 50 pessoas só no seu distrito à sua frente, que também aceitavam irmãos... mais de 5 anos de espera... então, entre essas 500 crianças não há irmãos?... podia continuar... tenho mais exemplos....

 

Das duas uma, ou esse número é um disparate para deitar a culpa aos candidatos, ou então, a informação sobre a existência dessas crianças à espera não circula e os candidatos de um distrito não são válidos para as crianças dos outros..e cada distrito vai acumulando as suas crianças até que aparece, no mesmo distrito,  um candidato que as leve. Só isso explica que em lugar dos poucos meses de que falou a Senhora secretária de estado, a mim  as assistentes sociais da segurança social de Setúbal, me falassem de anos, quase 5 anos.

 

É verdade que há muita gente que só aceita crianças até 3 anos, e brancas, e perfeitinhas... não concordo, já discuti várias vezes com pessoas destas. A minha opinião é que não se deveria poder escolher a idade, ou a raça... mas respeito quem tem uma opinião diferente... e a verdade, é que quem não coloca estas restrições tem que esperar na mesma... e ninguém resolve a vida das 7000 crianças que nunca irão para adopção.... vá-se lá saber porquê.

 

Noticias sobre este tema:

 

TVI 24: Há mais de 500 crianças que ninguém quer adoptar

 

Público : Oitenta por cento dos candidatos querem um filho adoptivo branco

 

Público: Há cada vez mais adolescentes internados nas instituições

 

Ionline : Há 574 crianças que ninguém quer adoptar

 

Post publicado inicialmente no O que é o Jantar

 

Jorge Soares

publicado por Jorge Soares às 10:26
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Quinta-feira, 8 de Abril de 2010

Sobre a adopção em Cabo Verde

 

Nós por cá tudo bem, a D. continua uma menina comilona e bem disposta mas esta semana entrou na fase das birras, não gosta de ser contrariada e quando o é, lá mostra o seu mau feitiozinho... há por aí quem diga que é do nome, que há por aí outras D. que também são assim... não, não são teimosas, são persistentes... pontos de vista.

 

Uma das coisas que mais me tem perguntado é se ela estava numa instituição... não, não estava, em Cabo Verde há muito poucas instituições, e que eu tenha conhecimento, nenhuma das crianças que foram adoptadas por portugueses veio de uma instituição. A D. estava com uma família amiga.... amiga da família dela que não tinha condições para a ter.

 

As adopções em Cabo Verde tem muito pouco a ver com o que estamos habituados por cá, cá por norma as crianças estão institucionalizadas e é decretado um projecto de vida que passa pela adopção. Em Cabo Verde são as famílias que ante a impossibilidade de criar os filhos com um mínimo de dignidade e condições, decidem entregar as crianças para adopção.

 

Para isto dirigem-se ao tribunal e dizem que as querem entregar. E as crianças continuam a viver com a família até que ocorre a audiência e o juiz decide entregar a confiança judicial aos candidatos a adoptar. E são os pais, ou em casos como o da D., as pessoas que tratam das crianças, quem as entrega a quem as vai adoptar.

 

No outro dia falava com uma amiga que adoptou uma criança cá, por sinal uma menina com a idade da D. e também mulata, e ela dizia-me que não seria capaz de passar por uma situação destas. Acredito que não. A nós a D. foi-nos entregue no escritório da advogada, mas muitas vezes a entrega é feita pelos pais e ocorre em casa das crianças, com os irmãos, os amigos, os vizinhos, a presenciarem.

 

Não é uma situação fácil e muito menos quando as crianças já tem 4 ou 5 anos e já sabem o que se está a passar. Imaginem o que é retirar uma criança do seu ambiente natural, da sua família.. é difícil de imaginar, e muito mais quando sabemos que as crianças não são vitimas de maus tratos, nem de abandono... No fundo, é um acto de amor, a maior parte destas crianças vem de famílias com 8, 9, 10... já soube de um caso de uma mãe que entregou o seu vigésimo filho... mas as pessoas tem dignidade...e amor pelos filhos, não tem é efectivamente condições para os criarem.. e decidem que elas estarão melhor com alguém que tenha condições a amor para lhes dar.

 

Jorge Soares

 

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publicado por Jorge Soares às 10:31
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Domingo, 7 de Março de 2010

Adopção:Não, não somos santos, só somos mesmo pais.

Não quero sopa

 

Hoje a D disse a primeira frase completa:

 

-Mamã nã qué sopa!

 

Estava com sorte, porque não havia mesmo sopa, mas está visto que temos uma Mafaldinha em potência, o que vale é que tirando a sopa, tudo o resto que aparecer no prato, marcha.

 

Eu sou dos que acha que ter filhos, sejam eles naturais ou adoptados, é antes de mais um acto de egoísmo, bom, às vezes nos naturais é um acto de outra coisa... mas isso agora não interessa nada. Adoptar uma criança é em 90% dos casos, um acto do mais puro egoísmo, as pessoas acham que adoptamos porque somos muito boas pessoas, ou porque somos muito caridosos, ou porque gostamos de fazer o bem.... desenganem-se, quem adopta é porque quer ter filhos, e se conseguisse de outra forma não adoptava.. é claro que há excepções, mas até nas excepções há quem o faça por egoísmo, porque não gosta de bebes por exemplo....  

 

Em suma, nós não somos santos e sobretudo, os nossos filhos não são uns coitadinhos que tiveram muita sorte porque nós os adoptamos, pelo contrario, nós é que tivemos muita sorte em os poder ter, amar e acarinhar.... e acreditem ou não, sentimo-nos pais exactamente da mesma forma que qualquer outro pai, nem mais nem menos.

 

Deixo aqui um conjunto de frases que pude ler hoje no meu mail, desabafos de pais adoptivos, vejamos:

 

Uma mãe com 3 

 

Sinceramente...não aguento mais que:

- me digam quanto me admiram por ter adoptado a ......

- me digam que à ..... lhe saiu a sorte grande

- me digam que eu sou uma mulher cheia de coragem

- que indagam como é que os irmãos estão a reagir


Ora vamos lá por os pontos nos iiiii


- a única admiração que eu mereço é por ter aguentado os 18 meses de espera e mau funcionamento da Seg Social.

- se à .... lhe saiu a sorte grande, a mim saiu-me o euromilhoes...porque miúdas assim, há uma num milhão!

- Coragem ?, Sim, mas é a mesma coragem que é necessária para nos decidirmos ser mães de mais um. A gravidez da ...., foi uma santa gravidez, sem sustos sem enjoos, sem dores nas costas ou insónias, o parto foi +/-, mas nada de traumatizante, correu tudo bem, mas na verdade é que a quantidade de coisas que podem correr mal numa gravidez são imensas. Sim, se pensarmos nisso, também é preciso coragem para engravidar, tanto como para iniciar um processo de adopção.

- mas só poderiam estar a reagir bem! Bem se vê que não conhecem os meus 3 filhos!

 

Futura Mãe:

 

Eu ainda não sou mãe adoptiva e já vou ouvindo cada uma que me deixa perplexa…

Uma das piores que já ouvi foi quando disse que tínhamos pedido manos,  e que não tínhamos definido muita coisa, nem os sexos, as idades dissemos que preferíamos até 6 anos mas que na prática dependendo das circunstâncias estávamos abertos a outras idades, e que considerávamos adoptar 3 manos . Resposta: ahhh, vocês devem ser santos!!!!”  Ficámos mesmo pasmados… : santos??? Santos por quê?

Por felizmente termos condições económicas para os recebermos?

Por receber 3 de uma vez em vez de fazermos 3 processos chatos de burocracia ?

Por passarmos a ser 5 em vez de 2?

Esta entre muitas outras…

Claro que não vão ser tudo maravilhas mas é a vida.

E se eu engravidasse de 3?????? Aí sim é que acho que dava em doida mas mesmo assim acho que se fazia (com muita ajuda!!!)

 

Pai de 2 adoptados

 

Então só mais uma perguntinha - Então e como é que o teu marido está a  reagir? Hiii Hiiii Hiiiii 

 

Futura mãe 2

 

Olha  eu ainda não sou mãe mas sempre que falo sobre isto a alguém e ainda por cima digo que nos candidatámos a 2 irmãos (sempre com a deixa que se fossem 3 também não fugia muito do nosso desejo, embora tenha consciencia de que à partida e sem experiência seja...muito, assim como uma gravidez seria, como vocês referiram) toda a gente fica de boca aberta e diz essas coisas todas de tão bons e que bem tão grande vcs estão a fazer e por aí em diante...

 

No meu simples entender é um exagero. A nossa vontade é tão grande e às vezes tão egoista quanto a deles mas também já estou como o ...., só respondo ou avanço com "explicações" quando acho que não vai cair em saco roto, de outra forma também já deixei de ter paciência não só para ouvir como para falar e depois ficarem igualmente com cara de parvos (desculpem mas é mesmo essa a expressão)! Além disso é mesmo o que a .... diz e é o que eu respondo: nós queremos e sabemos já que queremos, pelo menos 2...vou ser parva para passar pelas mãos daquela gente mais vezes do que o estritamente necessário????Nem pensar!!!!!!!!!

 

Mãe de 2

 

Mas acho que isto depende muito da forma como as pessoas encaram a maternidade/paternidade. No meu 1º dia da mãe que passei com eles fui à escola com as outras mães e lá pelo meio a prof. pediu às mães para escreverem 1s palavrinhas num cartãozinho para ficar de recordação. Eu escrevi qq coisa sobre a benção que eles eram na minha vida e como todos os dias aprendia coisas com eles que me faziam crescer como pessoa, etc.. e tal. A prof. ficou de boca aberta a olhar para aquilo pq a maior parte das outras mães punha a coisa na perspectiva contrária (elas é que ensinavam os miudos).

 

Mas essa conversa de que me admiram e tal.. Não há paciência!

Outra coisa que me tira do sério é qd me perguntam sobre eles... Não perguntam como é que eles estão (que é o que normalmente se pergunta qd se pergunta pelos filhos de alguém), perguntam: como é que está a correr? Como se não estivesse a correr bem nós os pudessemos devolver, corrigir, ou coisa assim... Claro que quando me perguntam isso eu devolvo um: "td bem. E com os teus? também td a correr bem? Algum problema?..."

 

No nosso caso às vezes ainda apanhamos pessoas que nos fazem perguntas sobre a "mãe verdadeira" e se eles se lembram dela e como está a ser a adaptação (eles estão connosco à 1 ano e oito meses) se eles nos tratam por pais e etc... 

Não há paciência!!!

 

Mãe de 1

 

...já ouvi os seguintes comentários:

- "desculpe, mas com quem é que ela á parecida?" ao que respondi muito seriamente se ela não tem os olhos iguais aos meus e o sorriso doce como o meu!!!

- "o pai é de cor"

- "que gira, veio de áfrica?"

- "ó filho anda ver uma menina como tu!" - olhei para o miúdo e ele era branco, "normal"...era adoptado!!!

- "não há a possibilidade da mãe biológica encontrá-la?"

- "pois é, ela dá trabalho, é como um filho..." - como um filho???? ela é minha filha!!!!!!


são perguntas de quem não sabe o que é adoptar, que talvez tenha um desejo ou seja mãe de maneira diferente...não sei.

e sim, fazem de mim uma raínha, uma santa, por ter adoptado, por ter adoptado sozinha, por ter adoptado em cabo verde. e dizem que saiu o totoloto à .... ao que eu sempre respondo que a mim me saiu o euromilhões.


bjs, haja paciência e sejamos muito felizes!!!!

 

 

E por fim, pai de 1

 

experimenta responder "se quizesse ser herói não tinha adoptado, apenas queria ser mãe" ;-)

 

Eu hoje passei por isto e tive que estar a explicar a uma das minhas colegas que não, que ter adoptado não faz de mim nem pior nem melhor que ninguém, só faz de mim pai... mas acho que ela não acreditou... 

 

haja paciência e que os nossos filhos sejam muito felizes!!!!

 

Post Publicado no O que é o jantar?

Jorge Soares

PS:Copiei isto sem autorização.... espero que ninguém se chateie.

PS2:Sim, é verdade, sou um pai babado

publicado por Jorge Soares às 19:15
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Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009

Um milagre no dia de natal

Um milagre no dia de natal

 

Era uma vez um menino que era muito pobre e que não tinha família. Mas já era a quinta vez que ele pedia de prenda de natal e este ano ele pediu o mesmo presente que era ter uma família. No dia de natal o menino acordou de manhã e tinha um presente ao lado dele, e quando abriu o presente estava lá a dizer:

 

Do pai natal:Vai-te levar a uma associação de meninos que não tem família e vão-te levar para umas pessoas que querem adoptar um rapaz.

 

Quando a associação o levou para as pessoas que queriam ser seus pais, ele nunca mais esqueceu esse dia de natal e da sua prenda, uma bela família.

 

Nuno, 9 anos

publicado por Jorge Soares às 00:23
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Quinta-feira, 26 de Novembro de 2009

Ao cuidado da SIC

No passado dia 1 de Novembro, no programa Grande Reportagem da SIC foi transmitida a reportagem Os Laços e Nós, apresentada pela Jornalista Cristina Boavida e com direcção de Alice Vieira. Neste programa foram entrevistadas várias crianças que estão no centro de acolhimento. Com excepção de uma, todas estas crianças tem menos de 16 anos e todas aparecem com o rosto visível e perfeitamente identificáveis. A emissão de imagens ou elementos identificadores de crianças e jovens em perigo é proibida pela Lei 147/99 de 01 de Setembro no número 1 do seu artº  90, incorrendo na prática de crime de desobediência quem as perpetrar.

 

 Durante a semana que seguiu a apresentação do programa, enviamos vários emails para a SIC ( atendimento@sic.pt ) à  atenção da Director de Programas: Nuno Santos e do Director de Informação: Alcides Vieira, expressando o desejo de  que em futuros programas esta emissora cumpra a lei no que refere à protecção de crianças institucionalizadas assim  como que seja retirada do site da emissora a reportagem em causa. Até à data,  não recebemos qualquer reposta e a  reportagem continua online o que só demonstra o desrespeito continuado e reiterado da SIC pelo direito à privacidade  e dignidade destas crianças.

 

Retirado do Site da Missão Criança

publicado por Jorge Soares às 13:30
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Domingo, 1 de Novembro de 2009

Adopção em Portugal?, ou adopção no meu quintal?

 

A Adopção em Portugal é a adopção dos pequenos quintais

 

"Porque é que alguém que mora em Oeiras, se mora do lado da rua que pertence ao conselho de  Oeiras tem que esperar em média 7 anos para que lhe seja atribuída uma criança, mas se viver do lado da rua que está no concelho de Lisboa tem que esperar só um ou dois anos para uma criança com as mesmas características?"

 

Esta pergunta foi feita já ao final do dia por um dos assistentes sociais que faz parte das equipas de adopção de Lisboa e que na passada Segunda feira estava, tal como eu, a participar no Encontro nacional de Adopção que aconteceu em Lisboa.

 

É uma pergunta pertinente, estou inscrito como candidato à adopção vai fazer um ano e meio, desde então já soube de pelo menos dois casais que se inscreveram depois de mim e que receberam uma criança com as características que nós colocamos, ambos os casos em Lisboa. Como se explica isto?

 

Quem assistiu ao encontro na segunda feira consegue perceber, a verdade é que cada serviço de adopção trabalha para si e nas costas dos restantes. Existe um manual de procedimentos que supostamente é seguido, mas que depois cada um adapta à sua maneira e da forma que entende. E isto é válido para todo o processo, desde a forma como se avalia até à forma como se atribuem as crianças. 

 

É claro que isto cria enormes assimetrias, se em Lisboa há muitas crianças, há distritos onde há muito poucas, e os candidatos desses distritos tem que esperar muitos anos, mesmo quando no distrito ao lado há crianças para as que supostamente não há pais.

 

Evidentemente a pergunta com que inicio o post ficou sem resposta, a verdade é que cada serviço de adopção olha para o seu quintal, as suas crianças,  os seus candidatos e é incapaz de fazer um esforço por olhar para o lado, para ver se no quintal do lado há uns pais para aquela criança que está à espera há anos, ou uma criança para aqueles pais que desesperam há anos.

 

A sensação com que fiquei ao fim do dia na passada segunda feira, é que por muita vontade que se tenha, por muitas ideias, por muitos sonhos, a segurança social é uma montanha enorme, há muita gente, muitos quintais, e por muito que se olhe para os problemas, não há na montanha quem tenha vontade de a mover.

 

Dizem que a fé move montanhas, infelizmente neste caso não me parece que exista fé que faça mudar o que quer que seja.. a segurança social, as muitas equipas de adopção são uma montanha grande demais e nem toda a fé do mundo irá mudar esta montanha.

 

 Jorge Soares

 

Publicado inicialmente no blog:O que é o jantar?

 

 

 

publicado por Jorge Soares às 19:04
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Domingo, 18 de Outubro de 2009

Livro:A criança que não queria falar

A criança que não queria falar

 

Sheila é uma menina de seis anos que rapta um menino de três, o ata a uma árvore e lhe prende fogo. É praticamente assim que começa o livro, uma criança que comete um acto irracional e que é condenada a ser internada num hospital psiquiátrico, como não há vagas no hospital, é colocada temporariamente numa escola onde há uma turma de crianças especiais.

 

Nesta turma há uma professora que se interessa realmente pelos seus alunos e que descobre que por detrás de toda a raiva e rebeldia há uma mente brilhante e uma criança como as outras, que simplesmente necessita de carinho e de atenção.

 

Sheila foi abandonada pela mãe que a atirou de um carro em andamento numa auto-estrada, vive com o pai, um homem  alcoólico e toxicodependente mas orgulhoso, num campo miserável e sem condições. Só tem uma muda de roupa que utiliza dia trás dia, mas o pai nega-se a que lhe ofereçam outra, eles não precisam.

 

Este foi um livro que me tocou, porque fala de abandono, de crianças difíceis e dos desafios que se colocam na educação de crianças que foram abandonadas.

 

O abandono é algo que marca uma criança para toda a sua vida, e essas marcas vão surgindo nas diversas fases do seu crescimento, eu sei, porque há coisas ali, poucas felizmente, que vi no meu filho.

 

O livro fala sobre a Sheila, sobre a sua professora, sobre o como ensinar e tratar crianças diferentes, mas fala também sobre o trauma do abandono, sobre as marcas que este deixa nas crianças, sobre as suas fragilidades e sobre como algumas coisas se devem tratar.

 

Há livros que nos marcam pela história, outros pela forma como estão escritos, outros porque os lemos na altura e circunstancias certas das nossas vidas, este livro marcou-me porque sou pai. Um livro que todos os pais adoptivos ou não deveríamos ler e  que todos os professores deveriam ler.

 

Post publicado inicialmente no blog O que é o jantar?

Jorge

PS:imagem retirada da internet

 

 

publicado por Jorge Soares às 20:08
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Segunda-feira, 12 de Outubro de 2009

Adopção:Como a justiça portuguesa pode ser surreal

 Adopção, há coisas na justiça portuguesa que são surreais

 

Há uns tempos escrevi um post que tinha por titulo: Adopção:Sou mãe adoptiva - preciso desabafar,  e que aconselho a irem ler aqui, entre outras coisas aquela mãe dizia o seguinte:

 

"Eu e o meu marido, fizemos o nosso processo de adopção correctamente, através da Seg. social e estivemos quase cinco anos à espera que o telefone tocasse. Temos a viver connosco duas  irmãs já fez um ano. Quando vieram viver connosco, tinham sete e quatro anos. Recentemente, fomos à audiência para a adopção plena e qual não é o nosso espanto, quando o juiz nos diz que por ele estava tudo muito bem, mas que no nosso processo falta um documento - o da autorização dos pais biológicos - e que portanto tinha de pedir ao tribunal onde foi decretado que as crianças iam para adopção, que verificasse se se tinha extraviado, senão teria de mandar a GNR ir à procura dos pais biológicos para obter o seu consentimento!!!! (nesta altura do campeonato!)."

 

Recebi um mail da mesma mãe, que para além de me deixar muito feliz por ela e por aquelas duas crianças, me deixou perplexo, a forma como as coisas se terminaram por resolver é no mínimo surreal e mostra o quanto a nossa justiça mais que depender das leis, depende das pessoas e da forma como estas olham para os assuntos.. vejam lá se isto não é surreal?

 

 

Está tudo resolvido, a sentença já saiu e as alterações de nomes das meninas já seguiram para a conservatória!! 2ª feira já vou pedir as novas certidões de nascimento e fazer a marcação para emissão dos cartões únicos!!! Agora já ninguém mos tira!!!

Agora, quer saber como se resolveu tudo?? Depois daquele inferno para o qual nos vimos violentamente atirados, tivemos a felicidade da juíza ir de licença de parto e o Juiz que ficou com o nosso caso decidir logo que a adopção plena estava decretada!! Já viu?? É óbvio que nós ficámos felicíssimos, mas não deixo de pensar como é incrível poder haver duas decisões tão diferentes, como pode ser uma questão de sorte ou azar, cair nas mãos de um juiz ou de outro!!! Se a senhora não tem ido de licença, nós ficávamos numa situação inacreditável, porque, para cúmulo, como se já não bastasse o medo de qual seria a reacção da mãe biológica, não nos era facultada qualquer informação!! 

 

Eu sei a angustia porque passaram estes pais, nós passamos por algo muito parecido no nosso primeiro processo de adopção, e sei o que pode doer a incerteza do que poderá acontecer... este tipo de coisas não deveria acontecer, é evidente que as leis devem ser cumpridas, mas será que há algum motivo para fazer sofrer as pessoas desta forma?

 

Jorge Soares

Post Publicado no blog:O que é o jantar?

 

publicado por Jorge Soares às 23:31
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Segunda-feira, 5 de Outubro de 2009

Adoptar em Portugal.. como as injustiças matam os sonhos

Adoptar em Portugal..e o sonho vai morrendo

Imagem retirada da internet

 

 

Ando há uns tempos a adiar o meu post mensal sobre a nossa espera, durante o verão a nossa esperança por um rápido desenrolar do nosso processo foi crescendo, as noticias eram animadoras.... até ao fim do verão... O verão passou, e nós esperamos. Esta semana a P. ligou para a segurança social de Setúbal, há um ano as perspectivas eram dois anos de espera, agora passou para três.. seria um balde de água fria... não fosse nós já estarmos habituados a este tipo de coisas.

 

Há pouco estava a ler este texto da Susana e fiquei a pensar, em como se matam os sonhos. Porque a verdade é que à medida que o tempo vai passando, o sonho vai morrendo... os sonhos não morrem????!!!!... mas pouco a pouco vamos deixando de acreditar.... vamos tendo menos capacidade para sonhar.

 

O caso da Susana é muito especifico, ela quer uma criança até um ano, e todos sabemos que há muito poucas crianças com essas características, mas nós queremos uma criança até à idade escolar, sem descriminação de raça e deixamos claro que poderíamos aceitar uma criança com alguns problemas de saúde....

 

Entretanto a raiva vai crescendo dentro de mim cada vez que sei de mais um caso de alguém que se inscreveu depois de nós e recebeu uma criança com as características que colocamos.... é uma raiva que vai crescendo devagarinho... é claro que todos estes casos são em Lisboa, mas será justo que as pessoas de Lisboa passem à frente de todo o resto do país?

 

Não me vou estender... só deixo aqui um comentário da mesma Susana

 

"Mais uma vez, ontem vi na SIC no novo programa da Fátima Lopes 2 mulheres que adoptaram crianças uma com 19 mêses e outra com 15 dias. Como é possivel adoptar uma criança com 15 dias? Então não nos dizem que até a criança ter o processo resolvido leva cerca de um ano? A Srª que adoptou a criança de 19 mêses esteve 4 anos à espera, a outra não sei porque não ouvi a reportagem desde o inicio. Ao ver estes testemunhos ainda me sinto mais revoltada e desmotivada."

 

Não há maneira absolutamente nenhuma de que alguém receba pela via legal, uma criança de 14 dias..... será que não há quem investigue estas coisas?

 

 

Porque

não vens agora, que te quero

E adias esta urgencia?

Prometes-me o futuro e eu desespero

O futuro é o disfarce da impotência....

 

Hoje, aqui, já, neste momento,

Ou nunca mais.

A sombra do alento é o desalento

O desejo o imite dos mortais.

 

Miguel Torga

 

Jorge Soares

 

Texto publicado inicialmente no Blog O que é o jantar?

publicado por Jorge Soares às 22:48
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Domingo, 20 de Setembro de 2009

Adopção:E o sonho vai morrendo

Adopção, e o sonho vai morrendo

 

Chamo-me Susana, somos um casal infértil jà hà 19 anos. Inscrevemo-nos na adopção em Março de 2004 para uma criança até 1 ano sem preferência de sexo, caucasiana, e sem problemas. Disseram-nos logo que era muto complicado, porque eu na altura tinha 34 anos e o meu marido 42 respectivamente.

 

Mesmo assim, passados 6 mêses o nosso processo estava concluido e estavamos aprovados para adoptar uma criança.


Desde essa altura e até 2008 a única palavra que tiveram conosco foi simplesmente uma carta que recebemos em 2006 a perguntarem se ainda estavamos interessados em mantermos o processo, obviamente que a resposta à carta foi afirmativa.


Em 2008 decidimos deslocarmo-nos à Segurança Social de Lisboa (minha área) para saber como estava a decorrer o nosso processo. Se quando me inscrevi a lista de espera estava em 4 a 5 anos, o que nos foi dito em 2008 é que as listas de espera estavam em 7 anos e que tinhamos que esperar, perguntei se podiamos alongar a idade da criança, foi-nos dito que não valia a pena, que quem espera 5 anos também espera mais 2.


Esperar...esperar...esperar...como se diz a um casal que espera 5 anos por um filho do coração para continuar a esperar? 


Em Maio fiz uma carta ao Director da Segurança Social a pedir resposta em relação ao nosso processo. A resposta foi a mesma...7 anos de espera para uma criança no distrito de Lisboa.


Estou a pensar fazer um mail, mas sinceramente não sei se vale a pena.


Neste momento tenho 39 anos e o meu marido 48. Muito provavelmente outros casais já passaram à nossa frente porque são mais jovens, mas quando nos inscrevemos também eramos jovens...


Passaram 5 anos e meio, não sei quantos mais terão que passar...não sei se quando fizer os 7 anos de espera a lista não sobe para os 10...não sei...só sei que desejamos muito um filho, temos um amor imenso para dar, e sei que está uma criança algures à espera do nosso amor, mas sem saber muito bem porque é que nos nos privam dessa oportunidade.


Susana Pina

A Susana é a autora do Blog Sonho ter um Filho

publicado por Missão Criança às 21:21
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Sábado, 18 de Julho de 2009

adopção:Pais do coração

Adopção;Pais do coração

 

Recebi as perguntas por mail há bastante tempo, a publicação foi sendo adiada,  saiu este Sábado na Revista Ns do DN e Jornal de Noticias, o link está aqui para quem quiser ler, como há sempre muito mais a dizer e eu disse muito mais, deixo aqui as perguntas que me foram enviadas pela jornalista e as minhas respostas.

 

Não gostei do titulo... mas também não tenho nada de gostar.

 

 - No seu caso específico, que razões o levaram a abraçar esta problemática das adopções e do direito de todas as crianças a um lar de amor?

 

Sou pai adoptivo e biológico e neste momento candidato à adopção, o meu primeiro processo foi à mais de 10 anos e na altura sentimos muita falta de informação e de apoio. Um processo de adopção é sempre doloroso, a maior parte do tempo existe um enorme vazio e sentimos a  falta de podermos partilhar com outras pessoas. Após a adopção o sentimento mudou, mas o vazio continuava ali, a necessidade de sentir apoio e de partilhar com outras pessoas que estivessem ou tivessem passado pelo mesmo que nós mantinha-se. Com o tempo criamos um grupo de discussão, o grupo nós adoptamos e foi como uma bola de neve que foi crescendo, fiz parte do grupo que organizou os dois primeiros encontros nacionais de adopção, ambos em Setúbal, e a proximidade com pais e candidatos fez com que interiorizasse a problemática da adopção nas suas várias vertentes.

 

- Sendo o acolhimento familiar de crianças uma medida que pressupõe o seu bem-estar e a vontade de ajudá-las em primeiro lugar, como se explica que haja tantos casos (e tão fortemente mediáticos) de disputas com os pais biológicos?

 

Na verdade não há assim tantos casos, não faço ideia quantas crianças existirão em acolhimento, mas dois ou três casos não são muitos casos, para mais que os dois mais mediáticos, o da Esmeralda e o da Alexandra, são casos que passaram ao lado da segurança social e não são casos de acolhimento.  Passaram  à margem da lei e por isso se tornaram casos judiciais e depois em casos mediáticos por força da cobertura jornalística a que foram sujeitos... e diga-se de passagem que eu acho que a comunicação social fez um péssimo trabalho em ambos os casos.

 

- O que funciona mal no sistema que permite que tais situações aconteçam?

 

Nestes casos o que funcionou mal foram as pessoas que subverteram todo o processo, se as crianças tivessem sido entregues à Protecção de Menores em lugar de a casais que não estavam habilitados para os receberem, nada disto tinha acontecido. O acolhimento familiar está legislado e funciona, o que acontece é que muitas vezes as pessoas utilizam esquemas para tentar abreviar os processos de adopção, e depois utilizam a comunicação social para chamarem a atenção para situações que nunca deveriam ter existido.

 

- Uma vez que os laços afectivos de quem acolhe pelas crianças são inevitáveis, faz sentido que a lei não abra caminho para a adopção por parte das famílias de acolhimento interessadas em ficar com a criança? Mesmo nos casos em que a alternativa é o regresso à instituição ou a uma família biológica que venha a revelar-se incapaz de tratar convenientemente d@ filh@?

 

É  preciso entender que as crianças que vão para acolhimento são as que não tem como projecto de vida a adopção, se o objectivo final fosse a adopção, elas não passariam por famílias de acolhimento, iriam directamente para a adopção e para uma família que as desejasse e que estivesse disposta a dar amor e carinho. Se vão para acolhimento é porque o tribunal entende que não serão adoptadas, se tivermos em conta este princípio, a pergunta nem faz sentido. Por outro lado, as famílias de acolhimento são informadas desde o inicio qual a situação da criança e do facto que não a vão poder adoptar, as pessoas vão para o acolhimento conhecendo todos os factos. O que acontece é que há muita gente que tenta utilizar o acolhimento como um método rápido para a adopção, acham que todas as crianças que vão para acolhimento são crianças que foram abandonadas e maltratadas, evidentemente isto não é verdade, há muita gente que passa por dificuldades e prefere entregar os seus filhos ao estado a que estes passem necessidades.. e há quem refaça a sua vida.

 

Nos casos em que a família não consegue refazer a sua vida, as crianças vão para adopção e há muitíssimos candidatos disponíveis, pessoas que foram avaliadas e aprovadas como aptas, o que não aconteceu com as famílias de acolhimento.

 

- A legislação portuguesa relativa ao acolhimento familiar temporário está ao nível da de outros países com realidades semelhantes?

 

Eu não conheço a legislação dos outros países, mas não acho que a legislação portuguesa esteja errada, o que está errado é muitas vezes a mentalidade das pessoas, que tentam a todo custo subverter as leis em seu favor.

 

- O que precisava de mudar para garantir uma maior prática de acolhimento familiar (e por conseguinte uma menor institucionalização), uma preparação suficiente das famílias que recebem as crianças e um acompanhamento adequado de todos os casos?

 

Há muitas coisas a mudar, mas eu nem acho que o problema esteja no acolhimento familiar, em primeiro lugar haveria que mudar os juízes, a maioria dá uma clara primazia ao biológico, a tendência é dar oportunidades aos pais, espera-se sempre que estes recuperem, dão-se todas as oportunidades aos pais e à família biológica e nenhuma às crianças, entretanto estas esperam anos, vão crescendo em centros de acolhimento sem conhecer o carinho de uma família, sem amor.  Quando finalmente alguém decide que não vai haver recuperação, a criança perdeu uma parte da sua vida e já tem 7 ou 8 anos,  com essa idade já não há quem a queira. Por outro lado muitos centros de acolhimento não tem equipas capazes para encaminhar os processos, mesmo que as famílias não apareçam, as crianças não são sinalizadas, há centros de acolhimento em Portugal de onde nunca saiu uma criança para adopção, as crianças representam um rendimento mensal muito alto e nem sempre se pensa primeiro no bem estar delas.

Sou presidente e um dos fundadores da Missão Criança, uma associação que tem por objectivo precisamente a defesa destas crianças.

 

- E em relação à adopção: porque é que a maioria dos processos acaba por se revelar tão complicada em Portugal?

 

Na verdade os processos não são complicados, um processo de adopção é muito simples, basicamente respondemos a um questionário e participamos me 3 entrevistas, o problema é que em Portugal há muitos mais candidatos que crianças para adoptar, das 11000 crianças entregues ao estado só perto de mil tem como projecto de vida a adopção, logo, existem tempos de espera muito longos, porque há poucas crianças e muitos candidatos.

 

- Conhece algum caso específico em que a família de acolhimento temporário se dê bem com a biológica em nome do bem-estar primeiro da criança?

 

Não, conheço muitos famílias que adoptaram ou que pensam adoptar, mas não conheço famílias de acolhimento.

 

- Como é que se poderia, de forma efectiva e célere, garantir o delinear de um projecto de vida adequado para cada criança?

 

Teria que se pensar sempre em primeiro lugar na criança, e não na família biológica.

 

- No caso da Esmeralda a decisão do tribunal foi a mais acertada, tendo em conta o equilíbrio da menina e o facto de ter sido a família de acolhimento a criá-la nos primeiros cinco anos de vida (uma idade decisiva)? E no caso da pequena Alexandra, a menina russa?

 

No caso Esmeralda existiram muitas decisões dos tribunais, a primeira foi quando a criança tinha 8 meses, se em lugar de criar uma guerra na justiça, tivessem entregue a criança nessa altura, a sua pergunta nem se colocava. O problema é que aquela família tentou por todos os meios contrariar a lei e os tribunais, só eles são culpados de que a situação se tenha arrastado. Eles só ficaram com a criança até aos cinco anos porque nunca cumpriram a lei e as ordens do tribunal. É evidente que com 5 anos a criança sofreu, mas de quem foi a culpa?

 

No caso da Alexandra nunca existiu abandono, eu vi a entrevista que a família deu à RTP e o que foi dito ali mostrou que a mãe esteve sempre presente, as leis existem para defender as crianças.

 

Estes casos constituem precedentes que podem ser muito graves, porque podem dar a ideia de que basta arranjarmos alguém que nos dê uma criança para ela ser nossa e isto pode abrir caminho a muitos esquemas, inclusivamente ao tráfico de crianças, eu sou candidato à adopção, no primeiro processo esperei 3 anos, neste estou à espera há um ano, se alguém me disser que um caso como o da Esmeralda passa a ser legal, vou ali à esquina, levo um maço de notas e arranjo alguém que me dê uma criança, ou mando vir uma de uma favela do Brasil, ou arranjo uma prostituta Russa que tenha uma para mim... é muito mais fácil e mais rápido que aturar assistentes sociais e estar anos à espera que o telefone toque... é preciso ver que estes casos são muito perigosos para o futuro da adopção em Portugal... por isso sim, eu acho que em ambos os casos a justiça esteve bem.

 

Jorge Soares

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Terça-feira, 14 de Abril de 2009

Adopção:Crianças devolvidas, porquê?

Crianças devolvidas
 
Não me lembro quando foi a primeira vez que ouvi falar de crianças devolvidas por pais adoptivos, mas como devem imaginar é um assunto que me choca, se já é mau que uma criança seja abandonada, imaginem o que sentirá quando é abandonada uma segunda vez.  É difícil sequer imaginar o que possa sentir uma criança que por vezes está anos à espera, uma criança que muitas vezes anseia por uns pais que lhe dêem amor e carinho e que quando finalmente acha que os encontrou, é posta de lado como se de um brinquedo defeituoso se tratasse, conseguem imaginar o que se possa sentir?
 
Já ouvi umas 4 ou 5 histórias de devoluções de crianças, ontem um dos jornais falava de um casal que devolveu uma criança porque ela não se conseguiu entender com o cão da família. Acreditem ou não, este não foi o caso que mais me chocou. O caso de devolução que mais me chocou foi um em que o motivo para a devolução era... que a criança era carinhosa demais. A candidata a mãe (ia dizer mãe, mas há pessoas que não merecem esse nome) dizia que a criança se tinha apegado demais a ela, que só queria beijinhos e abraços e que nem no centro comercial desgrudava. Quando me contaram isto eu simplesmente não consegui acreditar.... 
 
Segundo  o mesmo jornal, no últimos 4 anos 80 crianças foram devolvidas aos centros de acolhimento, há uns meses o número era de 70, agora passou para 80, não faço ideia de onde tiraram a informação, mas eu entendo que mais que o número, o que interessa aqui é  perceber o que falhou, sim, porque é muito fácil deitar as culpas para quem devolve a criança, mas falta o resto, e o resto está evidentemente em quem avaliou e aprovou essas pessoas como candidatos a adoptar.
 
Os processos de adopção demoram pelo menos 6 meses, é necessário responder a questionários com muitas e complicadas questões, são necessárias entrevistas sociais e psicológicas.... o que falha?
 
Do meu ponto de vista falham muitas coisas, evidentemente que em primeiro lugar falham os candidatos, para a adopção é necessário ir com o coração, há muita gente que só vai para a adopção em ultimo recurso, quando já esgotaram todos os restantes recursos, pessoas que sonham e anseiam com um bebé, sangue do seu sangue...e que depois quando recebem uma criança que de bebé já não tem nada, quando lhes entra pela casa dentro um estranho com vontade própria e que muitas vezes tem uma historia de vida que não se recomenda a ninguém, simplesmente concluem que não são capazes.
 
Mas será que estas situações não deveriam ser detectadas pelas equipas de avaliação? Do meu ponto de vista é claro que sim, se a maioria dos processos até leva mais que os seis meses de lei, porque é que estas coisas acontecem, como é que uma psicóloga não detecta algo estranho numa mãe que depois devolve uma criança porque é carinhosa demais? 
 
Este é um tema muito complicado, mas termino como comecei, no meio de tudo isto quem sofre são as crianças, ser abandonado uma vez, ser colocado num centro de acolhimento onde muitas vezes não se passa de mais um numero, ser esquecido pela família e pelo estado e quando finalmente se pensa que se encontrou uma vida...ser abandonado de novo como se de uma peça defeituosa se tratasse..deve ser algo que marca para toda a vida...e nenhuma criança deveria ter de passar por isso.
 
Adoptar uma criança não é fácil, não tem nada a ver com passar-se 9 meses a ver crescer uma barriga, pensar nos nomes que iremos escolher, ver as fotografias das eco grafias, sonhar com a cor dos olhos, adoptar não é nada disso. Adoptar é receber nos nossos braços um ser humano que existe, um ser humano que já viveu e que muitas vezes tem opinião e maus hábitos. Adoptar  é receber em nossa casa um estranho que não nos diz nada e que de um dia para o outro veio para ficar.
 
A maioria dos candidatos cria expectativas, sonha com esse filho que tanto deseja, idealiza pessoas e situações, acreditem em mim, a probabilidade de que as coisas sejam como as idealizaram.. é muito pequena... mesmo muito pequena... e na maior parte dos casos, não é nada fácil, porque não podemos esquecer que estamos a falar de crianças que já foram marcadas pela vida muito antes de nos conhecerem. Por isso, adoptar tem que vir do coração.
 
Jorge
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Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2009

Adopção:Então e os genes?

Adopção

 

 

Não sei se alguém se lembra do post em que falava dos genes e das duas mulheres cá de casa?... certo certo é que desde então o clima de guerra está instalado, e os dois homens já estamos a pensar pedir asilo algures... mas disso já falarei outro dia 

 

Estes dias recebi um email em que alguém dizia o seguinte:

 

Acho que a maior dificuldade é não sermos um casal infértil e ninguém perceber porque é que podendo ter filhos biológicos alguém se propõe adoptar uma ou mais crianças. è recorrente a questão mas não queres ver os teus traços na criança, mas e os genes perdem-se e blá blá blá...

 

Não é uma conversa que não tenha escutado antes, eu e todas as pessoas que optaram por adoptar mesmo podendo ter os seus filhos biológicos. Não consigo perceber porque é que as pessoas acham que os genes do meu filho adoptado não são melhores que os meus, ou porque é que eu haveria de preferir os meus genes a outros qualquer... mas deve haver alguma razão lógica..... aliás, atendendo ao post que referi no inicio... bem que tínhamos dispensado alguns dos genes da R... que o N.  é bem menos reivindicativo.

 

Mas voltando ao mail, vou de novo socorrer-me da resposta da Sandra:

 

tal como vocês também nós não somos inférteis (que saibamos, porque nunca tentámos engravidar nem queremos!). A recepção por parte da nossa família e amigos até foi bastante boa, mas a verdade é que já estavam preparados para tal. A mim desde sempre me ouviram dizer que não queria ter filhos (por uma multitude de razões que vão muito além das questões da adopção, da protecção à infância e que se prendem com formas específicas de '"ver" o mundo). Todas essas razões, levaram a que a adopção de uma criança (quando a vontade de sermos pais surgiu) fosse a escolha mais óbvia e lógica.

 

Apesar da desilusão da mãe do meu companheiro e também da minha, a aceitação foi muito boa e a minha filha hoje (e desde o início) está perfeitamente integrada na família. 

 

Mas é claro que também tivemos de responder a algumas questões como as que indicaste. Essa dos genes então tira-me do sério. Normalmente, a minha resposta é "quem lhes disse a eles que os seus (e meus) genes eram melhores do que os de outra pessoa qualquer no mundo?!". Tentei sempre explicar também porque é que os genes, a biologia, o sangue e a carne não significam nada para mim. O que me importa são os afectos. E exemplos de como isto é verdade não faltam à nossa volta. Na sociedade, no nosso círculo de amigos, no seio da nossa própria família! 

 

Esses impulsos de transmitir os genes, deixar descendência biológica, etc..., funcionava em tempos muito, muito remotos, em que o objectivo humano era, como o de qualquer outra espécie a sobrevivência e a evolução. Não quer dizer que hoje, esses impulsos não existam, mas existem também uma série de outros factores com um peso enorme e o facto de, enquanto seres racionais que somos, podermos e termos o dever de ponderar todos os condicionantes.

 

No seguimento disto e em relação às dúvidas das pessoas, sobre o porquê de não querer ter filhos biológicos, a resposta é também, para mim, óbvia:

 

- O planeta está sobrelotado.

- Os recursos, por mais que as pessoas teimem em ignorar esse facto, são finitos.

- Toda a ideologia política, económica e social na qual se baseiam as sociedades actuais, aniquila-me qualquer ponta de optimismo em relação a «esta» humanidade. 

 

Considerando tudo isto (e muito mais, mas se começo nunca mais paro!), porque razão é que eu quereria pôr mais um ser humano cá?! Para mim isso simplesmente não faz sentido.

 

- Depois, também acresce a questão da prioridade: já cá estão crianças sem família. Neste mundo. Já existem. Estão primeiro do que as que ainda não existem! Parece-me lógico, não? Então primeiro há que tratar destas. É tão simples quanto isso. 

 

Esgotados todos os argumento lógicos, resta-nos o inestimável direito de decidirmos sobre a nossa própria vida: "É assim que vai ser porque eu quero. É a minha/nossa vida e eu/nós é que decidimos. Se querem apoiar, muito bem. Se não querem, olhem, vão dar banho ao cão!"

 

Sandra..... tu és demais!

 

Post publicado inicialmente no blog:O que é o jantar

 

Jorge

 

PS:imagem retirdada da internet

 

publicado por Jorge Soares às 23:27
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Domingo, 18 de Janeiro de 2009

Crianças mais velhas?... claro que sim!

Adopção de crianças mais velhas
 
Esta semana recebi no meu email uma mensagem que chegou do grupo Nos Adoptamos
 e que entre outras coisas dizia o seguinte:
 
"Estamos a pensar adoptar uma criança entre os 5 e os 7 anos porque há  muitas crianças dessa faixa etária por adoptar e porque, pelo menos em  teoria, será um processo mais rápido. No entanto, uma pessoa conhecida aconselhou-nos a adoptar uma criança com 5 anos no máximo, porque após  essa idade já começam a ter uma personalidade bem vincada e mais  dificilmente moldável. Partilham desta opinião? O que é que a vossa  experiência vos diz?"
 
Há pessoas que ainda acreditam que as crianças são moldáveis, está-se mesmo a ver que não conhecem os meus filhos. O meu filho foi-me entregue com 1 ano, tenho uma filha biológica e pelos vistos devemos ser uns péssimos pais, porque cada um tem a sua personalidade..... que por certo são a antítese um do outro, e acreditem em mim, se eu pudesse mudava ambos. No outro dia e ante as queixas das professoras de um e de outro, a P. virou-se para uma das professoras e disse:
 
- Deus fez um péssimo trabalho com os meus filhos, conseguiu dar a mais a um exactamente o que deu de menos ao outro.
 
Uma criança é uma criança, não há duas iguais, conheço casos de adopção de bebés que à medida que crescem são uns autênticos terroristas e casos de crianças que foram adoptadas com 6 e 7 anos que são os filhos que todos sonhamos ter. 
 
A Sandra, na sua resposta ao email dizia o seguinte:
 
"Acho que as pessoas confundem a necessidade de 'impor regras' ou de ' estabelecer alguma disciplina ou organização' com o 'moldar a personalidade' ou 'obrigar a criança a obedecer cegamente'. A imposição de regras, de disciplina ou organização, mesmo com crianças teimosas como a minha ou desorganizadas ou qualquer outra coisa, acontecem naturalmente se lhes explicarmos o porquê dessas regras e disciplina, a função delas, o que acontece se não forem observadas. Não é necessário 'moldar' coisa nenhuma. Nem é necessário, nem sequer é possível. Daí essa observação não fazer sentido.

As crianças com cerca de 5, 6 ou 7 anos, começam é a desenvolver mais e melhor outras capacidades - de expressão, de pensamento abstracto, etc... Agora a personalidade não está em stand by e não se começa a desenvolver com mais afinco a partir de determinada idade! 

Outra grande vantagem das crianças mais velhas é que já têm uma compreensão da realidade muito mais profunda e concreta do que as crianças mais novas (resultante do desenvolvimento de competências e não do desenvolvimento da personalidade) que, no meu caso, tornaram toda a integração e adaptação muito, mas muito mais fácil."
 
Normalmente estou de acordo com a Sandra, desta vez faço minhas as palavras dela...  literalmente.
 
Qualquer criança adoptada passou por um abandono, e isso vai viver com ela para o resto da sua vida. Podemos pensar que as crianças mais pequenas sofrem menos com isso, ou que são menos marcadas, a minha experiencia diz-me que isso não é verdade, o meu filho cresceu com o facto de ser adoptado, e à medida que ia crescendo e tomando consciência do que isso significa, ia reagindo... umas vezes melhor, outras pior, mas é algo que todos tem de enfrentar. Se pensarmos bem, uma criança mais velha já interiorizou o facto, na maioria das vezes já o aceitou e está tão desejosa de uma família, de amor e carinho, que se vai entregar de alma e coração aos novos pais.
 
Post publicado inicialmente no blog:O que é o jantar 
 
Jorge
PS:Sandra, eu sei que plagiar é feio... obrigado
PS:O grupo de mail Nós adoptamos é um grupo de discussão onde participam, pais, candidatos e adoptados.

  

publicado por Jorge Soares às 19:19
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Domingo, 4 de Janeiro de 2009

Adopção:A lei diz seis meses....

Imagem retirada da internet

 

Em Setúbal o tempo não está a ser cumprido e no resto do país ?

A minha própria experiencia, leva-me a afirmar que em Setúbal o tempo de 6 meses estipulado por lei para se avaliar os candidatos à adopção não está a ser cumprido.

E no resto do País como estamos?

Deixe aqui o seu testemunho!

  

publicado por Missão Criança às 21:38
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Sexta-feira, 28 de Novembro de 2008

ADOPÇÃO EM PORTUGAL: Uma História de Terror

Adopção em Portugal, Nós adoptamos

Imagem retirada da internet

 

Imagine que um dia é acometido de um forte e incontrolável desejo de ser pai ou mãe em Portugal, por processos que nada têm a ver com os biológicos. Nada mais perigoso. Esse ímpeto, normalmente entendido como um sinal de generosidade e afectividade, é no nosso país convertido numa força maligna que se vira contra a vida dos sujeitos donde parte, os quais rapidamente se transformam num número de ordem numa lista secreta e macabra que parece ter por fim retirar anos de existência a um conjunto de seres que dela depende. O número do ano em que tomou essa decisão é ele mesmo negro. Pode ser 2001, 1998 e até 1996. Sim, há mais de onze anos que potenciais candidatos a exercerem a sua paternidade aguardam ainda pelo facto extraordinário de se tornarem pais, que no nosso país é quase um fenómeno sobrenatural. Para que este aconteça, os profissionais envolvidos no processo aconselham os candidatos a terem muita fé e crença, como se estes dependessem dos poderes especiais de alguma entidade divina. Embora muitos deles não percam o seu fervor religioso, todos os potenciais candidatos perdem algo muito importante e real: anos de vida. Numa inexplicável espera, desperdiçam-se anos de afecto, partilha e convivência que provocam danos físicos e psíquicos irreparáveis. Para não os provocar, necessário seria que tanto crianças como pais não fossem humanas. Só assim seria possível resistir a um processo de adopção que ainda não entendeu que o melhor método de o tornar eficaz é simplesmente não criar problemas onde eles não existem e confrontar-se com as gravidades que ignora. Algumas delas encontram-se nas estatísticas assustadoras que referem os milhares de crianças que resistem encarceradas nas várias instituições, à espera de adopção. Segundo fontes oficiais, apenas 305 crianças portuguesas das 15 mil a viver em instituições estão aptas para serem adoptadas. Em 2006, 1.933 candidatos a pais adoptivos tinham já sido avaliados pelos serviços da Segurança Social e estavam em condições de adoptar, contudo mais de 400 continua ainda em lista de espera desde 2003. No entanto, estes dados não são suficientes. Há sempre aqueles que não acreditam em estatísticas, ou se as reconhecem, assumem que afinal quem tem parte da culpa são exactamente os candidatos a pais que se recusam a adoptar crianças com mais de três anos de idade, pois nas histórias de terror há sempre reversões de papéis em que muitas vítimas se transformam em vilões. A verdade é que tal não pareceria uma opção malévola, se o sistema tivesse a seu tempo resolvido, com a celeridade devida, todos os processos, impedindo que qualquer criança ficasse nas instituições de acolhimento para além dos três anos de idade.

 

A esta evidência de erro processual juntam-se outras, como é o caso da resposta à questão nº 32 do formulário do questionário individual à adopção, que requer resposta à seguinte pergunta: “Quando pensa na adopção idealiza uma criança com que idade, sexo e etnia?”. Se o candidato for totalmente sincero para com os seus ideais, arrisca-se a permanecer em lista de espera eternamente, como alguém que joga num jogo de sorte e nunca vê contemplado o número em que apostou.  Se tiver idealizado uma menina até 4 anos e mais tarde surgir um rapaz de 5, ninguém o contactará, pois o técnico responsável passará para o candidato seguinte, alegando que essa criança não fazia parte do seu projecto de vida, e como tal não lhe seria adequada. E assim se arrastam infinitamente muitas candidaturas a pais que dependem de um processo rígido e formatado para parecer objectivo e rigoroso, mas que acaba por ser profundamente cruel e obtuso nos seus métodos, sendo totalmente desprovido de flexibilidade mental, inteligência emocional e sentido de urgência que as situações exigem. Tanto quanto sei, a existência de filhos de pais biológicos nunca dependeu deste tipo de questões, pois se o dependesse depressa baixariam drasticamente as taxas de natalidade. Este facto deveria ser mais considerado no sistema de adopção, sobretudo quando se detém excessivamente nesse conceito de “ideal” aplicando-o também à selecção de pais para as crianças, pois essa mesma fixação numa utopia, desactualizada e desajustada da realidade, é responsável por se continuar a preferir casais a candidatos singulares, ignorando completamente certos estudos sérios sobre a matérias (1) que, atentos às reais disfuncionalidades das famílias tradicionais, vêm comprovar o sucesso da adopção por esta espécie de candidatos detentores de uma maior resistência e confiança em enfrentar dificuldades, sendo igualmente possuidores de uma qualidade da componente afectiva preservada pela serenidade do clima familiar que proporcionam, o que permitiu afirmar a Eduardo de Sá, em “ A Família por dentro e por fora”, que “uma família onde só a mãe ou só o pai desempenham uma função educativa pode ser, e é-o em muitas circunstâncias, uma família melhor que muitas ditas tradicionais.”(p.13 Xis, 2003).  Tudo isto para dizer que, se existe uma lista ordenada de candidaturas, essa ordenação deveria ser respeitada independentemente das características dos candidatos e de algumas das suas preferências de maior pormenor, as quais só deveriam servir para traçar um perfil dos seus desejos, útil em certos casos, mas não para vinculação definitiva a uma opção que poderá nunca concretizar-se na prática, pois como sabemos a realidade nem sempre corresponde aos nossos sonhos e não será por isso que alguém se tornará num mau pai ou mãe, já que neste, como noutros aspectos, os pais adoptivos não são menos humanos do que os pais biológicos, sendo bom não esquecer que ambos pertencem à mesma espécie.

 

Deste facto se esquecem muitas vezes os técnicos responsáveis, eles próprios também sujeitos a um inoperante mecanismo burocrático que os impede muitas vezes de se lembrarem da sua humanidade. Com imensos casos para darem resposta, detêm em seu poder uma lista ordenada de candidaturas que os próprios candidatos desconhecem ignorando a sua posição e evolução da mesma, assim como os critérios de selecção a que obedecem. Presos em difíceis decisões em que imperam critérios subjectivos e estereotipados, que os fazem preferir casais a candidatos singulares, indivíduos do sexo feminino aos do sexo masculino, candidatos mais jovens a outros mais velhos, etc, certos profissionais responsáveis pela adopção, não assumem, na maior parte das vezes, esta responsabilidade, atribuindo aos tribunais a razão da lentidão dos processos e às instituições de acolhimento o motivo de certas preferências de selecção. Se questionarmos o outro lado, dir-nos-ão exactamente o inverso e assim se mantêm ad eternum muitos candidatos, cuja única culpa que sentem possuírem é a de necessitarem candidatar-se a tão absurdo e injusto impasse. Para minorar este compasso de espera, é-lhes agora sugerido alguns momentos de paciente e pedagógica leitura, pois será lançado, até ao final do ano, um manual de formação para quem queira adoptar uma criança. Com todo o devido respeito pela intenção de esclarecimento e futura utilidade desta obra, lembro que nenhum pai ou mãe biológicos são obrigados a ler um livro de instruções para assumirem a sua paternidade, podendo-se até concordar que em muitos casos tal devesse ser obrigatório, devendo todos os casais receber no acto matrimonial uma lista bibliográfica de leituras extensivas. Mas a verdadeira razão de ser desta obra prende-se não só com o desconhecimento do lado negro processual do sistema de adopção, mas essencialmente com a sua ineficácia. Sendo eficaz, o sistema não necessitaria de uma publicação que deverá alertar os candidatos para alguns dos seus erros mais comuns, não se assumindo que esses erros são eles próprios decorrentes de processos mal orientados e da falta de verificação e fiscalização na aplicação de novas leis e medidas. Como exemplo, poderá dar-se a renitência à utilização de uma rede nacional de dados (concebida em 2003), mas a que a maior parte das delegações da Segurança Social pouco recorrem, por afirmarem provocar trocas de crianças de zonas onde as técnicas melhor as conhecem para poderem proceder a esse acompanhamento. Assim, um menino que esteja numa instituição de acolhimento na Guarda, não pode ser adoptado por um candidato de Azambuja, porque os seus dados biográficos são demasiadamente preciosos para serem enviados por correio e as informações sobre o seu comportamento demasiado secretas para serem transmitidas via fax, telefone, correio electrónico ou vídeo-conferência. E mais uma vez se verifica que o excesso de zelo e o medo de acusações, por falta de rigor ou competência, conduz a um efeito ainda mais negativo que a falta dessas mesmas qualidades éticas e profissionais.         

 

Até que todo o sistema se regule de acordo com novas decisões que foram legisladas, mas que dificilmente têm sido postas em prática, as escolhas dos próprios candidatos serão também usadas como um álibi, que justifica a incapacidade de regulação de processos cujos efeitos perversos parecem ter escapado totalmente ao controlo dos profissionais envolvidos, qual monstro incapaz de obedecer ao seu próprio criador. Até se atingir uma gestão mais eficaz do sistema, que se acredita desejada por todos os responsáveis, ter-se-á de conviver ainda com mentalidades fechadas, lentidão judicial, falta de dinamismo dos serviços, leis que não zelam pela sua aplicação, e outros demais obstáculos que se têm transformado em instrumentos de tortura destinados a impedir a felicidade de muitas crianças e de seus possíveis pais, que dificilmente vêm essa possibilidade realizar-se numa fase da vida em que ainda mantenham todas as suas capacidades físicas e psíquicas, que possuíam na sua data de candidatura. É que para se ser candidato a pai em Portugal, melhor seria não pertencer à espécie humana. As crianças também teriam vantagem em serem de outro mundo, como nos filmes de John Carpenter. Todas teriam cabelo branco, não envelheceriam e seriam de uma perversidade tão genuína que as tornaria imunes a qualquer tipo de maldade que sobre elas recaísse. Só este elevado grau de inumanidade poderá resistir a um sistema profundamente inumano, onde a vontade e a exigência de mudança não tem sido suficientemente forte para impedir que a maior parte dos seres nele envolvidos não continuem a viver uma história de perigo e perseguição por forças difíceis de nomear, como muito desse mal que a autora de Harry Potter viu personificado em Valdemor, e cuja presença é demasiado real e não imaginada, para muitas crianças presas num sistema gótico de adopção, embora todas elas tenham direito a acreditar que a vida não está somente repleta de factos e seres inomináveis. Os candidatos a pais também gostariam de acreditar nisso, mas para tal será necessário combater a magia negra na qual se encontram presos, de uma forma mais eficaz que certas leis, aparentemente tão mágicas como varinhas de condão, mas que, se não contarem com a inteligência, sensibilidade, coragem, sentido de responsabilidade e bom senso, apenas contribuirão para os manter petrificados como mudas estátuas que o tempo se encarregará de desgastar.    

 

 

Maria Antónia Lima

Professora Universitária

(Universidade de Évora)

 


1 - Ver Sá, E.; Cunha, M. J. (1996) Abandono e Adopção – O Nascimento da Família, Coimbra, Almedina.  

publicado por Missão Criança às 09:05
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