Sábado, 25 de Fevereiro de 2012

Adopção, palavras de uma mãe, para reflectir

Adopção

 

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

O seguinte texto foi-me deixado num comentário ao Post Ainda as adopções falhadas e as crianças devolvidas  que copiei para o Nós Adoptamos. Apesar de olhar para o tema de forma diferente e até discordar de algumas das coisas, entendi copiar todo o texto já que representa a opinião de alguém que, imagino eu, passou ou está a passar por uma situação complicada, são palavras fortes, para ser lidas e reflectidas, com tempo voltarei ao assunto, por agora, deixo as palavras da Estrela.

 

Tenho estado a pesquisar sobre este caso e cheguei a isto: E pena haver tantos comentários de quem nunca adoptou, e para mais de quem não teve de passar anos em tratamentos de infertilidade até desembocar na adopção, não como a única resposta, mas com a esperança de que ao fim de tanto tempo tinha o direito de ser pai e mãe, construir uma família e ser feliz.

 

Mas como nada é perfeito, muito menos neste país, até os sinais de alerta dos novos pais, e dos novos filhos são ignorados por todas as técnicas do caso. A verdade é que nem todas as crianças, para não dizer quase todas... são abandonadas pela família, pelo contrário, mas são retiradas e nem sempre da forma mais correcta.

 

Depois, a Lei da adopção em Portugal é tão boa que foi alterada recentemente, e continua a ser insuficiente e pobre. As instituições que acolhem as crianças não lhes dão o apoio necessário, pelo menos a que tive oportunidade de conhecer, nem a nível alimentar, médico ou higiénico, quanto mais acompanhamento psicológico! Não as preparam para a possibilidade de virem a ser adoptadas, não lhe perguntam se o querem, não respeitam a sua vontade, mas a resposta que me deram é "são crianças, não sabem o que querem!" mesmo que queiram voltar para a instituição, o local onde sabem que a mãe prometeu ir buscá-los, e desesperam porque agora ela não sabe onde eles estão, mas estiveram lá 2 anos, e ela não foi...continuam há espera, até hoje, já se passaram anos, sofrem eles e nós pais também, nada podemos fazer.

 

Não aceitam a ajuda de nenhum técnico, ignoram a autoridade do adulto, usam-nos, rejeitam-nos, eles sim, desde o princípio rejeitaram-nos, até ao ponto de ir para um hospital por rejeitar a alimentação, por desistir de viver. E agora o que fazer? disseram que era a adaptação, que ao fim de 6 meses estaria tudo regularizado, ao fim desse tempo até um ano, e ao fim de 18 meses disseram que não tinham nada a ver com isso, estavam adoptados!

 

Os sonhos ficaram por isso mesmo, apenas a dor de não ter um filho que corra para nós à procura de um abraço, pergunto porquê e a respota não vem, ou tardiamente escuto "não sei".

 

As crianças deviam ser escutadas, olhadas com olhos de ver, nem todas querem uma casa onde há regras e figuras adultas, até porque as vítimas de abuso não têm isso escrito no processo, para não serem rejeitadas pelos candidatos. como se cura feridas que se desconhecem?

 

Quem ensina a quem vai pela primeira vez adoptar o que devia estar escrito, o que é que deviam mostrar e não está no processo? Eram estas perguntas que deviam fazer e pensar no sofrimento de quem toma estas decisões, na família alargada que os acolhe, ou não..."não havia lá mais pequenos?", "são tão grandes", "sabes lá se vão gostar de vocês!".

 

Quem vê crescer A BARRIGA, Dá mama, colo, ensina a falar, muda fraldas, dá biberão e recebe sorrisos, que É A ÚNICA MÃE, porque o pariu e o tem consigo nos braços não imagina a dor de todos os meses imaginar que está gravida enquanto decorre mais um tratamento de infertilidade, e depois adopta e é tratada como um alvo a abater.

 

São palavras fortes, eles não têm culpa não me escolheram, mas eu também não tive culpa, a não ser de ter a esperança de que viessem a gostar um pouco de nós em comparação com o que os amo. Agora podem indignar-se à vontade, principalmente porque escrevi muito!

 

Agradeço a vossa atenção, felizmente não conseguem ver as lágrimas. 

 

Estrela 

 

Post do O que é o Jantar?

Jorge Soares

publicado por Jorge Soares às 11:22
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Segunda-feira, 5 de Outubro de 2009

Adoptar em Portugal.. como as injustiças matam os sonhos

Adoptar em Portugal..e o sonho vai morrendo

Imagem retirada da internet

 

 

Ando há uns tempos a adiar o meu post mensal sobre a nossa espera, durante o verão a nossa esperança por um rápido desenrolar do nosso processo foi crescendo, as noticias eram animadoras.... até ao fim do verão... O verão passou, e nós esperamos. Esta semana a P. ligou para a segurança social de Setúbal, há um ano as perspectivas eram dois anos de espera, agora passou para três.. seria um balde de água fria... não fosse nós já estarmos habituados a este tipo de coisas.

 

Há pouco estava a ler este texto da Susana e fiquei a pensar, em como se matam os sonhos. Porque a verdade é que à medida que o tempo vai passando, o sonho vai morrendo... os sonhos não morrem????!!!!... mas pouco a pouco vamos deixando de acreditar.... vamos tendo menos capacidade para sonhar.

 

O caso da Susana é muito especifico, ela quer uma criança até um ano, e todos sabemos que há muito poucas crianças com essas características, mas nós queremos uma criança até à idade escolar, sem descriminação de raça e deixamos claro que poderíamos aceitar uma criança com alguns problemas de saúde....

 

Entretanto a raiva vai crescendo dentro de mim cada vez que sei de mais um caso de alguém que se inscreveu depois de nós e recebeu uma criança com as características que colocamos.... é uma raiva que vai crescendo devagarinho... é claro que todos estes casos são em Lisboa, mas será justo que as pessoas de Lisboa passem à frente de todo o resto do país?

 

Não me vou estender... só deixo aqui um comentário da mesma Susana

 

"Mais uma vez, ontem vi na SIC no novo programa da Fátima Lopes 2 mulheres que adoptaram crianças uma com 19 mêses e outra com 15 dias. Como é possivel adoptar uma criança com 15 dias? Então não nos dizem que até a criança ter o processo resolvido leva cerca de um ano? A Srª que adoptou a criança de 19 mêses esteve 4 anos à espera, a outra não sei porque não ouvi a reportagem desde o inicio. Ao ver estes testemunhos ainda me sinto mais revoltada e desmotivada."

 

Não há maneira absolutamente nenhuma de que alguém receba pela via legal, uma criança de 14 dias..... será que não há quem investigue estas coisas?

 

 

Porque

não vens agora, que te quero

E adias esta urgencia?

Prometes-me o futuro e eu desespero

O futuro é o disfarce da impotência....

 

Hoje, aqui, já, neste momento,

Ou nunca mais.

A sombra do alento é o desalento

O desejo o imite dos mortais.

 

Miguel Torga

 

Jorge Soares

 

Texto publicado inicialmente no Blog O que é o jantar?

publicado por Jorge Soares às 22:48
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Quinta-feira, 3 de Setembro de 2009

As marcas que não se vêem

Ele pode não ter muita consciência do seu passado, talvez o leve autismo diagnosticado e a sua não consciência do tempo não lhe permita muito, talvez o seu discurso ainda por vez meio incoerente apesar dos seus quase 10 anos não permita que se expresse mais vezes sobre o tema de uma forma perceptível, mas o certo é que as marcas estão lá, aparecem em forma de flashes, frases ditas no meio de conversas que nada têm a ver e que rapidamente se dissipam com a distracção por qualquer movimento que haja a seu redor.
 
Com a mão junto ao coração ele disse:
G. – Os meus pais velhos arranjaram outro filho…
Eu –Quem te disse isso?
G. – Eu sinto isso cá dentro do meu peito…
 
Seguiu-se uns segundos de silêncio, talvez porque eu não esperasse que ele sentisse isso, talvez porque eu saiba que é a mais pura das verdades o seu sentimento…
 
Eu – G. tu és único, insubstituível e mesmo que haja outro filho, este não veio ocupar o teu lugar porque tu és um menino muito, muito especial.
 
Posso não conseguir apagar todas as suas marcas mas vou com certeza ampará-lo e ajudá-lo a viver com elas sem que isso lhe cause mais sofrimento.
sinto-me: Mãe
publicado por Mara_Liza às 17:53
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Terça-feira, 17 de Março de 2009

3 meses depois

 

Para quem não conhece a minha história, inicialmente o nosso processo de adopção continha várias restrições, sendo uma delas o limite de idade de 5 anos.
 
Como não era candidata singular todas as decisões estavam sujeitas a duas opiniões, por vezes diferentes. A primeira decisão resultou de um consenso inicial.
 
A partir daí tudo foi um crescimento gradual, o tempo passava, as crianças que tínhamos usado para “comparação” por causa das idades também foram crescendo, o nosso desejo de ser novamente pais também.
 
Talvez pelo facto de já ter passado pela gravidez de barriga (como eu costumo dizer) nunca senti necessidade de passar por todas as fases de crescimento de uma criança. Qualquer uma das fases me satisfazia, eu gostava de todas, todas eram especiais.
 
Depois havia aquela constante insatisfação pela minha decisão. Um sentimento talvez de frustração por saber que podia ir mais longe, que 5 anos de idade não eram o meu limite.
 
Procurei testemunhos de quem adoptou crianças mais velhinhas porque tinha medo da adaptação. Achava que devia ser bem pior que no caso de uma criança pequenina. Aquelas histórias de que vinham com vícios, etc colocavam-nos um pouco de pé atrás.
Depois havia o facto de eu não passar pelo inicio da fase escolar, pelo limpar do rabiosque, pelo assoar do nariz, pelas noites em que ele poderia correr para a minha cama e ficar agarradinho aos papás... aquelas coisas que eu achava que nos fazem amá-los.
 
Falei, discuti, argumentei, expus factos de que ia tendo conhecimento. Batalhei durante dias/semanas e confrontei a minha cara-metade com testemunhos até chegarmos a um novo consenso. Alteramos a candidatura para o limite de 7 anos de idade.
 
O G. entrou na nossa vida de uma forma menos usual, mas é certo que quando me falaram inicialmente dele existiu logo um “click”. Um misto de sensações porque estamos a ouvir uma pessoa a falar daquele que poderá ser o nosso filho!! A idade passou a não ter importância. O suposto filho que eu tanto queria tinha agora um nome.
 
A adaptação… Esse nome que eu tinha tanto receio, não houve. O G. entrou na nossa vida e foi como se ele lá estivesse estado sempre.
A N. de apenas 3 anos recebeu este irmão grande de braços abertos e a relação entre eles é intensa. A N. não o sentiu como uma ameaça, não houve ciúmes e o G. protege-a e mima-a imenso.
 
Apesar da idade eu levanto-me à mesma durante a noite quando os pesadelos e os medos dele resolvem aparecer, não perdi nada significativo da vida escolar e tenho-o a correr para a minha cama aos fins de semana com toda a naturalidade.
 
Hoje, não tenho duvidas que um processo de adopção é um processo de crescimento gradual, em que a cada testemunho, a cada relato, a cada conversa em grupo nós vamos crescendo, vamos alargando as possibilidades no nosso coração dentro dos limites de cada um de nós. E aqui nesta parte cada um tem o seu limite próprio.
 
Considerem este testemunho como um incentivo ao vosso crescimento pessoal.
 
O G. tem 9 anos e ainda é uma criança.
 
Mara
publicado por Mara_Liza às 17:32
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Domingo, 18 de Janeiro de 2009

Crianças mais velhas?... claro que sim!

Adopção de crianças mais velhas
 
Esta semana recebi no meu email uma mensagem que chegou do grupo Nos Adoptamos
 e que entre outras coisas dizia o seguinte:
 
"Estamos a pensar adoptar uma criança entre os 5 e os 7 anos porque há  muitas crianças dessa faixa etária por adoptar e porque, pelo menos em  teoria, será um processo mais rápido. No entanto, uma pessoa conhecida aconselhou-nos a adoptar uma criança com 5 anos no máximo, porque após  essa idade já começam a ter uma personalidade bem vincada e mais  dificilmente moldável. Partilham desta opinião? O que é que a vossa  experiência vos diz?"
 
Há pessoas que ainda acreditam que as crianças são moldáveis, está-se mesmo a ver que não conhecem os meus filhos. O meu filho foi-me entregue com 1 ano, tenho uma filha biológica e pelos vistos devemos ser uns péssimos pais, porque cada um tem a sua personalidade..... que por certo são a antítese um do outro, e acreditem em mim, se eu pudesse mudava ambos. No outro dia e ante as queixas das professoras de um e de outro, a P. virou-se para uma das professoras e disse:
 
- Deus fez um péssimo trabalho com os meus filhos, conseguiu dar a mais a um exactamente o que deu de menos ao outro.
 
Uma criança é uma criança, não há duas iguais, conheço casos de adopção de bebés que à medida que crescem são uns autênticos terroristas e casos de crianças que foram adoptadas com 6 e 7 anos que são os filhos que todos sonhamos ter. 
 
A Sandra, na sua resposta ao email dizia o seguinte:
 
"Acho que as pessoas confundem a necessidade de 'impor regras' ou de ' estabelecer alguma disciplina ou organização' com o 'moldar a personalidade' ou 'obrigar a criança a obedecer cegamente'. A imposição de regras, de disciplina ou organização, mesmo com crianças teimosas como a minha ou desorganizadas ou qualquer outra coisa, acontecem naturalmente se lhes explicarmos o porquê dessas regras e disciplina, a função delas, o que acontece se não forem observadas. Não é necessário 'moldar' coisa nenhuma. Nem é necessário, nem sequer é possível. Daí essa observação não fazer sentido.

As crianças com cerca de 5, 6 ou 7 anos, começam é a desenvolver mais e melhor outras capacidades - de expressão, de pensamento abstracto, etc... Agora a personalidade não está em stand by e não se começa a desenvolver com mais afinco a partir de determinada idade! 

Outra grande vantagem das crianças mais velhas é que já têm uma compreensão da realidade muito mais profunda e concreta do que as crianças mais novas (resultante do desenvolvimento de competências e não do desenvolvimento da personalidade) que, no meu caso, tornaram toda a integração e adaptação muito, mas muito mais fácil."
 
Normalmente estou de acordo com a Sandra, desta vez faço minhas as palavras dela...  literalmente.
 
Qualquer criança adoptada passou por um abandono, e isso vai viver com ela para o resto da sua vida. Podemos pensar que as crianças mais pequenas sofrem menos com isso, ou que são menos marcadas, a minha experiencia diz-me que isso não é verdade, o meu filho cresceu com o facto de ser adoptado, e à medida que ia crescendo e tomando consciência do que isso significa, ia reagindo... umas vezes melhor, outras pior, mas é algo que todos tem de enfrentar. Se pensarmos bem, uma criança mais velha já interiorizou o facto, na maioria das vezes já o aceitou e está tão desejosa de uma família, de amor e carinho, que se vai entregar de alma e coração aos novos pais.
 
Post publicado inicialmente no blog:O que é o jantar 
 
Jorge
PS:Sandra, eu sei que plagiar é feio... obrigado
PS:O grupo de mail Nós adoptamos é um grupo de discussão onde participam, pais, candidatos e adoptados.

  

publicado por Jorge Soares às 19:19
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Sábado, 8 de Novembro de 2008

Desfazendo mitos 2

criança

 

Uma das questões que me colocam muitas vezes, e que já vi colocada por alguém que já tinha sido aprovado para adopção, é a questão da entrega da criança. A maioria das pessoas acha que um processo de adopção é muito demorado devido às burocracias, na verdade actualmente a maioria dos processos fica concluído dentro do prazo legal de seis meses.  Como já disse aqui, o que faz demorar os processos de adopção é o facto de haver muito mais candidatos para adoptar que crianças em condição de ser adoptadas.

 
Muita gente tem a imagem das crianças que estão num centro de acolhimento, o mito dos coitadinhos sem família, à espera que chegue alguém e os escolha, na realidade isso não acontece, ninguém vai escolher uma criança, as crianças não são mercadorias que estão em exposição.  
 
Quando nos candidatamos colocamos alguns limites: sexo, idade, raça, doenças, quando aparece uma criança que está dentro destes limites, a segurança social fala dessa criança aos candidatos e estes só a conhecem fisicamente após a terem aceite. A forma como é feita a entrega varia de caso para caso, em alguns casos existe um período de alguns dias até que a criança vai viver definitivamente com os pais, noutros nem isso.
 
No nosso primeiro processo ligaram-nos numa terça feira a dizer que queriam falar connosco, vieram cá a casa, falaram do N., após dizermos que sim que o aceitávamos, mostraram-nos uma fotografia e perguntaram se o podiam ir buscar, sem preparação, sem nada, se quiséssemos ficava já connosco.  
 
Como vêem, não há escolhas, estamos a falar de crianças, não de carros, de roupa ou de algo que esteja em exposição,
 
Esta semana soube que entregaram uma criança que estava há três anos à espera de uns pais a uma família que estava há quase três anos à espera de um filho, há algo de muito errado nisto tudo, porquê é que a criança teve que esperar 3 anos se aqueles pais já lá estavam? E como aqueles muitos outros. Para que serve uma base de dados nacional? ela existe mesmo?
 
Post publicado inicialmente no blog : O que é o jantar
Jorge
PS:imagem retirada da internet
publicado por Missão Criança às 21:40
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Quinta-feira, 9 de Outubro de 2008

Queríamos tanto ter um Pai e uma Mãe

Criança
Imagem retirada da internet
 
 
Olá,

Resolvemos escrever-te porque sei que desejas muito ter um filho.

Não, nós não somos o bebé com que tu sonhas..

 Já não usamos fraldas, não comemos papas…mas ainda somos crianças …. e queríamos tanto ter um papá e uma mamã.

O homem com quem vivíamos era alcoólico e batia na mulher.

Já não nos lembramos bem, dizem que era a nossa mãe e que um dia se fartou e foi-se embora. Ficamos sós.. e ficar sozinhos no mundo, com a nossa idade, é muito triste.

Vivemos desde essa altura numa casa bonita, com muitos meninos e meninas e há muitas senhoras muito simpáticas que tomam conta de nós.

Mas continuamos a sentirmo-nos sós… não temos um papá nem uma mamã…. e  queríamos tanto…

Nós sabemos, não somos o bebé com que tu sonhas….

Mas sabes? Nós também somos como tu. Também sonhamos.

Sonhamos que um dia vamos ter uma mamã que nos vai ajudar a escolher a roupa que vamos vestir, que nos vai levar á escola, que nos vai contar histórias, aconchegar os cobertores e dar-nos um grande beijinho de boa noite…

Sonhamos que um dia vamos ter um papá que vai andar connosco de bicicleta e nos vai ver no torneio de futebol da escola… e… vamos ser tão felizes!!

Quando isso acontecer...

vamos deixar de chorar porque os nossos colegas vão deixar de nos gozar porque não temos papá nem mamã,

vamos deixar de chorar quando nos aleijamos porque a nossa mamã vai dar-nos um beijinho na ferida e vai passar logo,

vamos deixar de chorar quando um colega mais velho nos bater porque vamos ter um papá para nos proteger,

vamos deixar de chorar quando encontrarem papás para os meninos mais pequeninos..porque já não vamos estar aqui, porque…. vamos ter a nossa família…e vamos dizer eu tenho um papá e uma mamã.

Tenho 9 anos, e o meu irmão 7,  mas ainda somos crianças, não somos?

Nós sabemos, não somos o bebé com que tu sonhas…

Mas se conheceres alguém que queira ser a nossa mamã ou o nosso papá, escreve-nos.
 
Este texto chegou-me por email, é o pensamento de dois irmãos que estão numa instituição, é uma carta real. Acha que lhes pode dar uma resposta?, que tem amor para lhes dar?, o meu mail está no perfil, envie-me um mail, eles precisam de um pai ou uma mãe.
 
Não há palavras para algo assim.
 
Jorge Soares

 

publicado por Jorge Soares às 14:20
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Sexta-feira, 3 de Outubro de 2008

Queria ser escolhido ....

Criança

 

Acordo bem cedo, mas gosto de ficar ali na cama a olhar para aquele espaço cheio de pessoas, e vazio de memórias... "Será que é hoje?" Não sei quem me ensinou esta frase, esta pergunta, mas sei-a de cor, repito-a todas as manhãs. A verdade é que não sei ainda acredito que o "hoje" pode chegar. "Será?"


Vivo nesta casa há 11 anos, no total dos meus 12. Tenho os colegas, as pessoas que cuidam de mim, a minha escola, mas... Falta-me algumas coisas. Queria um quarto só meu com coisas compradas para mim... Queria alguém se preocupasse realmente comigo, com as minhas notas e que parasse com a sua labuta só para me ouvir contar o que se passou no meu dia. Queria uma festa de anos, com bolo e presentes, com amigos, e quem sabe até com um palhaço? Queria poder jantar à mesa onde se contavam as novidades, historias e ensinamentos. Queria que me ajudassem a fazer os trabalhos da escola, que me ensinassem a andar de bicicleta, a construir pequenas coisas e a jogar à bola... Queria aprender o significado de preocupação, e de carinho. Queria saber o significado da palavra família, e o poder de um abraço. Queria tanto uma historia contada ao deitar, um abraço e um beijo de boa noite...

Sonho acordado com tudo isto, vejo-me a correr, a brincar e a sorrir num jardim grande de um casa bonita. Mas cada vez que apresentam o meu processo a um casal  vem o comentário, "Ele não, que é grande demais, queremos uma criança pequenina..." Nunca a ouvi é verdade, mas imagino que acontece. Os meninos pequeninos vão entrando e saindo, e eu vou ficando vendo aquele transito. Já pensei que ser um bom menino ajudaria, mas fui percebendo que não influencia, sou apenas grande demais... Agora vou ficando aqui até que um dia decidam o meu futuro.

Cátia Azenha

Texto de ficção publicado inicialmente no blog Ticho


publicado por Missão Criança às 10:28
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Domingo, 28 de Setembro de 2008

Grande demais....

 

Criança

Imagem retirada de Ticho

 

Os risos ecoavam ainda pelos corredores largos, afastando-se. Nunca soube muito bem por ordem naquela correria desenfreada, nos atropelos à saída. Confesso mesmo, que em muitos dias, me apetecia simplesmente sair a correr com eles, esquecer tudo, e voltar a ter direito a brincar. Reconquistar os meus minutos de recreio!

Depois de todos terem saído, reparei na Sofia, ficara sentada, carita escondida pela cabeleira. Caminhei para ela, ouvindo apenas o som seco do tacão a bater na madeira velha do soalho e o frenesim distante que chegava da rua, para lá das velhas portas em arco.

“Posso sentar-me contigo?” – Perguntei com um sorriso, tentando adivinhar o motivo da sua tristeza. Limitou-se a acenar com a cabeça.

“Não queres brincar com os teus amiguinhos hoje?”

“Não! Já sou muito crescida!”

O seu tom era realmente o de um adulto triste, aprisionado no seu corpo e voz infantil. Avistei-lhe uma lágrima a despontar nos belos olhos negros. Senti o coração apertar-se face ao sofrimento daquela criança que aprendera com o tempo a amar.

“Sabes uma coisa Sofia, eu sou ainda mais crescida que tu e está a apetecer-me ir lá fora aos baloiços. Queres ir comigo?”

Fitou-me de frente, com os olhos arregalados de espanto.

“As duas? No baloiço?”

Sorri-lhe como resposta.

“Não!” - Disse peremptória e novamente cabisbaixa. – “Eu ontem ouvi que já sou grande demais...”

“Ouviste? Quem te disse?”

“Não foi a mim... Eu é que ouvi... Afinal já não vou ter uma mãe nova... Já sou muito grande...”

Apeteceu-me sair aos berros com quem o tivesse dito, mas em vez disso forcei um sorriso e tentei confortá-la.

“Pois eu não te acho muito crescida, acho que és uma menina linda e que quando tiveres uma mamã nova, ela será muito feliz contigo, terá muita sorte por te ter!”

“Achas?!”

“Tenho a certeza!”

O seu rosto abriu um sorriso rasgado e os bracitos magros atracaram-se no meu pescoço. Não lhe vi o rosto quando ela me fez a pergunta mais doce que algum dia escutei e eu tomei a decisão que me fez mais feliz.

“Isso quer dizer que gostavas de ser minha mãe?”

 

(Texto de ficção escrito por: Marta)

Obrigado Cátia e Marta

 

publicado por Missão Criança às 15:56
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Sexta-feira, 12 de Setembro de 2008

Adopção de crianças mais velhas

Meninas

Imagem de Ná Nunes, retirada de aqui:

http://www.flickr.com/photos/98614529@N00/234528130/

 

Um  casal meu vizinho, com idades aproximadas de 45 anos, têm uma filha de 12 anos, cujo parto não correu muito bem e a mãe ficou impedida de ter mais filhos, mas também nunca se tinham importado muito sobre esse facto, para eles o mais importante é que a filha tinha saúde e era muito amada.

 
Aqui hà uns 2 anos atrás, em visita a um centro de acolhimento, encantaram-se por uma menina da idade da filha, orfã de mãe e pai. E a partir daí pelo Natal, Páscoa e férias começaram a ir buscá-la para passar uns dias com eles, nunca pensando na adopção, mas sim em proporcionar uns dias por ano em família a esta menina. Até que a filha deles, biológica, à uns meses para cá, começou a pedir aos pais para que adoptassem a menina porque ouviu a responsável do centro dizer que aquela criança era uma das que estavam prontas para adopção porque não tinha nenhum parente vivo.
Lá se resolveram e a menina já vive em permanente com eles, apesar do processo de adopção ainda estar a decorrer.
 
Estou a escrever esta história porque ontem fiquei emocionada ao passar pela família. Parei e troquei dois dedos de conversa e na maior das naturalidades, ouvi a menina adoptada chamar ao meu vizinho pai com uma felicidade tão grande, porque não foi um simples pai que mal se tenha ouvido, mas sim pai, com as letras todas e alto e bom som, sem qualquer constrangimento.
Saí dalí com uma lagrimazita ao canto do olha de felicidade por ela
 
Pepita
 
Post publicado originalmente no blog Pepita
publicado por Missão Criança às 14:43
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Quarta-feira, 2 de Julho de 2008

A passo de caracol

 

Há uns dias atrás, numa troca de mails com uma amiga, dizia ela sentir que actualmente existia uma maior preocupação dos tribunais e comissões de protecção de menores, relativamente à análise das vantagens/inconvenientes da reintegração da criança nas famílias de origem.
De facto é possível que tenha razão, depois de alguns casos mais mediáticos é natural que aqueles que durante anos seguiram pelo caminho mais fácil, se comecem a questionar sobre a viabilidade de dar tantas oportunidades e importância aos laços de sangue, em detrimento da afectividade da criança. E enquanto vão pensando, quantos mais casos mediáticos terão que aparecer para que se passe a uma prática efectiva de colocar a criança em primeiro lugar e com soluções definitivas? E para cada caso mais mediático, quantos existirão que nunca saem dos segredos da burocracia?
Não é que eu não concorde que esta problemática tenha tido alguns avanços nestes últimos tempos, o que me angustia é o ritmo a que esta evolução vai acontecendo.
Será que as quinze ou dezasseis mil crianças institucionalizadas não mereciam um esforço maior por parte do poder político e judicial? Não haverá para aí uma cartola com um “simplex” lá dentro para apresentar num dia bonito?
Eu aplaudia de boa vontade se esse dia fosse para já.
 
Antonio3000@sapo.pt
 
publicado por individual às 10:00
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Terça-feira, 24 de Junho de 2008

Adopção de crianças mais velhas

Crianças

Imagem retirada da internet

 

A grande maioria dos candidatos a adopção escolhe crianças até quatro ou cinco anos.

 

Sabemos, pelos dados da Segurança Social, que um número significativo de crianças encaminhadas para adopção tem mais de seis anos, isto para já não falar das que estão institucionalizadas e que não se sabe qual será o seu projecto de vida.
 
É legitimo que quem deseja adoptar idealize um bebé, ou uma criança o mais pequena possível, e imaginar ir construindo a sua estrutura e acompanhar o seu crescimento e desenvolvimento.
 
Mas já será um pouco mais estranho que esses candidatos aceitem esperar, às vezes durante anos, pelo seu desejado pequenino, sabendo que algumas centenas de outras crianças desesperam nas instituições, cheias de ansiedade e com todo o amor para entregar a uns braços que as acolham para sempre.
 
Também não podemos simplesmente pensar que isto acontece por uma atitude puramente egoísta dos candidatos à adopção, pelo que pessoalmente concluo que, com excepção de alguns casos mais “patológicos” em que existe uma necessidade psicológica de encarar apenas o bebé como única hipótese (normalmente quando a decisão de adoptar é consequência de infertilidade), na maior parte dos casos essa opção será motivada por receios infundados ou ideias preconcebidas resultantes de falta de informação.
 
É evidente que a abordagem inicial de uma criança mais crescida será obviamente diferente, mas isso não significa que seja mais ou menos problemática. Quando institucionalizadas, estão muito mais conscientes da sua situação e desejam muito mais encontrar uns braços que as possam acolher. Podem em muitos casos apresentar um quadro muito mais estável do que uma outra com poucos meses, separada dos progenitores e que ainda não tem capacidade de entendimento do que se passa à sua volta.
 
Adoptar uma criança mais velha pode à partida parecer um pouco estranho, mas talvez seja útil parar um pouco para meditar sobre esse assunto.
 
Antonio3000@sapo.pt

publicado por Missão Criança às 20:00
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