Quarta-feira, 29 de Maio de 2013

Adopção: de novo as crianças devolvidas

adopção

 

Alguém me deixou o seguinte comentário neste post do Nós adoptamos


"Aprecio que tenha corrido tudo bem ao autor do blog, no entanto comigo não se passou assim...
Recebi dois irmãos de braços abertos para quem preparei tudo e dediquei muito tempo da minha vida á espera.

No entanto um dos irmãos (menina de 9 anos), cujo passado não era dos melhores e eu até já sabia, pois tinha suspeitas de abusos sexuais por parte dos pais), revelo-se se ainda pior.
Com o tempo soube que a menina não só tinha sido abusada pelo pai mas também pelo tio, ( com a indiferença dos pais), pois também soube que a sua irmã mais velha que vivia com a avó era filha do avô.

Isto tudo descobri á posteriorí, pois quando me foi apresentado o processo só me disseram que havia suspeitas, (no entanto estava tudo nos registos do tribunal que mais tarde tive acesso).
Acontece que a menina que esteve numa instituição cercade dois anos não teve qualquer apoio psicológico e que a sua preparação para a nova família foi apenas a psicóloga dizer-lhe que não precisava gostar dos pais novos tinha só de pensar que ia receber muitas prendas.

Escusado será dizer que a menina nunca gostou de nós e que desde que entrou na nossa casa só pedia que lhe dessemos tudo e fazia exigências tendo tornado-se até um bocadinho mal educada e pedindo coisas com alguma soberba.

Pois a resposta da segurança social foi que tinhamos que colocar a menina em apoio psicológico e psicoterapia.

Agora pergunto-me, sabendo a instituição de tudo isto e recebendo os subsidios do estado que como sabemos não são poucos, não deveria ter sido esta a colocar a criança em psicoterapia.... será legitimo pedir aos candidatos em pré-adoção que se querem ter uma menina que goste deles terão de lhe pagar sessões de psicoterapia...

Digo-lhe que estou prestes a devolver a menina pois esta de dia para dia vai estando pior, e como não lhe damos a prendas prometidas pela psicologa da instituição cada dia nos trata pior e como seus criados. ainda não a devolvemos só por causa da irmã mais nova que se adaptou bem a nós e que está muito bem integrada, e que sabemos que iremos perder se entregar-mos a mais velha.... e neste caso a culpa é de quêm? dos pais que esperam pelo menos uma criança que os trate bem e que não parta televisões de propósito e depois ainda se ria?

Será que as nossas instituições estão a funcionar devidamente ou só se interessam mesmo com os subsidios não se preocupando nada com as crianças que albergam nem as avaliando devidamente nem preparando para ter uma familia?

Antes de descriminar-mos quem devolve crianças deveremos pensar mesmo nas razões..... e não nos podemos esquecer que também existem crianças crueis e algo más."


Deixe lá ver se eu percebi:

Se tivesse sabido dos abusos sexuais não tinha aceite a criança, é isso? Ou seja, para a criança o facto de ter passado por uma experiência traumática como essa, torna-se um castigo, um motivo para ser retirada à família e um motivo para não voltar a ter família, é isso?

É evidente que também acho que a criança deveria ter sido acompanhada durante a institucionalização, mas isso não pode ser motivo nem para não ser adoptada nem para ser devolvida.

Repare, é de uma criança de 9 anos que estamos a falar, a senhora é uma adulta não é ela que tem que se esforçar para lhe agradar, é a senhora que se tem que esforçar para a conseguir cativar.

Não podemos exigir a uma criança de 9 anos que sofreu de maus tratos e abandono que não tenha problemas, nós adultos é que temos que aprender a amar essa criança apesar dos seus problemas.

Diz que a menina nunca gostou de si, e a senhora, dispôs-se a gostar dela apesar dos problemas?

Eu tenho dois filhos que estão a entrar na adolescência, naquela fase em que se acham donos do mundo e da verdade, há dias em que perco a paciência e já não sei que fazer, um é adoptado e hiperactivo, a outra é biológica e cheia de personalidade, há dias em que me sinto mesmo farto, em que também acho que eles são uns mal agradecidos e que não dão valor à família e ao esforço que fazemos por eles, acha que também os devo devolver?

Eu já disse isto e volto a dizer, não há motivo nenhum para se devolver uma criança, e quando isso acontece a culpa NUNCA é da criança, é sempre de quem a devolve e  da equipa da segurança social que a entregou a quem não devia

Devolver uma criança é desistir de ser pai, é abandonar de novo e maltratar alguém que já foi abandonado e/ou maltratado, é dizer à criança que ela não serve para ser amada... e não há criança nenhuma que não mereça ser amada, há é pessoas que não sabem amar.

Eu sei que todos nós sonhamos com ter os filhos perfeitos, sei que muita gente que se propõe a adoptar idealiza os filhos perfeitos, amorosos e agradecidos porque alguém os aceitou, mas sabe uma coisa?, isso não existe.

 

Não há crianças perfeitas, e não as há entre as adoptadas ou entre as biológicas, cada criança é uma criança e cada caso é um caso, mas os adultos somos nós..e somos nós que temos que aprender a viver com os nossos filhos.

Se quer o filho perfeito, o melhor é desistir de tentar ter filhos

 

Do Blog O que é o Jantar?

Jorge Soares

publicado por Jorge Soares às 23:09
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Quarta-feira, 18 de Janeiro de 2012

Da adoção e da dificil arte de amar

Da adoção e da dificil arte de amar

 

Desde muito cedo - cerca dos meus doze anos, talvez - disse que um dia gostava de adotar uma criança. As razões eram simples: sabia o quão importante era para mim ter e crescer com uma família e considerava que era certamente muito triste que a algumas crianças isso fosse negado. Mais, teorizava eu  - por essa tenra idade, sim - que se cada familia que tivesse essa possibilidade o fizesse haveria certamente muito poucas crianças a crescer sem esse privilégio.

 

Cresci sem que a ideia nunca me tivesse abandonado. Á medida que os anos foram passando, sedimentei-a mais dentro de mim e cheguei a ter a certeza que a colocaria em prática. Aliás, chegou mesmo a fazer parte do projeto de vida familiar com o pai da M.

 

Independentemente de vir ou não a ter um filho biológico, sabia que não desejava adotar um bebé. Em primeiro lugar porque esses têm, por razões óbvias, maior probabilidade de um futuro em família. Em segundo lugar porque era importante que a criança que escolhessemos para filho ou filha nos escolhesse também. Acredito que, como em qualquer questão que envolve afetos, a entrega do coração é um ato de reciprocidade em que mesmo a filiação natural não é condição intrinseca, mas fruto de uma relação que se constroi e em que se investe todos os dias. Por estas duas razões fundamentais, a adoção seria sempre de uma criança a partir dos quatro ou cinco anos de idade. Dificilmente menos.

O facto de ter trabalhado muitos anos como advogada fez-me ter uma perceção mais alargada do que, de há uns anos para cá, significa adotar uma criança institucionalizada. Se há umas décadas atrás os célebres orfanatos tinham essencialmente crianças abandonadas á sua sorte ou entregues á porta da igreja por falta de condições económicas ou motivos de desonra e vergonha das suas progenitoras, o cenário das últimas décadas é já bem diferente. Uma boa parte das crianças que vão chegando de há um tempo a esta parte ás diversas intituíções de acolhimento são, numa assustadora maioria, crianças muito negligenciadas, quando não mesmo abusadas e maltratadas por aqueles que as deviam, em primeira linha e no mais básico instinto animal, proteger. São infâncias marcadas desde as mais tenras idades por inúmeros desconfortos, esmagadoras ausências e aterrorizadoras presenças. São crianças que facilmente a vida torna dificieis, assustadas e revoltadas. São crianças que trazem marcados na pele e na alma episódios que a maioria de nós prefere nem imaginar. São crianças que, cada vez em maior numero, chegam aos espaços que as recebem sem mãos suficientes e perfis adequadamente preparados para as acolher. 

 

No meu caso, não foi por esta mudança de cenário e esta tomada de consciência que a decisão de adotar foi ficando adiada. Mas estar mais próxima desta realidade foi decisivo na certeza de que este é um passo que só pode ser dado por pessoas bem estruturadas e com maturidade para a vida, o que, como bem se sabe, é ambição de muitos mas uma conquista de poucos.

 

Ontem á noite, uma reportagem da TVI dava conta do numero de crianças que são devolvidas antes da conclusão do processo de adoção. Não sendo novidade para mim este bizarro fenómeno, não deixa de continuar a causar-me perplexidade e indignação. Porque revela que muitos dos que desejam adotar não fazem ideia daquilo ao que vão e porque revela que o trabalho de casa - de quem em segunda linha devia cuidar, proteger e assegurar o bem estar e saude emocional destas crianças, depois dos primeiros terem falhado no desempenho do papel  - continua a não ser feito de forma responsável.

 

Tenho algum pavor a clichés e generalizações e esforço-me por não fazer uso deles na minha vida, mas a verdade é que me é dificil não associar, em muitos casos, a procura de crianças para adotar a mais uma variante do mercado de consumo. Ainda que, como tantas vezes acontece quando falamos do que não conhecemos profundamente, possa ser leviana e injusta, penso-o em relação a esta opção por muitas celebridades internacionais. Mas é fácil pensar o mesmo de muitos dos que se propõe adotar em Portugal.

 

Desejar um filho - e adotar não pode ser nem mais nem menos do que isso - não pode, não deve ser nunca um ato de preenchimento das nossas falhas narcisicas. Desejar e ter um filho só pode, sempre, ser fruto de uma escolha que se sabe que será, em qualquer circunstância, para a vida.

Os filhos, como qualquer grande amor, não vêm com manual de instruções. Não existem fórmulas mágicas que nos façam acertar em tudo na sua educação, assim como não existe nenhum xarope que se lhes dê ao pequeno almoço para que nunca nos desapontem. Mas é essa a essencia do amor incondicional. Quando se ama tudo é possivel e essa é a única magia [grande e real] que tudo salva e tudo compõe. 

 

Compreendo e acho absolutamente indispensavel que o processo de adoção contemple um periodo de experiência, de adaptação, o que lhe quiserem chamar. O que não faz sentido, por manifesto desajuste e atentado áquele que deve ser o cerne da intenção de adotar é que sirva - como num dos casos ontem relatados - para aferir resultados escolares, desempenhos de sucesso e vassalagem de afetos, destas crianças em relação aos interessados.

 

Por razões que não me são dificeis perceber, mas que me são impossiveis aceitar, uma boa parte dos pais de hoje vive ainda completamente orientada para a produção de executivos de sucesso e de gente que terá de ter garantido um emprego e uma vida proeminente, seja a que preço for, custe as dores emocionais que custar. Entopem-se crianças de atividades extracurriculares e explicações, definem-se horários de estudo rígidos ao fim de semana, escolhem-se os amigos pelas contas bancárias e apelidos dos respetivos  pais, compensa-se com todos os gadgets de última geração e uma generosa mesada no bolso e assim se fecha o negócio... com muitas e bem conhecidas repercursões a curto, médio e longo prazo. Não falo ao acaso, mas de casos de conheci na minha infância e outros que vou vendo repetir-se, impunemente.

 

Se já considero tudo isto grave na educação de um filho biológico, não tenho palavras para o qualificar num filho adotado.

 

Uma criança é, será sempre um investimento, mas do coração e não do abrir dos cordões á bolsa.

 

Não se deseja ou tem um filho para nos realizarmos no que não conseguimos - a não ser que esse desejo seja, para nossa felicidade, um desejo genuinamente coincidente de um filho. Não se deseja ou tem um filho para mostrar á familia e vizinhança que somos mais do que toda a vida nos fizeram sentir. Não se deseja nem tem um filho para exibir a folga financeira de lhe pagar colégio, faculdade privada e MBA´s no estrangeiro - como se faz com a celindrada do carro, os metros quadrados da casa e as marcas de roupa com que se desfila. Não se deseja nem se tem um filho para ocupar o lugar de quem nunca conseguimos que nos amasse.

 

Um filho, ou dito de outra forma, um ser humano que depende exclusivamente de um ato de vontade nosso e que não é tido nem achado no assunto nessa decisão, merece, sem dúvida o melhor de nós. Que isso represente, sempre que possivel, o melhor investimento financeiro na sua segurança, saúde, alimentação e educação é não só legitimo como desejável. O que não pode, ou no mínimo não devia, em qualquer circunstância, é ser motivo de contrapartida para o amor que se lhe tenha. Infelizmente sabemos que o é, em muitos casos, nas relações biológicas entre pais e filhos. Que haja a tentação de gente mal estruturada e cheia de boa vontade em fazer coisas boazinhas e ajudar pobrezinhos para gaudio próprio e exibição na rua onde são famosos (ou talvez não), também. Que o Estado se exima de fazer a sua parte é que, cada vez mais, me parece uma gravíssima ação por omissão.

 

Uma boa parte das crianças institucionalizadas não é fácil e a maior parte conjuga o verbo abandonar desde o dia em que foi gerada. Confiar é aquilo que lhes é mais dificil. Entregar o que não se recebeu um ato humanamente impossivel.

 

Escolher o caminho da adoção de uma criança com mais de três anos de idade é saber que se tem, na esmagadora maioria dos casos, pela frente um caminho moroso, feito de altos e baixos, com muitos avanços e ainda mais recuos. É um namoro que se enceta com alguém que mais do que não estar habituado, tem medo de amar e, mais uma vez, ser traído e abandonado.

 

Quem tem filhos biológicos sabe quantas vezes põe á prova os nossos afetos, a nossa paciência e a  capacidade de nos mantermos firmes nas nossas decisões. Sabe também quantas vezes choramos, de dúvida, raiva ou tristeza e choram eles também, pelos mesmos motivos, durante o caminho da relação. Mas ter um filho é tudo isso. E é tudo o resto. E é desejar e conseguir ir sempre mais e mais além.

 

Devolver uma criança que procurámos por decisão nossa, porque ela não nos fez, no prazo legal, sentir bem, felizes e realizados por praticar uma boa ação, só pode ser fruto de uma grande desorganização interna ou má formação. Supor que uma criança nestas condições está preparada para ficar incondicionalmente agradecida,  devolvendo com juros e sem prazo de carência ou dilatação tudo o que recebe de tão altruistas mecenas, é não saber nada da natureza humana nem do que representa o amor na vida. E todos sabemos que há gente que pensa e age assim. Claro que sabemos. O que não se admite é que quem tutela estas crianças faça delas laboratório de triagem, na esperança de com isso tornar os processos mais céleres. De boas intenções está o inferno cheio. Pena que não estejam também as prisões..

Do  Blog Deixa Entrar o Sol
publicado por Jorge Soares às 10:54
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Adopções falhadas

Adopção crianças devolvidas

Imagem de aqui

 

"Ele é muito dócil mas há outra face, ele não queria saber da escola!"

 

Juro que me vieram as lágrimas aos olhos, como é possível?..estou para aqui a tentar verbalizar o que me vai por dentro e não consigo, como é que é possível?, como é que esta senhora tem a lata de vir dizer uma coisas destas para a televisão?  Mudava de roupa todos os dias..e isso é defeito?, teve 3 negativas num período... e isso é motivo para se abandonar uma criança ao fim de cinco meses e meio do período de pré-adopção?

 

Supostamente a imbecil, desculpem mas hoje não vou estar com meias palavras e não me ocorre nenhuma outra forma de me referir a ela, tem dois filhos biológicos, será que eram ambos perfeitos?, tiveram sempre boas notas, nunca se portaram mal, nunca fizeram uma asneira? Nunca os devolveu porquê? Porquê escolheu uma criança que já tinha sido abandonada antes, que viveu uma grande parte da sua vida na expectativa de encontrar uma família,  para a voltar a abandonar e a fazer sofrer?

 

Gostava sinceramente de falar com as assistentes sociais que fizeram a avaliação do processo, gostava de saber como foi avaliada esta senhora, porque entregam uma criança a alguém que está à espera que esta seja perfeita. Não faço ideia da história de vida da criança, mas não é difícil de entender que não terá tido uma vida fácil, como pode alguém estar à espera que ela seja perfeita?..existem as crianças perfeitas?

 

Eu sempre disse que adoptar é um acto de egoísmo, ninguém adopta por querer ajudar as criancinhas, todos adoptamos porque queremos ter filhos, mas um filho não se escolhe, e não se escolhe quando é biológico como não se escolhe quando é adoptado, um filho é uma davida que se recebe de braços abertos e se aprende a amar, com virtudes e defeitos.

 

Entretanto alguém deixou o seguinte comentário na noticia da TVI:

 

"Esta criança no dia em que deixou a instituição para ir com esta família irradiava alegria, felicidade, e sempre o ouvi dizer que queria ser adoptado. Sou voluntária nesta instituição e esta criança já tinha laços com esta família antes de lhe ser entregue."

 

Ainda por cima eles já conheciam a criança desde antes, coisa que não acontece na maioria dos casos, como é que há gente tão anormal que consegue destruir assim os sonhos de uma criança?

 

O mais grave é que estas coisas passam impunes, como dizia a Susana há pouco no Facebook, se alguém abandona um filho biológico é recriminado e  criminalizado, esta gente abandona as crianças desta forma e não só não é responsabilizado, como continua na lista de adopção e há quem lhes entregue outras crianças.

 

Vídeo com a noticia da TVI aqui 

 

Post do meu blog: O que é o Jantar? 

 

Jorge Soares

 

publicado por Jorge Soares às 09:40
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Terça-feira, 14 de Abril de 2009

Adopção:Crianças devolvidas, porquê?

Crianças devolvidas
 
Não me lembro quando foi a primeira vez que ouvi falar de crianças devolvidas por pais adoptivos, mas como devem imaginar é um assunto que me choca, se já é mau que uma criança seja abandonada, imaginem o que sentirá quando é abandonada uma segunda vez.  É difícil sequer imaginar o que possa sentir uma criança que por vezes está anos à espera, uma criança que muitas vezes anseia por uns pais que lhe dêem amor e carinho e que quando finalmente acha que os encontrou, é posta de lado como se de um brinquedo defeituoso se tratasse, conseguem imaginar o que se possa sentir?
 
Já ouvi umas 4 ou 5 histórias de devoluções de crianças, ontem um dos jornais falava de um casal que devolveu uma criança porque ela não se conseguiu entender com o cão da família. Acreditem ou não, este não foi o caso que mais me chocou. O caso de devolução que mais me chocou foi um em que o motivo para a devolução era... que a criança era carinhosa demais. A candidata a mãe (ia dizer mãe, mas há pessoas que não merecem esse nome) dizia que a criança se tinha apegado demais a ela, que só queria beijinhos e abraços e que nem no centro comercial desgrudava. Quando me contaram isto eu simplesmente não consegui acreditar.... 
 
Segundo  o mesmo jornal, no últimos 4 anos 80 crianças foram devolvidas aos centros de acolhimento, há uns meses o número era de 70, agora passou para 80, não faço ideia de onde tiraram a informação, mas eu entendo que mais que o número, o que interessa aqui é  perceber o que falhou, sim, porque é muito fácil deitar as culpas para quem devolve a criança, mas falta o resto, e o resto está evidentemente em quem avaliou e aprovou essas pessoas como candidatos a adoptar.
 
Os processos de adopção demoram pelo menos 6 meses, é necessário responder a questionários com muitas e complicadas questões, são necessárias entrevistas sociais e psicológicas.... o que falha?
 
Do meu ponto de vista falham muitas coisas, evidentemente que em primeiro lugar falham os candidatos, para a adopção é necessário ir com o coração, há muita gente que só vai para a adopção em ultimo recurso, quando já esgotaram todos os restantes recursos, pessoas que sonham e anseiam com um bebé, sangue do seu sangue...e que depois quando recebem uma criança que de bebé já não tem nada, quando lhes entra pela casa dentro um estranho com vontade própria e que muitas vezes tem uma historia de vida que não se recomenda a ninguém, simplesmente concluem que não são capazes.
 
Mas será que estas situações não deveriam ser detectadas pelas equipas de avaliação? Do meu ponto de vista é claro que sim, se a maioria dos processos até leva mais que os seis meses de lei, porque é que estas coisas acontecem, como é que uma psicóloga não detecta algo estranho numa mãe que depois devolve uma criança porque é carinhosa demais? 
 
Este é um tema muito complicado, mas termino como comecei, no meio de tudo isto quem sofre são as crianças, ser abandonado uma vez, ser colocado num centro de acolhimento onde muitas vezes não se passa de mais um numero, ser esquecido pela família e pelo estado e quando finalmente se pensa que se encontrou uma vida...ser abandonado de novo como se de uma peça defeituosa se tratasse..deve ser algo que marca para toda a vida...e nenhuma criança deveria ter de passar por isso.
 
Adoptar uma criança não é fácil, não tem nada a ver com passar-se 9 meses a ver crescer uma barriga, pensar nos nomes que iremos escolher, ver as fotografias das eco grafias, sonhar com a cor dos olhos, adoptar não é nada disso. Adoptar é receber nos nossos braços um ser humano que existe, um ser humano que já viveu e que muitas vezes tem opinião e maus hábitos. Adoptar  é receber em nossa casa um estranho que não nos diz nada e que de um dia para o outro veio para ficar.
 
A maioria dos candidatos cria expectativas, sonha com esse filho que tanto deseja, idealiza pessoas e situações, acreditem em mim, a probabilidade de que as coisas sejam como as idealizaram.. é muito pequena... mesmo muito pequena... e na maior parte dos casos, não é nada fácil, porque não podemos esquecer que estamos a falar de crianças que já foram marcadas pela vida muito antes de nos conhecerem. Por isso, adoptar tem que vir do coração.
 
Jorge
Publicado inicialmente no blog O que é o jantar?

  

publicado por Missão Criança às 14:19
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