Segunda-feira, 2 de Fevereiro de 2009

Testemunho de uma familia diferente

Bruno

 

"Dia Mundial da Criança - Testemunho de uma familia diferente


Desde sempre tive o desejo de adoptar uma criança. Sempre abominei a  ideia de crianças a serem maltratadas, sem um lar, sem comida, sem  carinho de qualquer espécie… enfim… sem AMOR.

 

Cedo me tentei informar de como fazê-lo… Bati a algumas portas, mas  rapidamente percebi a triste realidade de que para adoptar sozinha  teria de esperar pelos 30 anos.

 

Pouco depois de fazer 30 anos inscrevi-me numa lista de espera de  adopção, na SS da minha área de residência. Nesta altura, pela  primeira vez tive duvidas. Eu ia aceitar uma criança diferente… Será  que eu era capaz? Desisti do processo…

 

Uns anos mais tarde, e depois de ter a certeza absoluta de que  conseguiria ter um filho diferente, no dia 7 de Outubro de 2005,  enviei a minha candidatura para a SS da área da minha residência.


O que é que eu pedia? Eu pedia uma criança até 3 anos, não  interessava se menino ou menina, não importava etnia. Podia ter  problemas, desde que não fosse deficiente profundo, não andasse em  cadeira de rodas (moro num terceiro andar sem elevador) e não fosse 
autista… no meu processo disse explicitamente que aceitava uma  criança com Trissomia 21.


Em quatro meses fui considerada candidata individual apta e em menos  de um ano apresentaram-me o processo do meu Tesourinho.


Do processo constava toda a história do Bruno: nasceu em 2003,  tem cardiopatia (foi operado ao coração com 2 meses – meu pobre  bebé), é portador de Trissomia 21 e na avaliação de desenvolvimento,  realizada aos 31 meses, tinha apenas 19 meses de idade mental.


O processo não tinha fotos… o que eu dava para ver uma foto deste  menino… juntar uma cara a tudo o que tinha lido…


As assistentes sociais perguntaram-me se eu queria ver fotos do  menino. Eu disse que sim… se já me tinha apaixonado pela história  dele, neste momento, interiormente, decidi que ele ia ser o meu  filhote. No entanto, pedi um tempo para pensar em todo o processo do 
menino e também para ver as reacções da família e amigos  relativamente ao facto de o menino ter Trissomia 21.


As reacções da família não podiam ter sido piores… Foi talvez a  semana mais difícil da minha vida… Com o apoio apenas de uma pessoa  (que é hoje a Madrinha do meu menino).

 

Face a estas reacções pedi autorização para ver o menino antes de  tomar a minha decisão definitiva. A autorização foi concedida e a  visita agendada para o dia 03 de Outubro. Pedi à minha amiga que  fosse comigo, para eu me sentir mais apoiada. Ela acedeu (obrigada  Sandrinha)… A minha Mãe também fez questão de me acompanhar e eu não  me opus…

 

Este foi talvez o meu maior erro… Fez e disse de tudo para  que eu não quisesse o menino. Chegou finalmente a hora de conhecer o Bruno… Ele era tão lindo!!!

 

Tinha Trissomia 21, é verdade… Isso tornava-o especial… Adorei aquele  menino…


No dia seguinte liguei para a SS a confirmar que este ia ser o meu FILHO. E pedi autorização para estar com ele no dia dos 3 aninhos  dele (as visitas oficiais só começavam no dia 09 de Outubro).


No dia 6 fui convidada de honra da Ajuda de Berço para assistir à  festinha de aniversário do meu filhote. Não me vou esquecer nunca do  olhar desconfiado daquele menino para mim… O que é que esta estranha  está aqui a fazer? Porque é que ela não para de olhar para mim?  Porque é que ela me tira fotos? O que é que ela trás na mão? Uma  prenda? Para mim? Imagino o que terá passado na cabecinha dele… As  visitas duraram apenas três dias!!!


E ainda há quem diga que eles são diferentes… Nada disso… O meu  menino (com Trissomia 21) apenas precisa do mesmo que todos os outros  meninos: UM COLO, AMOR, CARINHO, MIMO, REGRAS, enfim… uma FAMILIA.


Era isto que eu me proponha a dar-lhe… E numa quinta-feira, no quarto  dia de visitas, o Bruno veio para a sua casa.


Agora ele já não era só um menino com Trissomia 21. Era um menino com  Trissomia 21 com uma família. Com uma família que o adora… Que o  escolheu diferente dos outros por saber que embora diferente, o  Tesourinho vai conseguir alcançar tudo o que quiser.


Por ter a certeza que ele vai conseguir ir longe, e com isto apenas  quero dizer o mais longe que ele algum dia conseguir chegar. Vou  adorá-lo sempre… independentemente de tudo…


Devo dizer-vos que, aos três anos de idade o Bruno ainda andava muito  pouco, não sabia dar um beijo, mal dizia uma ou duas palavras que se  entendessem, usava fraldas de dia e de noite, não demonstrava  interesse por quase nada…


Hoje, com quatro anos e meio e há ano e meio com Mãe e Madrinha  constantemente presentes e a ser constantemente estimulado, o Bruno  dá os melhores beijinhos do mundo, corre, dá pontapés numa bola a  correr, pula, dança, canta, já diz algumas palavras que qualquer  comum mortal entende, à maneira dele, mas já começa a fazer frases  (as preferidas dele são "bom dia Mamã / Madrinha"; "quero batatas e  pão" e "quero pão com manteiga"), não usa fralda durante o dia desde  Setembro do ano passado, já demonstra preferências por alguns  desenhos animados, já pede alguns brinquedos na loja, já tem dois  amigos preferidos (o Leandro e o Pedro), já pega num lápis sem ser  obrigado e faz círculos, …


Claro que passei por todos os preconceitos que passa qualquer pessoa  que tem um filho com Trissomia 21. A mim chegaram-me a dizer (alguém  que tem um filho com Trissomia 21): "Nós não os queríamos ter e você  vai buscar um… Porquê?"


Claro que já tive muitos problemas com escolas… Inclusive a escola  onde o Bruno esteve no ano lectivo passado chegou a dizer à SS que eu  era demasiado exigente com o menino e que o estimulava em demasia  (elas tinham o menino numa sala com crianças de dois anos… claro que  ele tinha de trabalhar em casa… o modelo dele eram crianças de 2 anos 
e ele tinha 3…)


Nos dias 12 e 14 de Maio deste, o Bruno fez a avaliação (anual) de  desenvolvimento. Fiquei tão orgulhosa do meu menino…Tal como diz a  Mãe da Sara, para os nossos meninos, "o céu é o limite".

 

Maria João Pereira, mãe do Bruno"

http://otesourinho.blogspot.com

publicado por Missão Criança às 22:39
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