Quarta-feira, 16 de Julho de 2008

A verdadeira natureza da adopção

Imagem retirada da internet

 

 
As famílias sem filhos tem apoio como adoptantes, a sociedade compreende-os, são aqueles que vão adoptar para ter uma família. E isto é compreensível e louvável!

Nós, famílias com filhos biológicos, adoptarmos é considerado uma loucura, um disparate tremendo, um acto de altruísmo deslocado e é muitas vezes mal visto.
 
A minha experiencia não tem sido fantástica…
 
- Então, mas vocês tem 3 filhas tão bonitas, porque é que querem ir adoptar??? (Implicando que essa criança não será decerto bonita?)
 
- Porque não tentas mais um teu? Pode ser que venha O RAPAZ.
(Porque claro que outro motivo teríamos nos para adoptar senão procurar O rapaz?)
 
- E se os "verdadeiros pais" depois querem a criança de volta????
(Verdadeiros pais? – os que abusaram, abandonaram, negligenciaram? São pais biológicos sem duvida, mas não são verdadeiros pais em mais sentido nenhum, nem legalmente…)

- Mas estão assim tão desesperados para irem adoptar uma criança de outra raça? (A adopção inter-racial só pode nascer de sentimentos de desespero?)
 
- Um casal com filhos adoptar??? Vocês sabem lá o que vem de lá!!!
(Uma criança?)
 
As pessoas que seriam incapazes de sair do caminho delas para adoptar fosse quem fosse são os primeiros a reprovar, e arranjar imensos argumentos, sabe-se lã que doenças, taras, etc., a criancinha vai trazer e muitas outras barbaridades.
 
E quanto a isto ser dito ou não por mal, para mim é irrelevante, a verdade é que não consideram a criança adoptada como parte da família, e que isso transparece nestes comentários.

Isto mostra que não compreendem a verdadeira natureza da adopção:
 
1.     A adopção é um processo irreversível e permanente, a criança tem os mesmos direitos que um filho biológico. No é um filho adoptado, é um filho.
 
2.     A criança disponível para adopção é um órfão!

Não tem pais, se tivesse não estaria à espera de uma família adoptiva.
Todas as crianças que são adoptadas são órfãos, se não no sentido tradicional da palavra, são concerteza órfãos sociais, órfãos de pais frequentemente vivos que por motivos vários não podem ser pais. Não tem pais! Ou somos nos, adoptantes, ou sopas! (ou pior, instituição.)
 
Os comentários mostram também que, para eles, uma criança que não nasça na família, não é, nem nunca será, parte da família.
Isto magoa tremendamente a criança e para mim, como mãe, mostra que a nossa decisão de sermos pais por adopção, é demitida e transformada numa mentira completa por eles, já' que não consideram essa criança, de facto, como nosso filho.

Para eles, essa criança é só uma criança "qualquer" que fomos buscar. E não tenho duvidas nenhumas que se a nossa criança nos der alguns problemas na adolescência (que jovem não da?), vão haver comentários nas nossas costas sobre os "filhos adoptivos que nunca agradecem".

Estou cansada das pessoas que dizem mal dos filhos adoptados, ou deles directamente, nas suas diversas fases da vida, ou das coisas más que trarão com eles, numa de "a bem" tentar demover-nos da ideia de adoptar.
 
Ando tão chateada que vou fazer o meu processo todo em segredo e saberão quando receberem a primeira fotografia dos nossos 4 miúdos!
 
Teresa
 
publicado por Missão Criança às 00:12
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9 comentários:
De Miuda a 17 de Julho de 2008 às 07:18
Muito interessante o teu blog.
De cigana a 17 de Julho de 2008 às 17:58
Parabéns pelo merecido destaque!
Um blog de pais com um grande coração!
De Anuska a 21 de Julho de 2008 às 09:40
Gostei muito deste texto! Quando decidi adoptar ouvi algumas dessas perguntas que a Teresa tão bem soube colocar e responder. De mais pessoas assim com a sua garra precisava o nosso mundo! Boa sorte com a adopção e beijinhos!
P.S. - Vou voltar!
De Cláudia a 24 de Julho de 2008 às 13:08
Quando penso na hipotese de adoptar uma criança há um único receio que me deixa de pé atrás: e se eu não for capaz de amar essa criança tal como amo o meu filho biológico?
É mau sinal ter este receio? É sinal que realmente não vou amar da mesma forma??? Sou a única a lembrar-me disto???
De Jorge Soares a 25 de Julho de 2008 às 22:28
Olá

No outro dia uma mãe adoptiva dizia-me exactamente o contrario, ela tinha receio de engravidar, porque não sabia se poderia amar outro filho como amava aquele filho adoptivo.

A nossa capacidade de amar não se mede, é claro que não amamos toas as pessoas da mesma maneira, nem temos finidades iguais por duas pessoas diferentes, mesmo que sejam dois filhos. Um filho é um filho, e vá por mim, não importa se é adoptivo ou não..... é um filho.

Esse receio é natural, mas quando o desejo de adoptar sai do coração, garanto que vai amar qualquer criança como o seu filho

Jorge Soares
De isa a 1 de Agosto de 2008 às 12:14
Sou casada há pouco mais de um ano, mas mesmo antes de me casar já tive uma conversa com o meu marido sobre o facto de virmos a adoptar uma criança. Sempre foi um desejo meu, poder proporcionar a uma criança um lar estável, com muito amor e carinho e que felizmente é partilhado pelo meu marido. Neste momento estamos a tentar ter filhos biológicos, mas o desejo de adoptar está sempre presente!
Já tentei "sondar" familiares e amigos sobre a possibilidade de virmos a adoptar uma criança e, infelizmente, as reacções foram exactamente as descritas neste post . Não consigo compreender porque é que as pessoas têm tanta dificuldade em aceitar e compreender que é possível amar alguém que não é do nosso sangue!!
Apesar da concretização desse desejo não ser para já, posso dizer com toda a certeza deste mundo: nós vamos adoptar!!
De Liz a 27 de Agosto de 2008 às 15:23
Percebo bem o que sentes... eu fiquei triste e chateada com os comentários da família, de amigos... Acaso não percebem que queremos fazer isto porque o nosso coração nós pede? Sinto que há ali fora uma criança a nossa espera... e quero chegar até ela o mais cedo possível... Força.
De Anónimo a 14 de Novembro de 2008 às 14:04
Teresa

Ao ler o seu comentário fiquei extremamente feliz pois a partir de agora sei que não estou orgulhosamente só" mas sim orgulhosamente (e bem) acompanhada.


Tenho 3 filhos com 20, 21 e 6 anos. Escusado será dizer que o nosso pequenino é filho do nosso coração pois a nossa vontade de ter mais um filho era tanta que o amor transbordou e "nasceu" o nosso menino.

È ele hoje a alegria e o orgulho de todos nós, como ele diz é um filho "de chocolate"...eu acho que é de mel.. tão doce que ele é!

Conquistou-nos desde o primeiro momento que o vimos e nesse mesmo instante nos chamou Pai e Mãe. Quem nunca viveu um momento destes não sabe o que é senti-lo e quem o sentiu não o sabe descrever.

Após a conclusão do processo de candidatura esperamos 4 meses, nem 4, nem 5, nem 6 anos.

O "sistema" não tem ajudado é verdade, mas a nossa atitude de "pais" também não tem facilitado a vida a todas as crianças que ainda esperam.

Aos casais, às mulheres e aos homens que querem adoptar por favor não percam esta experiencia única Não escolham "um" filho, não escolham a sua cor de pele, não escolham o seu sexo ,não escolham a sua idade... o seu cabelo... Se o primeiro preconceito for vosso quem defenderá o vosso filho dos preconceitos do Mundo?

Tenho um filho louro, tenho uma filha morena e tenho um filho cor da noite mas com duas luas enormes que transbordam de alegria e inocência Quem pode não querer o amor de uma criança destas??

Bem haja Teresa pelo amor que tem para dar e por favor que hajam cada vez mais "Teresas".

Ana
De Domi a 17 de Setembro de 2009 às 19:59
Olá Teresa!
Sou nova por aqui hehehe! Estou a realizar o meu Projecto de graduação sobre sobre a adopção e o seu blog tem aparecido muitas vezes nas minhas pesquisas na Net! Este post está exelente!!!

Eu queria saber só uma coisa, que características é que escolheu para a criança que irá adoptar? O meu PG é sobre as "crianças indesejadas" nas instituições. É que a maioria dos casais portugueses que se candidatam à adopção só querem crianças dos 0-3 anos, brancas, sem deficiências, sem doenças e sem irmãos...

Eu considero a adopção um acto de AMOR, e não apenas um meio de casais inférteis realizarem o seu sonho de ser mãe ou pai de um bebézinho pequenino (sem ofensa aos cssais inférteis). Hoje em dia os técnicos dos processos de adopção vêem-se obrigados a procurar a criança perfeita para um casal em vez do casal perfeito para a criança... o que é muito triste, porque a criança não escolheu estar numa instituição à espera para ser adoptado, o casal é que escolheu adoptar e acho que esses casais deviam ser menos "piquinhas" com a criança que eles querem adoptar.

Dominique

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