Para quem não conhece a minha história, inicialmente o nosso processo de adopção continha várias restrições, sendo uma delas o limite de idade de 5 anos.
Como não era candidata singular todas as decisões estavam sujeitas a duas opiniões, por vezes diferentes. A primeira decisão resultou de um consenso inicial.
A partir daí tudo foi um crescimento gradual, o tempo passava, as crianças que tínhamos usado para “comparação” por causa das idades também foram crescendo, o nosso desejo de ser novamente pais também.
Talvez pelo facto de já ter passado pela gravidez de barriga (como eu costumo dizer) nunca senti necessidade de passar por todas as fases de crescimento de uma criança. Qualquer uma das fases me satisfazia, eu gostava de todas, todas eram especiais.
Depois havia aquela constante insatisfação pela minha decisão. Um sentimento talvez de frustração por saber que podia ir mais longe, que 5 anos de idade não eram o meu limite.
Procurei testemunhos de quem adoptou crianças mais velhinhas porque tinha medo da adaptação. Achava que devia ser bem pior que no caso de uma criança pequenina. Aquelas histórias de que vinham com vícios, etc colocavam-nos um pouco de pé atrás.
Depois havia o facto de eu não passar pelo inicio da fase escolar, pelo limpar do rabiosque, pelo assoar do nariz, pelas noites em que ele poderia correr para a minha cama e ficar agarradinho aos papás... aquelas coisas que eu achava que nos fazem amá-los.
Falei, discuti, argumentei, expus factos de que ia tendo conhecimento. Batalhei durante dias/semanas e confrontei a minha cara-metade com testemunhos até chegarmos a um novo consenso. Alteramos a candidatura para o limite de 7 anos de idade.
O G. entrou na nossa vida de uma forma menos usual, mas é certo que quando me falaram inicialmente dele existiu logo um “click”. Um misto de sensações porque estamos a ouvir uma pessoa a falar daquele que poderá ser o nosso filho!! A idade passou a não ter importância. O suposto filho que eu tanto queria tinha agora um nome.
A adaptação… Esse nome que eu tinha tanto receio, não houve. O G. entrou na nossa vida e foi como se ele lá estivesse estado sempre.
A N. de apenas 3 anos recebeu este irmão grande de braços abertos e a relação entre eles é intensa. A N. não o sentiu como uma ameaça, não houve ciúmes e o G. protege-a e mima-a imenso.
Apesar da idade eu levanto-me à mesma durante a noite quando os pesadelos e os medos dele resolvem aparecer, não perdi nada significativo da vida escolar e tenho-o a correr para a minha cama aos fins de semana com toda a naturalidade.
Hoje, não tenho duvidas que um processo de adopção é um processo de crescimento gradual, em que a cada testemunho, a cada relato, a cada conversa em grupo nós vamos crescendo, vamos alargando as possibilidades no nosso coração dentro dos limites de cada um de nós. E aqui nesta parte cada um tem o seu limite próprio.
Considerem este testemunho como um incentivo ao vosso crescimento pessoal.
O G. tem 9 anos e ainda é uma criança.
Mara