Imagem retirada de Ticho
Os risos ecoavam ainda pelos corredores largos, afastando-se. Nunca soube muito bem por ordem naquela correria desenfreada, nos atropelos à saída. Confesso mesmo, que em muitos dias, me apetecia simplesmente sair a correr com eles, esquecer tudo, e voltar a ter direito a brincar. Reconquistar os meus minutos de recreio!
Depois de todos terem saído, reparei na Sofia, ficara sentada, carita escondida pela cabeleira. Caminhei para ela, ouvindo apenas o som seco do tacão a bater na madeira velha do soalho e o frenesim distante que chegava da rua, para lá das velhas portas em arco.
“Posso sentar-me contigo?” – Perguntei com um sorriso, tentando adivinhar o motivo da sua tristeza. Limitou-se a acenar com a cabeça.
“Não queres brincar com os teus amiguinhos hoje?”
“Não! Já sou muito crescida!”
O seu tom era realmente o de um adulto triste, aprisionado no seu corpo e voz infantil. Avistei-lhe uma lágrima a despontar nos belos olhos negros. Senti o coração apertar-se face ao sofrimento daquela criança que aprendera com o tempo a amar.
“Sabes uma coisa Sofia, eu sou ainda mais crescida que tu e está a apetecer-me ir lá fora aos baloiços. Queres ir comigo?”
Fitou-me de frente, com os olhos arregalados de espanto.
“As duas? No baloiço?”
Sorri-lhe como resposta.
“Não!” - Disse peremptória e novamente cabisbaixa. – “Eu ontem ouvi que já sou grande demais...”
“Ouviste? Quem te disse?”
“Não foi a mim... Eu é que ouvi... Afinal já não vou ter uma mãe nova... Já sou muito grande...”
Apeteceu-me sair aos berros com quem o tivesse dito, mas em vez disso forcei um sorriso e tentei confortá-la.
“Pois eu não te acho muito crescida, acho que és uma menina linda e que quando tiveres uma mamã nova, ela será muito feliz contigo, terá muita sorte por te ter!”
“Achas?!”
“Tenho a certeza!”
O seu rosto abriu um sorriso rasgado e os bracitos magros atracaram-se no meu pescoço. Não lhe vi o rosto quando ela me fez a pergunta mais doce que algum dia escutei e eu tomei a decisão que me fez mais feliz.
“Isso quer dizer que gostavas de ser minha mãe?”
(Texto de ficção escrito por: Marta)
Imagem retirada da internet
Criei este blog em resposta aos comentários e emails que fui recebendo cada vez que escrevo sobre adopção no meu O que é o jantar. A ideia é que este seja um espaço de partilha, de troca de experiências, troca de ansiedades, de medos, de alegrias e tristezas. Tenho tentado manter o blog activo, mas está claro que é uma tarefa árdua, por muito que eu queira não consigo ter tema todos os dias.
Bom, eu preciso de ajuda, imagino que muitas das pessoas que cá vem tem histórias para contar, experiências para partilhar, pontos de vista para discutir, que tal partilhar com todos?. Eu passei por um processo de adopção numa altura em que não havia informação em lado nenhum, em que não havia ajuda de ninguém nem ninguém com quem partilhar e discutir, agora as coisas são um bocadinho diferentes, mas não muito, acho que há muito por fazer e muito por melhorar... mas sozinho não vou lá.
Deixo um apelo e um convite a todos para que participem no blog, enviem-me um email para jfreitas.soares@sapo.pt ou deixem um comentário com o vosso email de modo a acertarmos a melhor maneira.
De todo coração, obrigado por passarem por cá e se possível, por participarem
Jorge Soares
imagem retirada da internet
A semana passada recebi um email de alguém que é candidato à adopção, um casal com filhos biológicos que decidiu adoptar. Entre outras coisas havia a confissão de um receio, o receio de não se conseguir gostar da criança que irão adoptar da mesma forma que gostam dos filhos biológicos. Na verdade não é a primeira vez que ouço alguém confessar este medo, é uma questão comum a alguns dos emails que vou recebendo.
Curiosamente, a primeira vez que alguém me falou disso foi ao contrario, no primeiro encontro nacional de adopção que foi organizado em Setúbal, uma mãe adoptiva dizia-me que tinha medo de engravidar e ter um filho biológico, porque ela não sabia se alguma vez poderia amar outro filho tanto como amava aquele filho adoptivo.
Não há uma resposta fácil para estas questões, as pessoas sabem que tenho um filho adoptivo e uma filha biológica e tentam saber o que sinto. É claro que amo os meus dois filhos, são ambos meus filhos, mas gosto dos dois da mesma forma? Não, claro que não, eles são duas crianças completamente diferentes, com comportamentos diferentes, com atitudes diferentes, e nós como humanos gostamos de pessoas diferentes de forma diferente. Amo mais um que outro? Não, mas é claro que tenho mais afinidades com um que com outro. Mas isso não tem nada a ver com um ser adoptado e outro biológico, tem a ver com a minha capacidade de me relacionar mais facilmente com umas pessoas que com outras, e os meus filhos não são excepção.
Curiosamente cá em casa, a minha filha é mais apegada ao pai e o meu filho é mais apegado à mãe, pelo que as coisas estão equilibradas.
Resumindo, este é um receio comum à maioria dos pais adoptivos, um receio que de uma forma ou de outra todos superamos, pois basta ver o sorriso de uma criança, o sorriso dos nossos filhos, para percebermos que não há como não os amar.
Não, não conseguimos medir o amor!
Post publicado originalmente no blog O que é o jantar
Jorge
Cartaz da Associação Indiana para a Promoção da Adopção e do Bem-estar Infantil
Jorge
PS:obrigado Sofia.... não queres escrever algo?
Como estou com mais tempo tenho estado com alguma atenção aos logs do blog, nos últimos dois dias tive algumas dezenas de entradas de leitores que chegaram até aqui desde o google pesquisando por familia de acolhimento ou por adopção. Por norma isto acontece cada vez que algum destes temas está em destaque nos meios de comunicação, esta vez não foi a excepção, além de um programa na RTP sobre centros de acolhimento, encontrei esta noticia.
Imagem de Ná Nunes, retirada de aqui:
http://www.flickr.com/photos/98614529@N00/234528130/
Um casal meu vizinho, com idades aproximadas de 45 anos, têm uma filha de 12 anos, cujo parto não correu muito bem e a mãe ficou impedida de ter mais filhos, mas também nunca se tinham importado muito sobre esse facto, para eles o mais importante é que a filha tinha saúde e era muito amada.
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